sábado, 30 de maio de 2009

flagrantes I

Da mesma forma que as cidades se revelam em seus escondidos cantos, também os flagrantes de observação se oferecem a cada esquina, a cada descuidado cruzamento. O passeio, a manifestação popular na praça, cada vez mais rara, o registro pictórico ou a tempestade que se aproxima. Às vezes até mesmo um elemento muito conhecido pode oferecer outra visão, sendo observado em ângulo e contexto diferente do tradicional. Ainda na cidade de Veneza, algumas situações e ângulos.

o descanso da gaivota

a manifestação contra as atividades de grupos fascistas no país

as gôndolas e o sol do princípio da primavera

a torre de São Marcos em outro ângulo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Leone Ceva e o dèco em Ipameri

Waldemar Leone Ceva no início de sua carreira

Dos vários profissionais residentes em Ipameri, que trabalharam na elaboração de projetos arquitetônicos, o único a desenvolver propostas com características déco foi Waldemar Leone Ceva, que tendo atuado na década de 1920, com vasta produção eclética, chegou às décadas de 1950 e 1960 trabalhando também dentro dos conceitos do modernismo. Dono de uma versatilidade considerável, além de desenvolver seus projetos sempre em consonância com o momento, atuou também na elaboração de projetos de loteamentos, ordenamento urbano, e foi o responsável pelo levantamento cadastral da cidade, produzindo, na década de 1940, o melhor documento urbano da cidade.

planta cadastral da cidade, elaborada na década de 1940

Alguns projetos de Leone Ceva, com as características déco, já aparecem na década de 1930, como os desenvolvidos para as residências de Gustavo Leyzer, e de José Bernardo, ou os edifícios comerciais para José Antônio Mady e para Ana Tomé. São edifícios onde os elementos decorativos com características déco aparecem nas platibandas, de forma escalonada tanto no sentido vertical quanto horizontal, além de frisos sobre portas e janelas.
fachada da residência de Gustavo Leyzer

hotel pertencente a Ana Tomé

Ainda na década de 1930, um dos mais antigos projetos de Leone Ceva é o que foi elaborado como proposta de reforma para a residência de João de Brito, na Rua Padre Pezzutti, em 1936. Sendo o edifício original de características ecléticas, foram respeitadas sua volumetria e aberturas e acrescidos uma platibanda, elementos decorativos em relevo sobre as janelas e um alpendre lateral, com cobertura de laje plana e guarda-corpo vazado. Percebe-se nesse projeto a intenção do autor em promover mudanças no desenvolvimento de seu trabalho, sendo que ainda persistem as influências do que se exercitou durante praticamente uma década e meia.

proposta de reforma para a residência de João de Brito

No que se relaciona aos elementos decorativos próprios do déco, podemos ver esse modelo arquitetônico se organizando, de acordo com Margenat (1994, p.18), segundo três vertentes, em que em um primeiro momento temos o padrão construtivo vinculado à tradição histórica, utilizando elementos figurativos tradicionais; uma segunda corrente, em que predominam os elementos mais geométricos ou abstratos e uma terceira, em que predominam desenhos com linhas mais aerodinâmicas que buscam, de certa forma, um vínculo com a velocidade, que nesse momento da história representa todo um contexto de modernidade e visão futurista.
No caso da produção arquitetônica desenvolvida na cidade de Ipameri, com as características já mencionadas, vai ser a segunda dessas vertentes a que melhor ilustrará as edificações ali encontradas. Não são vistos nessa cidade edifícios déco que utilizem em sua decoração nem os elementos figurativos tradicionais nem as linhas aerodinâmicas, sendo que com tendência mais movimentada, só será visto um dos projetos participantes do concurso para a sede da Prefeitura Municipal e Fórum, da década de 1930. No restante são, no mais das vezes, linhas geométricas, retas, com ângulos acentuados e relevos que podem tanto se apresentar na decoração de portas e janelas quanto nas platibandas.

