sexta-feira, 31 de julho de 2009

mais projetos de Catalão


Do conjunto de projetos arquitetônicos arquivados no Centro Cultural Maria das Dores de Campos, da cidade de Catalão, é possível perceber a coexistência de modelos representativos de vários períodos do desenvolvimento da arquitetura brasileira.
Alguns desses projetos já elaborados com o objetivo de mostrar a arquitetura de chalé, de uso corrente nas décadas iniciais do século XX, dentro ainda do conjunto de estilos que conformam o ecletismo. Utilizando no telhado a telha francesa, que requer um ponto mais alto, e uma multiplicidade de recortes esses edifícios apresentam um movimento especial em sua cobertura, quando se observa o edifício de vários ângulos diferentes.


Aparecem também alguns projetos onde esses elementos ecléticos se apresentam já associados a outros mais vinculados ao modernismo, como o alpendre coberto com laje plana de concreto.


E, acompanhando a evolução natural da arquitetura da época, alguns projetos são elaborados utilizando vários elementos do modernismo, como grandes aberturas, telhado de fibro-cimento com calha central, protegido visualmente por uma platibanda em linhas retas e inclinadas. Aparece também, nesse modelo, como parte do programa, o abrigo para auto.



É possível perceber também, ao se observar as plantas desse ultimo modelo, que, se houve uma modernização no que se relaciona ao desenho das fachadas e escolha de materiais, o mesmo não acontece com as plantas que continuam se organizando dentro de uma distribuição própria do modelo anterior. Todos os projetos aqui apresentados, indicam a existência de fogão a lenha, e quando esse elemento não aparece indicado no desenho da cozinha principal, aparece em uma outra, secundária, em edifício anexo.



É possível perceber, na evolução da arquitetura desenvolvida na cidade de Catalão, que, se no decorrer das décadas de 1920, 1930 e 1940, houve um significativo avanço, e mesmo uma ousadia com o uso do neocolonial e com o art déco, o mesmo não acontece com o modernismo, que aparece na cidade de forma tímida e sem a ousadia vista anteriormente.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

povoados documentados


Três pequenos núcleos faziam parte do município de Ipameri, no decorrer da década de 1930, época de grande desenvolvimento econômico daquela cidade, em decorrência da industrialização ocorrida com o incentivo da ferrovia.
No ano de 1938, esses três núcleos foram levantados e desenhados, apresentando a demarcação dos seus limites, arruamento e indicação do espaço edificado.

O primeiro desses levantamentos, documentando o distrito de Urutai, surgido a partir da construção de uma estação da Estrada de Ferro Goiás, apresenta, como as demais, planta em tabuleiro, com ruas retas, formando quadras regulares e uma ampla praça central, onde se encontra edificada a igreja local. A estação ferroviária e o leito da ferrovia aparecem também com destaque.

O segundo distrito documentado é a Vila de Campo Alegre, bem menor do que Urutai, mas também com desenho regular, apresenta indicação das estradas de rodagem para Catalão e para Formosa, além da direção e distância em relação ao porto do Pacheco, local de travessia regular no rio São Marcos, em direção a Minas Gerais.


O terceiro desenho representa a Vila do Cavalheiro, próximo ao rio Corumbá, onde existiu um porto de travessia com o mesmo nome desse distrito. Nesse levantamento é apresentada uma indicação da estrada de ligação entre as cidades de Ipameri e Formosa, mostrando a variante que, atravessando a vila, vai em direção ao porto, localizado a quatro quilômetros e meio do núcleo.
Tanto Campo Alegre quanto Cavalheiro demonstram certa cortesia ao nomear os demais núcleos em suas ruas. Em Campo Alegre aparecem as ruas Cavalheiro, Urutai e Ipameri. Em Cavalheiro, as homenagens se apresentam com as ruas Ipameri, Campo Alegre, Urutai, Formosa e Corumbá, por sinal, esta última, a saída em direção ao porto do Cavalheiro, na travessia do rio Corumbá.
Urutai e Campo Alegre conseguiram, no decorrer do século XX, um desenvolvimento tal que hoje são cidades sedes de municípios. Cavalheiro, ao contrário, pelo seu isolamento e pelo desaparecimento do seu porto como opção de travessia do Corumbá, mantém-se como distrito chegando mesmo a quase desaparecer.
Esses trabalhos, realizados por Frederico Schmaltz Junior fazem parte do acervo do Instituto Simão Edreira, da cidade de Ipameri.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

