quarta-feira, 8 de julho de 2009

iconografia vilaboense IX

O prospecto de Francis Castelnau

Tendo passado por Vila Boa em meados do século XIX, mais precisamente na década de 1840, o cientista francês Francis Castelnau deixou importantes registros e anotações sobre a cidade e a forma de vida de seus habitantes. Entre seus registros temos um dos mais interessantes desenhos mostrando o Largo da Matriz e seus principais edifícios de uso público.


Situando o observador quase na mesma posição que se pode observar no caso do desenho de Burchell, ficam, o edifício do Palácio, da Igreja da Boa Morte e da Igreja Matriz destacados por sua localização central em relação ao desenho, praticamente desconsiderando o restante das edificações que completam o perímetro do Largo.
Nesse desenho é interessante observar os recursos utilizados pelo artista, no sentido de criar a ambiência necessária aos seus objetivos. A Igreja Matriz é apresentada com dimensões superiores ao que realmente possui, o que é conseguido através da angulação do desenho e da forma como as pessoas são representadas à sua frente. Existe uma desproporção de escala entre o edifício e os participantes da procissão.
A noção de profundidade utilizada apresenta o palácio com uma forma mais horizontal, dando ao edifício uma volumetria bem diferenciada do que realmente possui, conseguindo, no entanto, com isso, destacar e promover a monumentalidade desejada com relação à Igreja Matriz. Até mesmo a Igreja de N. S. da Boa Morte, em parte escondida pelo Palácio, se apresenta com uma monumentalidade mais destacada que este o que fica mais evidente em decorrência do jogo de luz e sombra aplicado sobre o edifício religioso.
A iluminação feita pela Lua, no alto do céu provoca uma ambiência, até certo ponto espectral à procissão que passa, antecipada por militares fardados, entre dois grupos de pessoas, que em pé ou de joelhos, apenas observam. Também a procissão se destaca em decorrência do jogo de luz e sombra com que seu entorno é trabalhado.
É um desenho que apresenta uma Vila Boa monumental em seus edifícios e espaço público, não compatível com sua localização, no distante interior do território do Império.

Nenhum comentário:

Postar um comentário