segunda-feira, 26 de outubro de 2015
hotel municipal de vila boa: um projeto
Uma discussão que já se desenvolvia na cidade de Goiás, mesmo antes da mudança da capital para Goiânia, era a necessidade de se construir um hotel moderno e confortável para receber o grande número de turistas previsto para tempos futuros de médio prazo.
Em outubro de 1930, a administração municipal entrou em contato com Monsenhor Joaquim Confúcio de Amorim, proprietário de uma residência às margens do rio Vermelho e em frente ao monumento da Cruz do Anhanguera, propondo adquirir o imóvel para, em seu lugar edificar o hotel e um teatro novo para a cidade. O documento datado de 3 de outubro de 1930, que encontra-se disponível para consulta no Arquivo Frei Simão, da cidade de Goiás, solicitava do religioso, certa urgência na resposta, se concordava ou não com a venda do imóvel
A residência pertencente ao Mons. Confúcio, em frente à Cruz do Anhanguera, à esquerda na imagem.
Por falta de maiores informações documentais, não se tem notícia sobre qual foi a resposta do Monsenhor Confúcio – como era conhecido – mas, o que se sabe é que em 1949, portanto dezenove anos depois, o prefeito municipal solicita da Câmara a autorização necessária para desapropriar o imóvel pertencente aos herdeiros de Monsenhor Confúcio e poder, no local, construir um hotel “capaz de estar à altura dos nossos foros de cidade civilizada e centro de atração turística”.
A 20 de outubro do mesmo ano, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara apresenta parecer (n° 104) concedendo a autorização solicitada, sugerindo para tanto a busca de um acordo amigável que caso não aconteça, sejam utilizadas as “vias judiciárias”, já que tal empreendimento, a seu ver, só trará benefícios para a cidade. Em seguida, a 8 de novembro, a Câmara aprova o projeto de lei n° 60, considerando de utilidade pública o referido terreno, autorizando o Executivo Municipal desapropriar o imóvel “mediante indenização, devendo o preço ser ajustado amigavelmente com os proprietários ou judicialmente” conforme a legislação vigente. Convém observar que, desde julho já havia a Câmara autorizado um crédito de trezentos mil cruzeiros para as despesas iniciais com a construção do hotel.
Ao mesmo tempo em que corriam as discussões públicas e judiciais sobre a aquisição do terreno, a população opinava através dos jornais sobre a construção do hotel, pertinência do local escolhido e, principalmente sugerindo local mais apropriado para o empreendimento. O jornal Cidade de Goiás de 23 de janeiro de 1949 reclamava urgência na construção do hotel em decorrência da necessidade da antiga capital em ter hospedagem moderna e confortável não só para turistas em visita à cidade, mas também para vilaboenses residentes fora e viajantes de passagem para o Araguaia. Nessa data ainda não se fala sobre localização.
A 21 de agosto do mesmo ano, o mesmo jornal já questionava em artigo intitulado “onde será construído o hotel municipal?”. Informa que “esse hotel terá também em anexo um grande cinema com aparelhagem moderníssima” e que, para tanto falta somente a escolha do local para sua instalação, coisa que o prefeito anunciava para dentro de poucos dias.
Com o mesmo título, o Cidade de Goiás publicou em 4 de setembro, artigo assinado por Augusto Fleury Curado. Procurando levar o tema ao extremo da definição, tenta analisar todas as possibilidades de locais disponíveis para instalação do hotel, considerando entre outras coisas, o acesso, visibilidade, paisagem oferecida e baixo custo para o poder público. Assim, vai eliminando cada um dos largos, uns por exiguidade de espaço, outros por muito amplos, o que exigiria do poder público grandes investimentos de urbanização e ajardinamentos, concluindo por sugerir a “pequena elevação atraz do antigo prédio da Prefeitura”. Justificando sua escolha, diz Curado que
É certo que a construção ficará um pouco mais cara, mas as compensações são grandes: Goiás é cidade de clima quente. Para um prédio de habitação coletiva seria necessário que fosse escolhido local mais fresco, isolado, elevado, etc, e além disso o hotel no citado lugar dará ao viajante conforto por ser um prédio que poderá ter avarandados ao redor, vista admirável descortinando o rio, a cidade e aos fundos a Serra Dourada, é central, isolado, perto de igrejas, comércio, repartições, Fórum, enfim, satisfaz a necessidade de quem vier a Goiás, a passeio ou a serviço.
A 11 de setembro anunciava-se o adiamento nos trabalhos relativos à construção do hotel, tendo em vista a aquisição por parte da Prefeitura de uma máquina “auto patrol”, necessária à manutenção das estradas municipais, naquele momento, serviço de maior relevância.