patrimônio histórico IV


Coreto em Ipameri


Fundada nas décadas iniciais do século XIX, a cidade de Ipameri, antiga Vaivém ou Entre Rios, teve sua economia sempre baseada na atividade agropecuária, não só de produção, mas também de processamento, com grande número de charqueadas e curtumes implantados em seu município, mantendo até mesmo uma certa tradição de exportação dos produtos ali elaborados.
Recebeu grande impulso com a implantação dos trilhos da estrada de ferro, sendo a cidade que mais se desenvolveu com a chegada da ferrovia ao estado de Goiás.
Ipameri foi, nas primeiras décadas do século XX, um dos principais pólos econômicos e culturais do estado, com vários jornais, dois cinemas funcionando simultaneamente, além de bibliotecas e grupos de promoção cultural.

construído na década de 1920, o atual coreto de Ipameri substituiu um outro mais antigo e de menores dimensões

Erguido no centro da principal praça da cidade de Ipameri, próximo ao cinema e a outros edifícios de igual importância, o coreto foi construído seguindo as características do modelo eclético de arquitetura que se propagou pelo interior do estado de Goiás nas primeiras décadas do século XX.

vista aérea mostrando o coreto no centro da praça, tendo em seu entorno o cinema, agências bancárias e comerciais

Elemento indispensável em toda praça de cidade do interior, o coreto se apresenta geralmente em dois pavimentos: no pavimento inferior é instalado, na maioria das vezes, um bar ou mesmo sanitários públicos; a parte superior, toda aberta, é utilizada unicamente para apresentações de bandas ou mesmo corais.

solenidade pública no coreto em 1939

Esse tipo de construção foi, durante as décadas finais do século XIX e a primeira metade do XX, um dos principais pontos de convergência das atividades culturais das cidades do interior em todo o país, chegando, em algumas localidades, a haver disputas entre bandas e corais, para se apresentarem ao público naquele que era o mais popular dos espaços públicos de divulgação cultural das cidades.
O coreto de Ipameri, construído em alvenaria e concreto, apresenta uma planta hexagonal e um requintado conjunto de elementos decorativos em alto e baixo relevo, que o qualificam como um dos mais bem-elaborados do estado. Apresenta como cobertura, uma laje plana, em oposição aos modelos encontrados anteriormente, construídos em metal ou madeira, com reproduções de cúpulas, ou a imitação de quiosques europeus, que não deixam também de ter sua graça e relevância.

porta de acesso à parte superior, apresenta grade com desenho art nouveau e a data 1923

Com o desaparecimento das bandas e corais populares como atividade de interesse de divulgação cultural, os coretos perderam seu sentido de originalidade. Em alguns locais são utilizados para outros fins, como bar ou mesmo como mirante; em outros são simplesmente demolidos para dar lugar a novos tipos de aproveitamento do espaço.
Em Ipameri, o coreto é utilizado atualmente apenas em sua parte inferior, onde foram instalados sanitários para uso público; a parte superior é ocupada como depósito de equipamentos da prefeitura, para a manutenção da praça. A proteção desse monumento é feita

na esfera municipal:
pela Lei 516, de 10 de dezembro de 1991

terça-feira, 28 de julho de 2009

Vila Boa nos jornais XIII (o dia seguinte)

O jornal Província de Goyaz, do dia 04 de novembro de 1870, deu continuidade ao assunto, com a seguinte notícia:

NOTÍCIAS DE GOYAZ

O caixeirinho, victima do desastre havido no armazem do Sr. Antonio Gomes de Oliveira, do qual demos noticia na folha passada, recobrou o uso da rasão, e felizmente dizem que esta fora de perigo.
Segundo o que elle diz, o motivo do desastre foi o seguinte: as moscas o importunavam muito, e para ver-se livre d’ellas (travessura!) ia-as apanhando ás porções, e prendia-as na torneira da pipa; quando a torneira enchia-se, e não dava mais quartel a novo enxame de moscas, elle accendia uns phosphoros, e os approximava á boca da torneira, mattando as moscas por asphixia, por meio da fumaça do enxofre. Já tinha feito esta travessura por duas vezes, com muito bom resultado para seus fins; na terceira, porem, o fogo do phosphoro contaminou-se á aguardente da pipa, e deu-se a explosão, de que o tal matta-moscas ia sendo victima.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Vila Boa nos jornais XII