elementos decorativos na fachada do edifício pertencente a José Bernardino

Bem característico da arquitetura ipamerina é o uso de elemento decorativo funcionando como fiel de balança, marcando o eixo de simetria do edifício, que aparece sempre na forma de um escudo estilizado elaborado em ranhuras ou como um elemento vertical escalonado que, mesmo aparecendo de forma repetida – sempre com número ímpar – o volume colocado no centro da composição terá um destaque maior que os demais. Quando tais elementos são colocados em número par, sua função deixa de ser a de marcar o eixo e passa a dar apoio a outro qualquer elemento – porta principal, balcão, volume de marquise, etc – que se destaca como marcador do eixo de simetria.
Também no que se relaciona à pintura e ao acabamento de uma forma geral, a produção arquitetônica da cidade de Ipameri não fica a dever, bastando observar a quantidade de edifícios que apresentam, ainda hoje, resquícios da pintura em pó-de-pedra, característica daquele período. No caso específico desse processo de pintura, a própria areia encontrada no município e utilizada para tal fim, apresenta uma quantidade considerável de malacacheta, o que proporciona ao resultado final um brilho maior do que aquele normalmente encontrado nas pinturas do período. Grande foi também a produção de ladrilhos hidráulicos empregados nessas edificações, destacando-se os da Fundição Goiás e os do salão de espera do aeroporto de Ipameri.
obs: as imagens utilizadas nesse blog sobre a cidade de Ipameri, pertencem ao Instituto Simão Edreira, daquela cidade.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vila Boa nos jornais VI

O jornal A Imprensa, do dia 10 de janeiro de 1914, publicou a segunte nota:

EDITAES

De ordem do Sr. Chefe do Districto Telegraphico de Goyaz, faço publico para conhecimento dos interessados que se acha aberta no escriptorio do Districto, das 10 horas da manhã ás trez da tarde, a partir de 1 a 31 do corrente mez, a inscripção de candidatos para o concurso ao logar de praticante de telegraphista, a realizar-se no mez de Fevereiro, de accordo com as instrucções regulamentares.
As provas que serão apenas escriptas, constarão das seguintes materias:
Portuguez, Francez, Inglez ou Alemão á escolha do candidato, Geographia e Corographia do Brazil.
Os candidatos deverão apresentar os seus requerimentos dirigidos ao Sr. Chefe do Districto, escriptos de proprio punho, em boa caligraphia e acompanhados dos seguintes documentos:
a – qualidade de cidadão brasileiro;
b – idade maior de 18 e menor de 40 annos;
c – attestado de boa conducta, firmado por autoridade policial ou por douas pessoas idoneas;
d – capacidade phisica, attestada por dous facultativos que devem declarar não soffrer o candidato de molestia infacto-contagiosa.
Todos esses documentos devem Ter as firmas reconhecidas pelo notario publico local. Os candidatos poderão inda juntar quaesquer outros documentos que comprovem suas habilitações e serviços, os quaes serão tomados em consideração para a classificação, nos termos do art. 357 do Regulamento em vigor.
Não será admitido á inscripção o candidato que deixar de instruir a sua petição com os documentos acima citados e nem tão pouco se acceitarão reclamações, depois de findo o prazo marcado neste edital.
Escriptorio do Districto Telegraphico de Goyaz em 1 de janeiro de 1914.

terça-feira, 26 de maio de 2009

perdemos Mario Benedetti

Morreu no último dia 17, em Montevidéu, aos 88 anos de idade, Mario Benedetti, um dos maiores escritores uruguaios do século XX. Autor de mais de 80 livros, entre romances, contos, ensaios e poesia (considerava-se mais poeta do que qualquer outra coisa), Benedetti recebeu entre outros, os prêmios literários José Martí, em 2001, e Menéndez Pelayo, em 2005.
Profundamente comprometido com as questões sociais que marcaram seu país em especial, e a América Latina como um todo, Mario Benedetti foi perseguido e esteve por longo tempo vivendo no exílio em países como Argentina, Peru, Cuba e Espanha.
Entre seus livros traduzidos no Brasil, podem ser vistos: Gracias por el fuego, A trégua (seu mais famoso romance), Correio do tempo, e, mais recentemente, Primavera num espelho partido, que trata exatamente das questões que envolvem presos políticos e exilados uruguaios no decorrer da década de 1970, período de seu maior exílio, onde ele próprio aparece como personagem relatando suas experiências como exilado.
capa do livro Primavera num espelho partido, publicado pela Objetiva, 2009.

