terça-feira, 30 de março de 2010

Vila Boa nos jornais XXX

o jornal GOYAZ de 07 de janeiro de 1893, publicou a seguinte matéria:

ATRAVESSADORES DE VIVERES

Chamamos a attenção do presidente da intendência e autoridades policiaes para o criminoso commercio actualmente em practica com grande prejuizo para a classe proletária.
Segundo nos consta, já os carregamentos de viveres, sujeitos ao mercado, são arrematados em caminho e aquí vendidos por preços elevados pelos atravessadores, sequiosos por se enriquecerem em pouco tempo.
É tempo de intervir a autoridade em favor do povo que exprimenta o rigor da penuria.
Existem providências: cumpre que as autoridades as ponhão em execução.
O art. 97 das posturas municipaes diz:
“É prohibido vender, atravessar ou comprar para revender ou para uso proprio, nas estradas, ruas ou lugares publicos os generos que estiverem sujeitos a praça do mercado – sem obterem alta da mesma praça.
Esta prohibição estende-se ás pessoas que venderem taes generos. Os infractores incorreraõ na multa de 30$000 Rs, e se o negocio se der em tempo de carestia alem da multa soffrerão 8 dias de prisão.
Se esta disposição for cumprida, como é de esperar-se e como requer o bem publico, é natural que a intendência levante o clamor de meia duzia de indivíduos que se sentirão prejudicados, mas terá a seu favor a opinião da quase unanimidade da capital e as bençãos das classes pobres.

segunda-feira, 29 de março de 2010

mais poesia

levaram meu sangue
como se coisa pouca fosse
levaram meus olhos
quando a indiferença
continha absurda
meu gesto.

levaram as palavras
que trazia escondidas
y que sequer usei

y levaram meu corpo morto
quando não protestei.

indiferença - gustavo neiva coelho
ilustração: palhaço - roos

domingo, 28 de março de 2010

Roseane Coelho no Prosa e Verso


Sachê de minha alma

Também estreando na publicação de um livro de poemas, Roseane Coelho Braga lança dentro da coleção Goiânia em Prosa e Verso o livro Sachê de minha alma, com poemas bem estruturados, mantendo uma coerência estética que demonstra ser a poesia para ela, uma companheira de longa data e a publicação desse livro um ato maduro de quem conhece bem o caminho por onde pisa.

Como a primavera

como a primavera,
flor em botão
você e eu,
plena floração.

sábado, 27 de março de 2010

arquitetura rural de Goiás V

fazenda Olaria, na região do rio Corumbá

Provavelmente a construção mais antiga encontrada na área de estudo, a sede da fazenda Olaria se apresenta completamente fora dos padrões conhecidos no que se relaciona a arquitetura rural no estado de Goiás.
Edifício de grandes dimensões, demonstra haver sido essa propriedade, elemento de considerável influência na região. Tem sua implantação seguindo a tradição, com o curral estabelecido à sua frente, utilizando, no entanto, um muro de pedras de junta seca seguindo o eixo longitudinal da edificação, separando o curral do quintal, o que é complementado por um corte que aproveita a declividade acentuada do terreno.

fachada anterior vista de dentro do curral

Toda estruturada em madeira lavrada, com demonstração de grande preocupação quanto ao alinhamento dos esteios, apresenta a cobertura apoiada em pontaletes que, no entanto, não estão estruturados – como seria de se esperar – sobre a viga longitudinal que se apóia na principal divisão do edifício. Isso faz com que a cumeeira não se encontre situada no eixo do edifício e, mesmo que a cobertura seja em quatro águas, aquela que se volta para a parte posterior da edificação se apresenta com maiores dimensões, o que faz com que o pé direito junto à fachada principal seja maior que o da fachada posterior.

vista posterior do edifício, mostrando o desnível do terreno

Provavelmente, em decorrência de não se encontrar mais em uso, como demonstra haver sido utilizada em outros tempos, não apresenta mais em seu entorno as construções complementares de engenho, monjolo e mesmo os locais de cria e engorda de animais de pequeno porte. É claro o seu estado de abandono. Ao lado da casa, um pequeno paiol, construído em madeira se encontra em estado adiantado de deterioração. Restos de estruturas do que teriam sido outras edificações, podem ainda ser observados em seu entorno.

Organização interna

Diferente de tudo o que se conhece em arquitetura vernacular em Goiás, quer urbana quer rural, a sede da fazenda Olaria apresenta um grande número de cômodos, estabelecidos de forma modular, apresentando larguras muito próximas umas das outras, sendo que os comprimentos apresentam variação de cerca de mais de um metro, fazendo assim com que a parede que seria o eixo longitudinal do edifício se apresente deslocado em relação ao eixo de simetria. Com isso, os cômodos voltados para a parte frontal da casa apesar de apresentar largura igual aos dos demais, possuem comprimento maior do que os que se voltam para os fundos.
Construída toda em adobe e pau-a-pique, apresenta alguns cômodos com piso em tabuado corrido e outros em que a madeira já foi substituída por cimento queimado.
Apesar de estabelecido de forma diferente, o programa não foge ao tradicional, com sala de visitas, varanda e cozinha, desnível (28 cm) que, nesse caso, se apresenta acompanhando a parede central longitudinal, estando assim, não só a parte de serviços em um plano mais baixo, mas todo um lado da casa notadamente e no sentido longitudinal, toda a parte voltada para os fundos.
Outra questão que diferencia esse edifício de todos os demais encontrados no estado é o fato de que, no sentido longitudinal, existem dois eixos de comunicação, em que todos os cômodos ficam interligados, eliminando qualquer possibilidade de privacidade. Tais eixos se apresentam de forma a colocar todas as portas alinhadas e com as mesmas medidas, variando, quando muito, em dois centímetros no máximo. Com isso, a edificação deixa de apresentar, de forma visível e de fácil identificação, o que poderia ser entendido como o quarto de hóspedes.