O jornal Província de Goyaz, de 28 de outubro de 1870, publicou a seguinte notícia:


NOTÍCIAS DE GOYAZ


No dia 21, sabado, das 3 para as 4 horas da tarde, deu-se um terrivel desastre no armazem de molhados do Sr. Antonio Gomes de Oliveira, á rua do Commercio.
Uma pipa d’aguardente fez explosão com tal violencia, que os estilhaços furarão o tecto da casa. O cacheiro do armazem, menino que terá uns treze ou quatorze annos, ficou todo queimado; um aro da pipa, arremessado pela explosão, cortou-lhe o beiço superior, quebrando-lhe toda a dentadura; alem d’isto, e de varias feridas graves no pescoço e na cabeça, o infeliz menino perdeo o uso da rasão.
Não se sabe ainda como o facto se deo; depois de passado o desastre, achou-se aberta a torneira que foi da pipa; e no lugar em que esta tinha estado achou-se, no chão, uma caixa de phosphoros. O cacheiro não está em condições de poder explicar o acontecido.

domingo, 26 de julho de 2009

pra quem de direito


pela ponte
passa a água
passa o tempo
e passa a memória
em secular preguiça

na varanda
seu corpo sobre o meu
inaugura
sob um raio novo de luar
novas memórias
que meus beijos
jamais conseguirão esquecer.

momentos – Gustavo Neiva Coelho
ilustração – Lissitzki (para o poema-anel Liubliu, de Maiakovski para Lilia Brik)

Leon Bakst e a cenografia déco

Nascido na Rússia, em 1866, Leon Bakst estudou na Academia de Arte de São Petersburgo, concluindo, no entanto seu aprendizado em Paris.
Foi, nos anos finais do século XIX e décadas iniciais do século XX, uma das maiores expressões no que se refere à cenografia de teatro, tendo trabalhado com Serguei Diaguilev e Aleksandr Benois, no grupo Mondo Dell’Art, fundado e dirigido pelos três, em São Petersburgo, em 1898. Foi professor de desenho, tendo lecionado, ainda na Rússia, para Marc Chagall.

com o título de "vestimenta moderna", esse trabalho datado de 1910, mostra claramente a passagem do Art Nouveau para o Art Déco, na obra de Bakst.

de 1911 é a bacante, para a encenação de Narciso, de Cerepnin, onde o déco aparece já com mais evidência.

desenhado especialmente para Nijinski, em 1911, para o balé La Peri, de Paul Dukas.

Desenhou cenários para a Ópera de Paris e para o Balé Russo, tendo trabalhado com Nijinsk e Ana Pavlova e preparado vestuário para peças de Stravinsk, Debussy e Rimski-Korsakov.
Seu trabalho, inicialmente desenvolvido dentro dos conceitos artísticos do Art Nouveau, migrou, com calma e competência para o Art Déco, sem traumas, sendo talvez a melhor demonstração de como a arte evoluiu em um processo natural na passagem do século, criando o espaço e as condições para tudo o que se produziu de moderno no período de entre-guerras.

do início da década de 1920, "Chapeau de Marthe Callot" para a revista Bon Ton, já com as características do Art Déco bem definidas.


Leon Bakst faleceu em 1924, sendo ainda hoje uma referencia mundial para a cenografia e para a produção déco.

Obs.: as imagens utilizadas são do livro Art Déco, de Camilla de la Bedoyere (Logos, 2006).

sábado, 25 de julho de 2009

um ofício setecentista


Luis da Cunha Menezes, governador de Goiás no período de 1778 a 1783, foi o terceiro administrador da Capitania, no período conhecido como “pombalino”, e o que mais cuidou do embelezamento da capital Vila Boa. Em sua administração foi construída a Aldeia Maria I – da qual falaremos em outra oportunidade – e foi elaborado um plano de desenvolvimento para a capital, seguido de um código de posturas. Foi providenciado também o levantamento topográfico e ocupacional da cidade, com o objetivo de direcionar as áreas de crescimento e futura ocupação, assim como a implantação de amplos passeios arborizados. O mapa resultante desse levantamento é um dos melhores trabalhos do gênero feitos para a capitania de Goiás, no século XVIII.