EL MAR VIENE DEL MAR

muere naciendo
simulacro de dios
baba del cielo

viene del mar el mar
mar de si mismo
desierto sin memória
y sin olvido

el mar se lleva el mar
pero em la noche
lãs resacas no vuelven
al horizonte

as fotos de Mario Benedetti foram retiradas da internet. a primeira não está assinada, e a segunda é afp - miguel rojo

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Vila Boa pra quem não conhece

A cidade de Goiás, antiga Vila Boa, fundada no século XVIII com o objetivo de ser a capital das minas dos Goyazes, apresenta ainda hoje um considerável acervo arquitetônico e artístico de forte conotação portuguesa. Capital por cerca de duzentos anos, somente na década de 1930 é que perdeu o status administrativo para Goiânia, cidade fundada durante a ditadura do Estado Novo, dentro dos conceitos de modernidade e desenvolvimento, defendidos por aquele governo.
Atualmente reconhecida como Patrimônio da Humanidade, Vila Boa preserva em seu centro histórico, além do traçado original, um conjunto de edifícios residenciais, oficiais e religiosos em que as principais características da arquitetura colonial se apresentam praticamente intactas.

Museu das Bandeiras, antiga Casa de Câmara e Cadeia

Centro de Educação Profissionalizante, antigo quartel militar

Chafariz da Boa Morte, no largo do mesmo nome (também conhecido como largo da Cadeia)

Igreja de São Francisco de Paula, a mais antiga da cidade

Conjunto de casas em uma rua da cidade

Casa onde viveu a escritora Cora Coralina, referência cultural de Vila Boa
Edifício residencial nos limites do centro histórico

É nesta cidade que está nossa casa abalcoada, que como os demais edifícios da cidade, utiliza em sua edificação as técnicas e os materiais construtivos próprios do período colonial, como a estrutura de madeira, o adobe, o pau-a-pique, a telha capa-e-bica e o piso de mezanela. Mais informações e fotografias sobre Vila Boa, virão no devido tempo...

domingo, 24 de maio de 2009

mais fotos antigas

Mais algumas fotografias da Estrada de Ferro Goiás são aqui apresentadas. Desta vez temos mais uma foto da estação de Catalão, de 1926, com a população reunida para recepcionar um político de destaque em visita à cidade. Aqui é interessante observar a utilização de cobertura de ardósia no corpo principal do edifício e telha de metal corrugado cobrindo a plataforma. A seguir, a estação de Leopoldo de Bulhões, sem data, e sem qualquer modificação em relação ao que pode ser visto ainda hoje. Por último, temos a estação de Pires do Rio, de 1924, dois anos após sua construção e início do pequeno núcleo surgido em torno desse edifício ferroviário.
Convém lembrar que a partir de 1986 a ferrovia em Goiás passou a ser utilizada somente para transporte de carga e que, com isso, grande número de estações foi demolido. Em 2005, a AGEPEL (Agencia de Cultura do Estado) possuía um processo completo para tombamento, visando transformar os edifícios restantes em patrimônio cultural, sendo que, até o presente momento, esse tombamento ainda não foi efetivado. O que é uma pena...


Estação de Catalão: hoje é sede do museu da cidade e patrimônio histórico municipal


Estação de Leopoldo de Bulhões: edifício inalterado e em uso como depósito para carga

Estação de Pires do Rio: também em uso para controle de tráfego

sexta-feira, 22 de maio de 2009

poesia de qualidade


Acaba de sair pela Editora L&PM, de Porto Alegre, nesse ano de 2009, a segunda edição dos poemas (Antologia Poética) de ANNA AKHMÁTOVA (1889-1966) em tradução de Lauro Machado Coelho. A primeira edição, pela mesma editora, está datada de 1991.
Uma das maiores escritoras russas do século XX, Akhmátova foi perseguida e proibida de publicar seus poemas na Rússia Stalinista, sendo considerada pelos críticos ortodoxos da época como a representante de um momento da história a ser superado. Apesar de tudo o que sofreu ao longo de sua vida (a morte do marido e a prisão do filho), jamais aceitou os convites de amigos para sair do país em que nasceu. Era ali, mesmo perseguida e proibida de publicar seus poemas, que admitia passar sua vida, no mais das vezes, brigando em defesa de amigos escritores presos e perseguidos, como ela própria.
Um de seus poemas (Lendo Hamlet) já haviam aparecido em 1967, na antologia POESIA RUSSA MODERNA ( Brasiliense), organizada por Boris Schinaiderman, em parceria com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Outros dois poemas seus foram incorporados à quarta edição dessa antologia, já em 1985.
Espera-se agora pela publicação de suas obras completas, como já aconteceu em vários outros paises do ocidente, tanto da Europa quanto da América, inclusive em países de língua hispânica. De 1940 é o poema aqui selecionado:

ESTROFES

Lua de Sagitário. Além dos Moskvá. Noite.
Como uma procissão vão-se embora as horas da
[Semana Santa.
Tive um sonho horrível. Será possível
Que ninguém, ninguém, ninguém possa ajudar-me?

