terça-feira, 11 de maio de 2010

patrimônio em reparo I

obras no Palácio Conde dos Arcos, em Vila Boa

O Palácio Conde dos Arcos, da cidade de Goiás, está passando por mais um processo de intervenção, desta vez com o intuito de fazer retornar o antigo porão que já existiu sob o avarandado interno do edifício.

estrutura de sustentação para o piso de tabuado corrido

Pela documentação existente, sabe-se que originalmente o avarandado possuía piso em tabuado corrido sobre porão baixo, com envasaduras para ventilação. Provavelmente, na década de 1960, foram feitas algumas reformas no edifício, quando todo o porão baixo do edifício foi aterrado e, nas salas internas mantido o tabuado, sendo que no avarandado, tal material foi substituído por ladrilho hidráulico. Na década de 1980, em decorrência do apodrecimento do tabuado do piso, o porão no corpo principal do edifício, foi restabelecido, permanecendo no entanto aterrado a parte correspondente ao avarandado, com a substituição do ladrilho por tabuado.

antigo piso de madeira, substituído...

... posteriormente pelo de ladrilho hidráulico

O que acontece agora é exatamente o que já devia ter acontecido décadas atrás, com a retirada do aterro sob o piso do avarandado. A intervenção deixa novamente à mostra as aberturas para a ventilação da parte inferior do piso, além de mostrar, sob o piso, os pontos de visita à rede de esgoto, elaborada em mezanela e tijolo queimado.

dutos de ventilação

Estruturado em meados do século XVIII e resultado de uma série de reformas em cinco edifícios residenciais, ainda hoje, mais de 250 anos depois das primeiras intervenções, o Palácio Conde dos Arcos continua a receber intervenções. Algumas para bem, outras nem tanto...

domingo, 9 de maio de 2010

patrimônio histórico XXII

Estação ferroviária de Bonfinópolis

De construção e programa extremamente simples, a estação ferroviária de Bonfinópolis apresenta três compartimentos, em sua estrutura interna, que atendiam, sem nenhuma dificuldade, as funções para as quais o edifício fora construído. Dispõe de um salão de espera central para o qual se abria a bilheteria, representada por uma pequena janela decorada com madeira almofadada, e dois outros salões, laterais a este primeiro, sendo um utilizado para depósito e o outro para administração.
a estação vista do nível da linha férrea

Construída em um único bloco, apresenta cobertura em duas águas; a da plataforma é maior do que a outra, e cobre, como aquela, metade da edificação, além de toda a plataforma, em um único plano de telhado. As fachadas laterais reproduzem um padrão construtivo que pode ser encontrado inclusive em edificações que atendem a programas e composições diferenciados.
É provável que sua localização, em terreno com cota de nível mais baixa que a da cidade, seja a razão para que, ainda hoje, ela permaneça afastada das áreas de expansão do núcleo urbano. Sua fachada principal, diferentemente do que acontece com as demais estações goianas, não se encontra voltada para uma praça, mas para um paredão, definido através de corte para nivelamento no terreno, originalmente em declive.
a estação vista do nível do terreno onde se encontra a cidade

Abandonado, praticamente desde a desativação da linha de passageiros, esse edifício foi utilizado como ponto de drogas e de prostituição até ser tombado pelo poder público municipal, que providenciou, de imediato, sua limpeza e manutenção.

bilheteria da estação

Em seu entorno, restaram apenas duas das casas destinadas aos funcionários da rede, já bastante descaracterizadas, e a antiga cantina dos ferroviários, agora também protegida pelo poder público municipal. A proteção desse monumento é feita

na esfera municipal:
pela Lei n° 330/01, de 18 de janeiro de 2001

sexta-feira, 7 de maio de 2010

mais fotos antigas de Goiânia

Outro conjunto de fotos antigas do centro da cidade de Goiânia que apresentamos aqui, é assinado pelo fotógrafo Martins, que teve a preocupação de documentar a nova capital em flagrantes feitos nas principais ruas e avenidas, apresentando monumentos oficiais, edifícios sem a importância dos primeiros, mas que demonstram a forma como a cidade se implantava, e mesmo, alguns ângulos que não são mais possíveis observar, tendo em vista os novos edifícios construídos na cidade.
O posto Esso, na av. Anhanguera, que outros fotógrafos registraram em ângulo diferente

Outro flagrante da mesma av. Anhanguera

Oficina Dodge, em rua não identificada da capital

Av. Goiás, junto à praça do Bandeirante, o terreno vago é onde foi posteriormente construída a sede do Banco do Estado de Goiás.

Praça do Bandeirante, tendo em primeiro plano o terreno onde foi construído o edifício sede do BENGE.

Outro ângulo da praça do Bandeirante, mostrando elementos que aparecem nas duas fotos anteriores.