O documento aqui transcrito é o ofício com que o referido mapa é encaminhado ao secretário de estado da Marinha e Ultramar (Martinho de Melo e Castro), em 1784, quando Cunha Menezes já se encontrava na capital das Minas Gerais, para onde foi transferido ao sair do governo goiano.
Tanto o ofício quanto o mapa de Vila Boa se encontram no Arquivo Ultramarino, em Lisboa. Cópias dos mesmos podem ser encontradas no IPEHBC – Instituto de Pesquisa e Estudos Históricos do Brasil Central – em Goiânia.
Esse mapa, levantado pelo soldado dragão Manoel Ribeiro de Guimarães, será motivo de análise no próximo marcador Iconografia Vilaboense.


Tenho a honra de aprezentar
a V. Exª na carta Topográfica de Villa Boa ca
pital da Capitania de Goyas, o estado em que fi
cou aquella mesma capital quando della pa
sei para esta Villa Rica.
Deos guarde a V. Exª Villa
Rica 5 de junho de 1784
Ilmo Exmo Sor Martinho de Mello e Castro

Luis da Cunha Menezes

sexta-feira, 24 de julho de 2009

registros goianienses


Entre as fotos antigas, encontradas em arquivos goianienses, é possível perceber registros que mostram uma outra face da cidade. A cidade que não existe mais, que foi demolida para dar lugar ao centro atual.

A Santa Casa, ainda em construção, (foto de 1940) demolida posteriormente para dar lugar ao Centro de Convenções,


a antiga sede do Automóvel Clube (foto de 1938), cujo projeto é atribuído a Attilio Correia Lima, substituído por outro, elaborado por Paulo Mendes da Rocha, já com o nome de Jóquei Clube,

a sede da Sociedade Goiana de Pecuária, projeto do arquiteto José Amaral Neddermeyer, e residências, em várias ruas do centro (15 e 19), demolidas para, em seus terrenos se estabelecerem estacionamentos pagos para automóveis.


Nesse caso, os registros foram feitos pelas lentes do Foto Berto, Foto Silva e Foto Parateca, estando a foto da SGP sem referência de autoria.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cora Coralina: novidades

Acaba de ser publicado, com apoio do SENAC e Federação do Comércio do Estado de Goiás, o livro Moinho do tempo: estudos sobre Cora Coralina (Kelps, 2009), organizado por Clovis Carvalho Britto, Maria Eugênia Curado e Marlene Vellasco.
Com lançamento programado para o dia 19 de agosto, às 20 horas, no Museu Casa de Cora, o livro traz doze novos estudos sobre a obra da poeta vilaboense, quando se comemoram os 120 anos de seu nascimento, cem anos da primeira crítica feita a um trabalho seu e vinte anos de criação do Museu Casa de Cora.
O novo livro apresenta doze trabalhos que analisam e abordam vários aspectos da obra de Cora Coralina, trazendo novas visões e vários entendimentos sobre a produção e a maneira como a narrativa, a memória e os aspectos irônicos da visão pessoal de Cora aparecem em seus trabalhos. Fazem parte da publicação:

- Escritora e escritura: faces do itinerário poético-intelectual de Cora Coralina
Clovis Carvalho Britto

- Cora Coralina: alegoria da flor
Darcy França Denófrio

- Imagens alquímicas na poesia de Cora Coralina
José Fernandes

- Cora Coralina e o discurso da memória: um retrato da velha Goiás
Kátia da Costa Bezerra

- A “narrativa do eu” entre os nós complexos a que o sujeito pede acesso: Funcionamento discursivo e produção de identidades na poesia de Cora Coralina
Mara Rúbia de Souza Rodrigues Morais

- Aspectos irônicos na prosa coralineana
Maria Eugênia Curado

- Cora Coralina: a tessitura poética de um eu multiplicado
Marlene Gomes de Vellasco