É melhor não viver no Kremlin – os Preobajênski é que
[tinham razão –
os micróbios da antiga loucura ainda infestam o lugar:
o medo selvagem de Boris e todo o rancor de Ivan
e a arrogância do Impostor – em vez dos direitos do povo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

cantos revelados I

O passeio por uma cidade desconhecida permite a percepção e o descobrimento de determinados cantos, que no mais das vezes passam despercebidos ao morador habituado à paisagem.
Pátios, largos, becos, caminhos e portadas podem revelar ângulos interessantes das cidades, muitas vezes escondidos a um olhar menos atento ou mesmo visto de forma diferente por diferentes observadores. Alguns cantos de Veneza...
portada aberta para o canalpoço protegido em um pátio com arcada

capela entalada em um pequeno largo


pequeno largo com livraria

e ainda tem mais... muito mais.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ferrara: a modernização renascentista

Das cidades medievais italianas que passaram por transformações modernizantes, decorrentes de projetos pré-elaborados no decorrer dos séculos XV e XVI, Ferrara é a que se apresenta como o exemplo mais representativo e característico. Capital do território comandado pela família d’Este, a cidade passa por uma intervenção considerável, por volta de 1451, sob a administração do Conde Borso d’Este, com obras de saneamento, drenagens e alinhamento do canal, sobre o qual construiu uma via que, em certa medida, passa a orientar a nova ordenação urbana, com a criação de quarteirões, e a ampliação do espaço urbano, com a implantação de um novo perímetro de muralha.
Catedral de Ferrara: edifício do período medieval

No final do século, novas reformas são efetivadas, com a expansão do centro urbano, construção de novas vias, mais largas e retilíneas, onde se estabelecem as principais residências nobres, ordenação das novas áreas a serem ocupadas, construções de uma nova muralha mais apropriada aos novos tempos e a construção de uma grande praça – a Praça Nova, atual Praça Ariostea – para onde deveria se transferir o centro cívico em oposição ao antigo, situado no centro da cidade velha.

Praça Ariostea, implantada com as transformações feitas por Ercole I d'Este

São definidos no novo espaço, dois importantes eixos que se cruzam de forma perpendicular, onde são construídos dois imponentes edifícios: o Palácio dos Diamantes e o Palácio Turchi-di-Bagno.

Detalhe do Palácio dos Diamantes, no cruzamento dos principais eixos da nova ampliação.
Palácio Turchi-di-Bagno, em frente ao Palácio dos Diamantes.

Com tais reformas, Ferrara passa a ser vista como um centro urbano que expressa um grau de modernidade sem comparação em toda a Europa, influenciando praticamente todos os projetos desenvolvidos para as principais cidades italianas, como Roma, Milão, Florença e Gênova.
Convém observar que, ao longo dos séculos em que esteve no comando da cidade de Ferrara, a família d’Este teve sempre a preocupação de promover não só melhorias urbanas, mas também cercar-se do que existia de mais refinado na cultura da época, hospedando artistas, poetas, escritores e teatrólogos, entre eles, Ariosto (Orlando Furioso), Tasso (Jerusalém Libertada), Piero della Francesa e Roger van der Weyden, entre outros. De acordo com Marco Folin, também Leon Battista Alberti esteve em Ferrara a convite do Conde d’Este, tendo executado aí seus primeiros projetos, como a estátua eqüestre de Nicolo III d’Este e a torre da catedral.