Em 7 de outubro de 1951 anunciava o jornal Cidade de Goiás que “Vai ser iniciada a construção do hotel municipal”. Informa como local escolhido o já sabido: o terreno antes pertencente ao Mons. Confúcio, para o que já iniciariam as demolições necessárias. Segundo esse jornal,
Já esteve nessa cidade o projetista que, dentro de poucos dias terminará o projeto e demais estudos para o início da construção. Salvo modificações posteriores, o hotel deverá ter 50 quartos e 10 apartamentos, construídos com todos os requisitos de conforto e higiene. No mesmo prédio funcionará um vasto restaurante, cujo salão poderá ser adaptado para banquetes, solenidades, bailes, etc.
Apesar das informações de início imediato dos trabalhos, podemos ver novo artigo de Fleury Curado, datado de 29 de junho de 1952, em que faz novas análises e nova proposta de local, considerando a área escolhida imprópria para a implantação de equipamento urbano de tal porte. Utiliza como argumentos o custo do terreno e das obras de demolição que onerariam o projeto além de implicar em demora nos resultados; a exiguidade do terreno e de seu entorno, impedindo a implantação de área para estacionamento; a poluição do rio Vermelho e, em certas épocas do ano o excesso de pernilongos próximo às margens do rio. Finalmente, após reforçar a sugestão anterior como a que maior visibilidade daria ao governo municipal, apresenta uma outra: o terreno onde existiu o Cinema Goiano, na Praça Mons. Confúcio, que a seu ver, além de estar situado em espaço amplo, apresenta a possibilidade de duas fachadas, sendo uma para a Praça e outra para a rua das Flores.
Com relação à inclusão de um cinema (substituindo a ideia inicial de um teatro) ao programa do hotel, o prefeito Divino de Oliveira concedeu uma entrevista ao jornal O Popular, de Goiânia, no dia 16 de março de 1944, em que fala sobre a construção do hotel, a inclusão do cinema e assume a paternidade da ideia de localização dos mesmos. Aliás, foi a divulgação sobre a escolha do local que motivou a entrevista realizada pelo jornal da nova capital. Ao ser questionado sobre o hotel, o prefeito explica que
Será de dois pavimentos: um térreo e um superior. No primeiro haverá uma barbearia, um bar, galeria de entrada, refeitório, copa, quartos para o gerente e família, cozinha, dispensa, adega, etc. No superior haverá de 30 a 38 quartos assoalhados a taco, estucados, com água corrente e todo o conforto moderno, salas de estar, um terraço para frente e dois apartamentos de luxo.
Levantou a questão de que o empreendimento não seria de exclusividade da Prefeitura, mas de toda a população interessada em sua execução, criando uma sociedade anônima por cotas da qual participariam todos aqueles que se sentissem motivados para tal.
A questão polêmica da entrevista foi exatamente o item localização. De acordo com o prefeito, a área escolhida, considerada por ela a melhor, eram as ruínas da antiga catedral da cidade, localizada na praça principal da cidade, ao lado do antigo Palácio Conde dos Arcos, para o que espera a compreensão e colaboração do Arcebispo D. Emanoel Gomes de Oliveira. Quanto à construção de um cinema, afirma que “não pleitearia a construção de um cinema sobre os sagrados alicerces de um templo: isso seria um sacrilégio”,
Também não seria interessante fazer-se um hotel sobre um prédio alto de cinema quando dispomos de força elétrica para manter em funcionamento um elevador e ninguém gostaria de hospedar-se num hotel para estar subindo e descendo escadas o dia inteiro.
A não ser pelo lado cômico da situação, é de se acreditar que ninguém tenha levado tal proposta a sério, sendo de estranhar, no entanto, a posição do Procurador Geral do Estado, Colemar Natal que, no mês de dezembro anterior, ao elogiar em artigo de jornal a administração desenvolvida por aquele prefeito, diz que entre os itens que compõem seu “magnífico programa de governo, avulta por certo a da transformação das ruínas da antiga Catedral num hotel moderno, necessidade imperiosa para Goiáz”.
Ruínas sobre as quais queria o prefeito Divino de Oliveira construir o novo hotel
Em julho de 1952 a Prefeitura publicou edital de concorrência pública para a construção do hotel e, no mês seguinte abriu um crédito de dois milhões e quinhentos mil cruzeiros para, além de iniciar as obras do hotel, abrir uma avenida ao longo do rio Vermelho, ligando a rua Moretti Foggia à Couto Magalhães, com as devidas desapropriações relativas aos fundos de quintais das casas da rua 13 de Maio.
Elaborado pelo escritório G. Fonseca e Cia, foi apresentado então o projeto para construção do Hotel Municipal da cidade de Goiás, em um único pavimento e com características neocoloniais, estilo já fora de uso à época e que, a não ser pelo modelo escolhido, nada apresenta que o identifique com o que se encontra hoje construído .
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