- A epifania nos poemas de Cora Coralina
Olga de Sá

- Entre as névoas do tempo, a luminosidade da escrita
Olívia Aparecida Silva

- “A estória dos meninos verdes”: a coralina maternidade universal
Saturnino Pesquero Ramón

- Confissões de Aninha e memória dos becos
Solange Fiúza Cardoso Ycozawa

- Cânticos da terra no espaço da polifonia e do cromatismo: o social e o político na confluência antropofágica das vozes de Cora Coralina e Cândido Portinari
Suely Reis Pinheiro

Fonte inesgotável de material para pesquisa, a produção poética de Cora Coralina proporciona o aparecimento de mais essa coletânea de estudos, leitura fundamental para todos aqueles que se interessam pela literatura brasileira em seus mais diversos aspectos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

patrimônio histórico III

Palácio das Esmeraldas

Tendo como autor o arquiteto Attílio Corrêa Lima, o Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, teve sua construção iniciada tão logo seus projetos foram aprovados pelo governo do estado. Foi a princípio denominado Palácio do Governo, posteriormente foi cogitado o nome de Casa Verde e, finalmente, Palácio das Esmeraldas, por decisão do próprio governador.

perspectiva elaborada por Atillio Corrêa Lima, mostrando a Praça Cívica e o Palácio das Esmeraldas Publicado no livro Goiânia: uma concepção urbana, moderna e contemporânea (2001), de Celina Fernandes Almeida Manso

Fechando a parte sul da Praça Cívica, o Palácio não é um edifício isolado: faz parte de um conjunto, cujo projeto inclui os edifícios das secretarias da Fazenda e Justiça, unidos a ele através de uma ampla varanda.
Na composição geral da praça, era originalmente o único edifício com três pavimentos, estando todos os demais nivelados em dois. Isso faz com que seja visto como o marco de referência do conjunto, como o elemento de equilíbrio – uma característica fundamental do art déco.

porta principal mostrando elementos com característica déco, em foto publicada no catálogo Palácio das Esmeraldas, organizado por Marcílio Lemos

Ao longo do tempo passou por várias reformas e modificações, sendo a primeira ainda no governo de Pedro Ludovico, em 1933. As maiores alterações foram promovidas nos anos de 1965, 1966, 1973, 1975 e 1979. Em 1993, já tombado, passou por novas obras, sendo desta vez acompanhadas por técnicos do Patrimônio Histórico Estadual e da Companhia de Obras do Estado.

vista posterior do edifício, em foto de E. Bilengian

Na fase inicial da cidade, foi construído com o maior requinte, tendo sido ali utilizado materiais como: mármore branco e mármore vermelho, granito verde, lambris de jacarandá; vidro jateado. Os vitrais, é bom lembrar, foram encomendados no exterior.

um dos vários vitrais existentes, representando as riquezas do estado, em foto publica no catálogo Palácio das Esmeraldas, organizado por Marcílio Lemos.

O palácio representa um momento de inovação em todos os sentidos, para a história do desenvolvimento da arquitetura em Goiás. A utilização do concreto em sua estrutura, o emprego de grandes espaços envidraçados e a substituição do telhado de algumas áreas por terraço são recursos nunca vistos anteriormente em Goiás, em nenhum outro tipo de edificação.
Em seus três pavimentos distribuem-se atividades distintas entre as quais se destacam a residência oficial do governador, os gabinetes, os salões de festas e de recepção, além de uma sala particular de cinema.

o edifício ainda em construção, em foto sem referência de autor

Apesar das reformas sofridas ao longo do tempo, manteve inalteradas sua estrutura e sua organização interna básica, definidas no projeto original. A proteção desse monumento é feita

na esfera federal:
através do Processo 1.500 – T – 02

na esfera estadual:
é protegido pela Lei nº 8.915, de 13 de outubro de 1980.
e pelo Decreto n° 4.943, de 31 de agosto de 1998

na esfera municipal:
é protegido pela Lei n° 6.962, de 21 de maio de 1991

terça-feira, 21 de julho de 2009

patrimônio degradado I

Igreja Ortodoxa de Ipameri

A Igreja Ortodoxa em Goiás, teve ao longo do tempo, três importantes centros de divulgação, todos eles relacionados à mobilidade da população, principalmente a de origem síria, ao longo da ferrovia, sendo o primeiro deles na cidade de Ipameri, o segundo em Anápolis e o terceiro na nova capital, Goiânia.