Estatua eqüestre de Nicolo III d'Este sobre arco, atribuida a Leon Battista Alberti

Torre da Catedral, atribuida a Leon Battista Alberti.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vila Boa nos jornais V

O jornal A Imprensa, de 30 de maio de 1914, publicou o seguinte artigo:

CINEMA LUSO-BRAZILEIRO

No principio do mez proximo, esta elegante casa de diversões, exibirá a importante pelicula colorida IN HOC SIGNO VINCES (Com este signal vencerás) da grandiosa e artistica fabrica "Savoia" de Torino.
A fita está dividida em 7 longas partes com 1198 quadros e representa um grandioso drama histórico passado 300 annos apóz Jesus Christo, reproduzindo os episodios gloriosos da epocha de Constantino.
Entram em scena mais de 3.000 personagens.
Os episodios commoventes e lancinantes que se focalisam na tela no decorrer da fita, mostrando as lutas que se deram entre o Christianismo e o paganismo prendem a attenção dos espectadores levando o seu enthusiasmo num continuo crescendo até chegar ao paroxismo.
Entre os quadros que mais relevo tem, destacaremos:
o martyrio dos christãos no circo;
a cruz de Christo apparecendo luminosa no azul celeste do céo;
a meiga face de Jesus brilhando entre as trevas e apontando para o "in hoc signo vinces",
o exercito de Constantino pondo em fuga o de Maxencio ou a vitoria dos christãos.
Estamos certos que toda a população acorrerá ao cinema Luso-Brazileiro para ver esta deslumbrante fita que causou sensação nas Capitaes onde foi exibida.
Além disso não é de genero livre como algumas que por aí se tem exibido.
Podemos adeantar mais, que se o publico secundar os esforços do proprietário do Luso-Brazileiro, Cel. Joaquim Guedes, em breve teremos todas as semanas um grandioso film de arte de 7 e 8 partes.
Sendo um pouco indiscretos, podemos desde já annunciar, que em seguida ao In Hoc Signo Vinces, o generoso povo goyano apreciará a afamada film "Quo Vadis?".
Todos pois ao cinema Luso-Brazileiro.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

novas fotos antigas

Após o anúncio e apresentação de uma foto que recebemos, retratando uma tropa de burros estacionada no Largo do Coreto, da cidade de Goiás, outras imagens nos foram enviadas, desta vez documentando algumas estações da estrada de ferro, a antiga Estrada de Ferro Goiás. Alguns desses edifícios já desapareceram, outros ainda podem ser vistos, mas bastante descaracterizados, e ainda outros se apresentando na foto com as mesmas feições como se encontram ainda hoje, apenas inseridas em um contexto diferente, onde a alteração está no entorno e não no edifício.

foto da inauguração da primeira estação da cidade de Ipameri (1913), já demolida.

estação de Engenheiro Balduíno (antiga Tapiocanga), também já desaparecida.

estação de Catalão, que já foi radicalmente modificada, apresentando hoje fachadas com elementos da arquitetura art dèco.

Agradecemos as doações e contamos com o envio de novas fotos que possam, como essas já apresentadas, registrar não só a história de Vila Boa, mas de todo o estado de Goiás.

domingo, 10 de maio de 2009

Ainda José Amaral Neddermeyer

José Amaral Neddermeyer, professor na Universidade Mackenzie em 1923 (terceiro da esquerda para a direita, em pé)

Falando ainda sobre José Amaral Neddermeyer, no período em que esse arquiteto desenvolveu trabalhos no Rio de Janeiro, um de seus projetos de maior destaque, foi a Escola Municipal Soares Pereira (1926), na Av. Maracanã, registrada no GUIA DA ARQUITETURA ECLÉTICA NO RIO DE JANEIRO (2000, p. 79), com a informação de que

Com uma planta em “V” definindo o tradicional pátio portificado, tão comum em programas escolares, esta discreta construção, em estilo neocolonial luso-brasileiro, apresenta especial interesse no pequeno acesso avarandado, valorizado por seis colunas toscanas lisas de granito e frontão ondulado.

Escola Municipal Soares Pereira: acesso principal, voltado para a esquina

Escola Municipal Soares Pereira: fachada lateral


Ainda nessa cidade, pode ser vista a proposta de reforma da fachada da Igreja Matriz da Gávea, de característica originalmente neoclássica, com duas torres, que recebeu elementos barrocos na portada, no frontão e nos detalhes da murada de proteção à escadaria de acesso, além da eliminação de uma das torres.