Praça Cívica, com o Palácio das Esmeraldas ao fundo.

A cidade vista do terraço do Palácio das Esmeraldas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

outra poesia

o menino
da minha infância
está de olho
no velho
da minha próxima idade

heteroxidade – Gustavo Neiva Coelho
desenho: bêbado - Roos

quarta-feira, 5 de maio de 2010

arquitetura rural de Goiás VII

fazenda João Martins, na região do rio São Marcos


Sem dúvida, a sede de fazenda mais interessante da região.
Construída em meados de 1953, de acordo com o atual proprietário, apresenta características da arquitetura urbana encontrada na região, no mesmo período, em especial das cidades de Catalão e Ipameri.
Apresenta, à entrada, um pequeno alpendre com frontão decorado e apoiado em colunas de seção oitavada, sobre uma pequena mureta de 48 cm de altura.
Internamente, apresenta uma ampla sala, separada de uma copa de pequenas dimensões por um pórtico onde se destacam duas colunas adoçadas, também de seção oitavada, como as do alpendre. Ladeando essas duas salas, encontram os quartos, em numero de quatro, sendo que três se abrem para a sala e um para a copa. Na seqüência, um banheiro e a cozinha, com dimensões não encontradas em nenhuma outra sede de fazenda da região.

detalhe do lustre do alpendre

Utilizando alvenaria de tijolo tanto nas paredes quanto na estrutura dos cunhais, apresenta os cantos de todos os cômodos, arredondados, não existindo paredes com encontro em ângulo reto. O piso, à exceção do banheiro e cozinha que são em cimento queimado, apresenta uma variedade de seis modelos diferentes de ladrilho hidráulico, estampado nos centros dos cômodos, com molduras e contornos, todos no mesmo material, mandados fazer em cerâmicas especializadas na cidade mineira de Uberlândia.


dois dos variados modelos de ladrilho encontrados na casa

A cobertura é em telha francesa, provavelmente apoiada em estrutura de madeira do tipo tesoura, com beiral em guarda-pó de estuque. O estuque aparece também no interior da residência, forrando salas e quartos, além do alpendre fronteiro.
Também as esquadrias são todas trabalhadas, apresentando janelas de grandes dimensões na sala e nos quartos, com postigo sobreposto, utilizando vidro na parte superior, veneziana na inferir e pequenas peças cegas fazendo a vedação. Na cozinha aparecem duas grandes janelas em guilhotina na parte exterior e folha cega na interior, além de um vitrô de correr na copa e outro de basculante no banheiro, provavelmente resultados de alterações feitas ao longo do tempo.

fachada posterior mostrando a janela de guilhotina da cozinha

Grandes distâncias separam o edifício sede dos anexos e mesmo dos locais de trabalho, permanecendo o mesmo, isolado, com pastos à sua frente e um grande pomar na parte posterior.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Vila Boa nos jornais XXXII

O jornal Voz do Povo, de 08 de julho de 1927, publicou o seguinte artigo de Marilda Palina:
a goyana moderna


É um passado bem recente aquelle em que a mulher goyana mais não aspirava ser do que o “anjo do lar”.
Geralmente, a goyana de há quinze annos atraz vivia obsecada pelos affazeres caseiros, saindo pouco, receiando o sol e a luz como uma planta de estufa, e tendo por quasi única distracção um piegas Escrich, lido preguiçosamente á janella, ao cair das tardes longas e quentes.
Agora não! Quem chega em Goyaz observa, enxameiando as ruas, vestidas elegantemente, um discreto maquillage avivando-lhes a natural belleza, moças cheias de vida e de alegria. São as normalistas e as estudantes de Pharmacia, Odontologia e Commercio.
Todas estudam. Todas ambicionam um diploma que lhes facilite a conquista dos grandes ideaes de cultura e actividade. Há um forte anseio de querer saber e de trabalhar.
Como a brasileira dos grandes centros, a goyana moderna, laboriosa e activa, tem ambições, quer affirmar a sua personalidade, lutando pela sua liberdade econômica.
E para provar o desenvolvimento de espirito da mulher goyana ahí está o “Lar”.
Milagre da vontade tenaz de uma goyana de talento – Oscalina Alves Pinto – “O Lar” teve a mais carinhosa acolhida, captivando todas as sympathias.
Em breve, se tornou indispensavel.
Cada numero, anciosamente esperado, é um ramilhete das mais preciosas flores de sentimento, reunidas em armonioso conjuncto pelas mãos delicadas de Oscalina Pinto. Ella é alma intemerata, que não desfallece; o coração ardente, que não se estibia.
Da o exemplo mais frisante de quanto pode o esforço, de quanto vale o querer. Da primeira á ultima pagina, d’O Lar, Oscalina imprime os traços inconfundiveis do seu privilegiado temperamento de escriptora e jornalista.
A goyana já não desmerece suas irmãs dos grandes centros.
Dia a dia, desenvolve o seu espirito, descortinando pelo saber horizontes cada vez mais largos e luminosos, conquistando pelo trabalho a independência e a felicidade.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