detalhe da fachada

Em Anápolis e Goiânia, a estrutura religiosa ainda se mantém organizada, o que não acontece mais com Ipameri, onde, por questões locais, o grupo de fieis dispersou-se e o edifício dedicado aos ofícios foi abandonado, encontrando-se hoje em ruínas.

dois momentos de destruição do mesmo espaço

Como elemento de fundamental importância para a organização e congregação religiosa de parte de um segmento da população que muito contribuiu para o desenvolvimento econômico da cidade, alguma coisa deveria ter sido feita, no sentido de se tentar preservar a integridade daquele edifício.

intervenção infantil no muro em frente ao edifício

Possuidora de um rico acervo arquitetônico representativo das décadas iniciais do século XX, quando grande número de migrantes veio aí se estabelecer, acompanhando o avanço dos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz, a cidade de Ipameri tem percebido a destruição desse acervo, com a demolição de edifícios residenciais, comerciais e religiosos de grande valor histórico e estético, sendo, na maioria das vezes, substituídos por outros de gosto totalmente duvidoso.

projeto elaborado para a construção, sem data e com o nome do autor ilegível

Em situação praticamente irrecuperável, o edifício da Igreja Ortodoxa de Ipameri, cujo projeto original faz parte do acervo do Instituto Simão Edreira, demonstra o descaso geral com que, de maneira ampla, em nosso país, população e poder público encaram a preservação e defesa do patrimônio cultural, principalmente o edificado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Vila Boa nos jornais XI

O jornal A Imprensa, de 04 de abril de 1914, publicou a seguinte nota:

CINEMA


Terá lugar a 11 do corrente a inauguração do Cinema Luso-Brazileiro que com todo o luxo e asseio foi montado em edifício proprio, pelo nosso amigo Cel. Joaquim Guedes.
Pela rapida visita que fizemos, podemos asseverar aos nossos leitores que esta Capital já possui uma casa de diversões digna de seus habitantes.
Pelo que somos informados haverá duas sessões em cada noite e aos domingos haverá matinées para as creanças a preços modicos.
Uma das innovações feitas pelo proprietario do Cinema Luso-Brazileiro é a musica, que será composta de uma orchestra de proficientes amadores, que pelos ensaios que temos ouvido, muito deleitará os frequentadores do Cinema.
Outro melhoramento, é o restaurant no mesmo edifício, com um completo sortimento de bebidas finas, conservas, charutos e comidas frias.
Com elementos de tal valia, o Cinema Luso-Brazileiro, facilmente conquistará a preferencia do publico.

domingo, 19 de julho de 2009

história e política em Goiás


Organizado por Nasr Fayad Chaul e Luiz Sérgio Duarte, o livro História política de Goiás (UFG, 2009) apresenta seis textos, baseados em dissertações de mestrado, orientadas pelos organizadores, no curso de História da Universidade Federal de Goiás. Voltados para a questão da modernização política no estado, os textos apresentados vinculam-se aos fatos ocorridos a partir da revolução de 1930 e suas conseqüências para Goiás, o que coincide também com a fundação de Goiânia, como nova capital, pano de fundo para vários dos estudos que geraram os presentes textos.
São eles, por ordem de apresentação:

- A herança modernizadora de Pedro Ludovico e a memória de seu grupo político
Cileide Alves Cunha
- A comunicação alternativa em Goiás: da imprensa alternativa à comunicação comunitária – da resistência à cidadania
Marcelo Benfica Marinho
- Família italiana e política em Goiás
Gleidson de Oliveira Moreira
- O MDB goiano: da prudência conveniente à rebeldia inconseqüente
Clever Luiz Fernandes
- A influencia da contradição histórica na política goiana
Reginaldo Lima de Aquino
- Ritual, comunicação e poder: a entronização do primeiro arcebispo de Goiânia
Lindsey Borges