Igreja Matriz da Gávea: fachada proposta

Igreja Matriz da Gávea: detalhes do muro e banco, no atrio de entrada


Em 1936, Neddermeyer transfere residência para Goiânia, objetivando trabalhar como responsável pelas obras da Construtora Lar Nacional, sendo que, no ano seguinte já fazia parte da equipe da Seção de Arquitetura da Superintendência Geral de Obras, atuando diretamente na construção da nova capital.

sede da Sociedade Goiana de Pecuária, edifício já demolido, na Av. Goiás


Além dos projetos de caráter oficial e institucional desenvolvidos para o governo do estado, elaborou uma série de outros, principalmente para o setor Campinas, aparecendo aí edifícios residenciais, comerciais e mesmo projetos de reformas, visando dar uma aparência moderna a antigas edificações existentes naquele bairro. Com um caráter eminentemente popular, esses projetos desenvolvem-se com estrema simplicidade, desde a organização interna, até a composição da fachada e mesmo na forma resumida com que as informações construtivas são apresentadas.
Podem ainda ser encontrados projetos seus em outras cidades do interior, como a escola proposta para Ipameri ou mesmo, de acordo com os relatórios apresentados por Geraldo Teixeira Álvares (1942: 121), para Anápolis (agência dos Correios e Telégrafos), Corumbaíba (edifício público) e São João (reforma do Hotel São João), entre outras.
Em Goiânia foi projetada por ele – ou sob sua responsabilidade –, dentro da Seção de Arquitetura, no ano de 1937, uma série de edifícios entre os quais se destacam os do Colégio Santo Agostinho, Hospital São Lucas, um pavilhão para a Santa Casa, Quartel Federal, Serviço de Recrutamento da Região Militar.
Dos projetos elaborados para o Setor Campinas, podemos citar:
A proposta de reforma para a fachada de um edifício comercial de propriedade do Sr. Abrão Abdalla Helou (1936), onde aparece uma série de elementos decorativos próprios do art déco que, mesmo com a presença de marcações verticais e uso de escalonamentos na platibanda, é predominante a horizontalidade da edificação.

projeto para a fachada do edifício comercial de Abrão Abdalla Helou no Setor Campinas


No projeto desenvolvido para o Sr. Hermínio Leal de Albuquerque (1936) predomina a verticalidade não só na volumetria do edifício, como também em praticamente todos os elementos decorativos e nas portas estreitas propostas. Trata-se de um edifício comercial de extrema simplicidade, possuindo planta dividida em apenas duas salas, sendo uma destinada ao comércio e a outra, provavelmente para depósito.

projeto comercial para Hermínio Leal de Albuquerque, no Setor Campinas

Um terceiro projeto a ser destacado seria aquele elaborado para o Sr. José Augusto de Lima (1936), associando compartimentos para comércio e residência, na esquina das ruas São Paulo e Ipameri. De extrema simplicidade apresenta os elementos déco em uma singela decoração definida apenas na platibanda e nos elementos de marcação da estrutura.

projeto para José Augusto de Lima (comercial e residencial) no Setor Campinas

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Palma Nova: cidade ideal do Renascimento

Dos vários planos desenvolvidos com base no conceito de cidade ideal, no Renascimento, somente Palma Nova (1593) chegou, de fato, a ser executada. Sua função original era a de ser uma das fortificações avançadas do cinturão de defesa de Veneza.
Tendo seu plano atribuído a Vicenzo Scamozi, Palma Nova apresenta como formato um polígono de nove lados, com traçado regular, tendo suas principais ruas partindo de uma grande praça central, hexagonal em direção a pontos determinados junto às muralhas, sendo três delas a continuação das vias de acesso. Essa configuração resulta, segundo Morris (1992, p. 192), em um modelo harmonioso graças a uma complexa disposição de ruas radiais, três anéis concêntricos, doze ruas radiais adicionais e de seis pequenas praças secundárias situadas no interior das quadras.
Palma Nova conseguiu chegar até os dias atuais conservando seu traçado original, seu contorno fortificado e seus principais edifícios, sem que tais elementos tenham sido descaracterizados por desenvolvimentos posteriores.

uma das portas da cidade
Praça principal de Palma Nova, com os principais edifícios públicos

Igreja Matriz de Palma Nova, na praça principal da cidade
detalhe decorativo na porta de uma residência em Palma Nova, reproduzindo a planta da cidade e as estradas de acesso, que passam pelas três portas.
O texto completo sobre esse assunto pode ser visto no livro SIMBOLISMO E EXPRESSÃO, organizado por Gustavo Neiva Coelho e Milena d'Ayala Valva, Editora Vieira, 2013.