patrimônio destruído III

Até as décadas finais do século XX, a cidade de Catalão possuía uma rica arquitetura, apresentando um dos melhores acervos art déco e eclético do estado, rivalizando, na região sudeste apenas com Ipameri. No entanto, na última década idéias modernizantes vem destruindo esse patrimônio tanto pela demolição quanto pela descaracterização e abandono.
Se, como vimos anteriormente, o Cine Real foi totalmente descaracterizado, sorte pior teve a residência da família do Dr. Jamil Sebba, demolida para dar lugar a um galpão sem qualquer caracterização arquitetônica. Esse tem sido o destino de um considerável número de edifícios residenciais na cidade.
Infelizmente.

D. Lena Castello Branco: novo livro

Será lançado hoje, com programação marcada para as 20 horas, no Palácio das Esmeraldas, o livro Poder e Paixão: a saga dos Caiado (Cânone Editorial), da historiadora Lena Castello Branco Ferreira de Freitas.
Resultado de quase duas décadas de pesquisa, que incluíram estudos em Portugal e no Brasil, o livro aborda a história de uma das famílias mais antigas de Goiás que, no intervalo de um século, apenas por uma legislatura não esteve representada na política goiana, tendo participado dos principais momentos da política e da estória de Goiás desde fins do século XIX.
Não podemos deixar de lembrar que D. Lena Castello Branco é uma das principais historiadoras do estado de Goiás, escritora de peso e por logo tempo, professora da Universidade Federal de Goiás.

sábado, 1 de maio de 2010

patrimônio histórico XXI

Catedral de Sant'Anna, em Vila Boa

A igreja de Sant’Ana, catedral da cidade de Goiás, teve sua construção iniciada em 1743, quando Manoel Antunes da Fonseca, Ouvidor Geral de Goiás, resolveu demolir a antiga capela de mesma invocação construída pelos fundadores do Arraial, ainda em 1727, e em seu lugar edificar outra com dimensões mais adequadas às necessidades impostas pelo crescente numero de habitantes dessa região mineradora.
As despesas para tal construção deveriam correr, segundo Ordem Régia, por conta da Câmara e para tanto foi enviada uma planta elaborada em Lisboa, já que o primeiro desenho, vindo de São Paulo, havia sido considerado imperfeito. Do orçamento de treze mil cruzados, definido para a construção, oito mil representariam contribuições feitas pela população e os cinco mil restantes corresponderiam à colaboração feita pela Real Fazenda.
Entretanto, a qualidade da obra de construção dessa igreja foi tão má que, em 1759 – dezesseis anos, portanto, após a edificação – todo o teto desabou, cabendo à população todos os gastos com sua recuperação. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, as referencias que se tem com relação a esse edifício são todas ligadas a reformas e reconstruções, em decorrência dos inúmeros desabamentos e das constantes rachaduras surgidas em suas paredes.

a igreja registrada por John W. Burchell, na primeira metade do século XIX

Em 1874, a Sé foi transferida para a igreja da Boa Morte, por questões de segurança. No inicio do ano de 1929, com a igreja em ruínas, o arquiteto Gastão Bahiana, professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, foi contratado para, com base nos alicerces originais, elaborar um projeto definitivo. Com os trabalhos de construção já em andamento, as diversas sondagens realizadas constataram que os alicerces existentes eram incapazes de sustentar as paredes de 21 metros de altura, bem como as torres de 40 metros,propostas por aquele arquiteto.
Projetada para comportar uma população três vezes maior que a catedral do Rio de Janeiro na época, a catedral de Sant’Ana teve seu projeto alterado inúmeras vezes, tanto por questões de estrutura quanto por falta de recursos, e só voltou a ser utilizada como Sé, em 1967, ainda inacabada.

projeto do arq. Gastão Bahiana, de 1929

Recentemente, em 1998, por iniciativa da Diocese de Goiás, em parceria com o IPHAN, e com base em uma proposta arrojada de restauro tanto do edifício quanto de seu entorno imediato, foi entregue à população, finalmente concluída. A proteção desse monumento é feita

na esfera federal:
através do processo 345-T-42, com
inscrição 73 no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, às folhas 17;
inscrição 463 no Livro Histórico, às folhas 78;
inscrição 529 no Livro das Belas Artes, às folhas 97
com data de 18 de setembro de 1978;

na esfera estadual:
é protegido pela Lei nº 8.915, de 13 de outubro de 1980.