Dizem ainda os organizadores que “esperamos contribuir, com essa coletânea, para o trabalho de construção da história política de Goiás que está apenas começando”. E é também o que esperamos, dada a importância que trabalhos como esse tem para o estudo e compreensão de nossa história.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

iconografia vilaboense X

O mapa de 1770

Um dos mais antigos documentos iconográficos de Vila Boa, é um mapa que o Dossiê de proposição à UNESCO para a inscrição da cidade de Goiás na lista de Monumentos da Humanidade apresenta como sendo de autor desconhecido, pertencente ao Arquivo Ultramarino e datado de 1770. O mesmo mapa aparece no livro de Nestor Goulart Reis Filho, como pertencendo ao Museu Botânico Bocage, de Lisboa.
Esse documento aparece também nos estudos de Roberta Delson, datado erroneamente de 1782, em cuja legenda a historiadora norte-americana, que nunca esteve em Goiás, afirma ser de um provável realinhamento acontecido, pela data sugerida, durante o governo de Cunha Menezes.
Pela forma quase grosseira com que o desenho foi elaborado, é possível a qualquer um perceber que não existe aí, nenhuma tentativa de realinhamento, mesmo porque, ao compararmos tal desenho com a situação real existente na cidade, ainda hoje, pode-se observar que toda ela teria que ser demolida, para assumir a forma supostamente proposta. E mesmo que, o que se tem no mapa é o mesmo traçado conhecido, com as ruas principais, as secundárias e mesmo os becos de ligação, como o Vila Rica, o Mingu, e o Sócrates, entre outros.
A mesma forma distorcida de entender e representar o espaço urbano pode ser observado também no mapa levantado pelos engenheiros Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, Feliciano Rodrigues de Moraes e Manoel Baylão, em 1863, só que com outra conotação: estão aí todas as ruas, becos, vielas e largos existentes ainda hoje, só que, deformados no sentido de apresentar uma irregularidade muito maior do que aquela que a topografia imprimiu à antiga capital.
Trata-se, portanto, apenas de um desenho mal elaborado a partir de uma visada improcedente, de mais fácil execução do que a graficação correta, em obediência a difíceis levantamentos topográficos, elaborados com equipamentos que provavelmente seu autor não possuía.
Quanto à data, basta observar as edificações de maior destaque existentes no meio urbano, para perceber que o erro na sua formulação é gritante. A simples presença da antiga capela de Nossa Senhora da Boa Morte, no local onde hoje se encontra o chafariz de mesmo nome é suficiente para ver que o mapa é de um período anterior a 1778, data de inauguração do chafariz e, é bom lembrar, inaugurado por José de Almeida Vasconcelos Soveral e Carvalho, antecessor de Cunha Menezes. Podemos inclusive ir um pouco além. Não aparece qualquer referência à igreja de Santa Bárbara, cuja construção foi iniciada em 1775.
As afirmações de Roberta Delson quanto a esse mapa provocam, de certa maneira, uma incorreção no desenvolvimento de estudos posteriores sobre Vila Boa, já que vários outros trabalhos tem sido elaborados tomando tais afirmativas como verdadeiras, e passadas adiante sem uma análise crítica mais acurada.
Percebe-se nesse mapa, a ocupação de praticamente toda a área considerada hoje como sendo o centro histórico da cidade, faltando basicamente a ocupação de parte do Largo do Chafariz, tanto à esquerda quanto à direita da Casa de Câmara e Cadeia, edifício de dois pavimentos, projetado em Lisboa, e não mais aquele térreo apresentado pelos prospectos de 1751, além da região compreendida entre a igreja de Santa Bárbara, Rua de Santa Bárbara até às margens do Rio Vermelho, junto da atual Praça do Mercado.
Trecho da atual Rua 15 de Novembro, a Rua Última, do século XVIII, aparece no mapa, como limite do espaço urbano, assim como a indicação do campo da forca, fora da área ocupada por moradores, que, apesar de não estar referenciado, estabelece-se ao largo da estrada para o Arraial da Barra. Aqui a Rua do Carmo se apresenta extremamente reduzida, tendo seus limites entre a Ponte do Marinho e a Rua nova, atual Eugênio Jardim. Somente no projeto de orientação do crescimento da Vila, elaborado doze anos depois, essa rua aparece com ampliação feita, e é bom anotar que, como proposta de implantação futura, caso a população crescesse e houvesse pedidos de terrenos para construção de novas casas, a ponto de justificar sua extensão.
É possível ainda observar, nesse mapa, a inexistência de ruas desocupadas de construções, do que se pode depreender não ser o objetivo do trabalho, uma proposta de planejamento ou ordenação da ocupação do solo urbano. Trata-se nesse caso, como em vários outros - 1867, 1884, 1903, 1918, 1936, etc -, na mesma Vila, apenas do levantamento e desenho da situação em que se encontrava o núcleo, como forma de documentação.
Caso estivesse correta a afirmação de Delson, fosse esse mapa realmente elaborado em 1782 e sua função a de re-alinhar as ruas de Vila Boa, estaria havendo uma superposição de funções, já que o prospecto do soldado Guimarães, encomendado oficialmente por Cunha Menezes, esse sim, datado de 1782 e apresentando um estudo de ocupação além de direcionar o provável crescimento da capital goiana.
Apresenta ainda, o mapa de 1770, mesmo que sem legenda que oficialize a informação, o grande número de chácaras, não só no entorno, mas dentro da malha urbana da Vila. Tais chácaras podem ser identificadas nos terrenos ocupados hoje pelo Quartel da Polícia Militar, pelo Colégio Alcide Jubé e pela sede da Diocese, antigo Seminário Santa Cruz e atual residência do Bispo Diocesano.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

poesia como presente


colhi um poema
pequeno poema
entre as pedras irregulares
do quintal

guardei vontades
risquei verdades
(em tortas linhas)

pra te dar era o que eu tinha

agora busco
na manhã do décimo sétimo dia
a primeira flor no orvalho
como presente original

busco um sorriso de largos dentes

poema de rimas fartas

doce de delicado sabor

um presente que seja sinal,
definitiva lembrança
dos beijos e abraços
que serão sempre ternos
(eternos)

um presente – Gustavo Neiva Coelho
ilustração - pra que não haja dúvida -Lissitzki (para o poema-anel Liubliu, de Maiakovski para lilia brik)

art déco e turismo na Itália


O cartaz como elemento de divulgação e incentivo do turismo, na Itália, tem início no decorrer da década de 1920, apoiado e sempre contratado pelos órgãos estatais ENIT (Ente Nazionale per le Industrie Turistiche) e FS (Ferrovie dello Stato), dentro de um programa de propaganda de apoio ao regime fascista. Nesse período os trabalhos eram encomendados aos principais artistas gráficos do país, como Marcello Dudovich e Leopoldo Metlicovitz, entre outros. Praticamente toda a Itália foi documentada em cartazes elaborados com o intuito de divulgar as vantagens do turismo (como forma de recuperação econômica) no período entre guerras.
Sendo o art déco o modelo, tanto nas artes como na arquitetura, utilizado como representação pelo governo fascista de Benito Mussolini, não seria outro a caracterizar as representações, modelos e imagens estampados nos cartazes desse período, além, é claro, da propaganda política tanto explícita quanto subliminar.

De 1930, o cartaz de Giorgio Viola para Trieste e o de Virgilio Retrosi, para Roma, mostram bem o caráter político da propaganda aplicado ao trabalho artístico através, principalmente, de uma simbologia própria dos governos autoritários.

Em 1933, Marcello Dudovich apresenta já um trabalho mais livre, bem diferente de propostas anteriores (década de 1920) onde a propaganda política era evidente.

Em 1934, a proposta de Franz Lenhart para Bozen-Gries assume os conceitos do art déco vinculado à velocidade, utilizando a representação de um carro em aceleração.
Giuseppe Riccobaldi, em 1936, se bem que livre da interferência política direta, apresenta um trabalho onde a composição e o equilíbrio demonstram que a pressão política não foi abandonada ainda de todo.


O mesmo podendo ser visto no cartaz elaborado por Walter Molino, em 1937, tanto na composição geral da imagem quanto na rigidez dos personagens.
As imagens aqui apresentadas, foram tiradas do livro Travel Itália, de Lorenzo Ottaviani (L'ippocampo, 2007).