detalhe da estrutura de sustentação da cobertura

Além da substituição do piso de alguns dos cômodos por cimento queimado, é possível perceber outras alterações ocorridas ao longo do tempo, como alargamento de vão, subdivisão de cômodo com a instalação de um pequeno banheiro e o emparedamento de uma janela que originalmente ligava dois cômodos, internamente. Tudo isso feito com material moderno, como tijolo furado e esquadria de metal.
Dos três acessos principais ao interior da edificação, um, o principal, é feito pela sala de visitas, através do curral e os demais, ligando o interior ao quintal, são feitos através da varanda, ficando, nesse caso, a cozinha isolada e com um mínimo de ventilação e iluminação, feitos por duas pequenas janelas, sendo que uma delas se abre sobre parte do fogão caipira.
Em decorrência do desnível do terreno, o nível interno da edificação se encontra cerca de 20 cm acima do terreno na parte anterior e cerca de 140 cm na parte posterior.
Atualmente o quarto situado à direita da sala de visitas se encontra dividido em dois, em decorrência da colocação aí, de uma divisória de madeirite, estando meio quarto voltado para a sala de visitas e a outra parte para a varanda. E, no extremo oposto, o último quarto, no alinhamento da sala, apresenta porta para o exterior, na lateral e atualmente é utilizado com quarto de arreios.

quarta-feira, 24 de março de 2010

patrimônio histórico XIX

Igreja de N. S. da Abadia, de Itaberaí

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Abadia, da cidade de Itaberai, antiga Curralinho, construída no local da antiga capela de mesma invocação, teve suas obras concluídas, de acordo com Derval de Castro, por volta de 1857, tendo como construtor responsável, o padre Francisco Brandão.
Até meados do século XX era a única construção religiosa existente na cidade, excetuando-se a capela de São Miguel, do cemitério da cidade inaugurada em 1911.

detalhe da torre sineira e janelas laterais

Não existe nesse edifício uma uniformidade em relação aos materiais e técnicas empregados, sendo a parede da direita executada em taipa de pilão, e as demais em adobe, não existindo também qualquer explicação ou justificativa lógica para que assim tenha sido feito, a não ser o fato de haver sido essa parede de taipa, remanescente da antiga capela, existente no mesmo local. No restante, a cobertura acontece invariavelmente em duas águas, caindo para as laterais, o que proporciona a existência do frontão, na parte superior da fachada. O beiral encachorrado acompanha o padrão tradicional e as aberturas de portas e janelas, com dimensões acima do normal, utilizam folhas cegas com calha em sua vedação e enquadramento feito em aroeira, com peças de 20cm x 20cm.

imagem antiga da igreja, de autor nao identificado

Internamente apresenta alterações na forma como se apresenta o forro e, o piso, originalmente de madeira, foi substituído por ladrilho hidráulico, provavelmente nas tentativas de modernização ocorridas nas décadas finais da primeira metade do século XX.
Apesar de datada de meados do século XIX, a Matriz de Itaberai apresenta as características próprias dos edifícios religiosos do século XVIII, tendo a diferenciá-la apenas a localização da estrutura de sustentação dos sinos, que originalmente é colocada em alinhamento com a fachada e, nesse caso, foi colocada junto à sacristia, na porção posterior do edifício.
Passou, ao longo do tempo por várias reformas e alterações, tanto internas quanto externas, tendo inclusive sua fachada sido completamente descaracterizada, no decorrer das décadas de 1930 e 1940. Em 1993 foi finalmente restaurada, com apoio do governo do estado, quando foram restabelecidas suas características originais.
Situada no centro da primeira praça da cidade, apresenta um perfeito entrosamento com as edificações de seu entorno, preservadas em sua maioria com as características originais da arquitetura setecentista do interior goiano. A proteção desse monumento é feita

na esfera municipal:
Pela Lei n° 465/89, de 11 de outubro de 1989.

segunda-feira, 22 de março de 2010

um ano de casa abalcoada

É hoje!
O blog da Casa Abalcoada está completando um ano de existência, com mais de quatro mil visitantes, vindos de todos os estado do Brasil e de países de todos os continentes.
É um grande incentivo, e
VIVA A CASA ABALCOADA

domingo, 21 de março de 2010

Paulo Sérgio no Prosa e Verso

Sol sem óculos escuros

Lançando seu primeiro livro, o poeta Paulo Sérgio Coelho Vaz inicia a divulgação de seu trabalho através da coleção Goiânia em Prosa e Verso. Neto de Glicério Coelho, Paulo Sérgio é filho de Geraldo Coelho Vaz e da artista plástica e escritora Alcione Guimarães. Formado em Direito pela Universidade Católica de Goiás, atuou como assessor na Agencia de Cultura do estado e tem seu livro apresentado por importantes nomes da literatura goiana. Sobre ele, diz Aldair Aires: Este é o primeiro livro de Paulo Sérgio, é seu batismo literário. No entanto não é um livro de principiante no fazer literário, é um livro tecnicamente maduro, tanto na estética dos poemas, quanto no poder de uma síntese clara, precisa e metaforicamente ampla.

É um bom início de carreira.

Geraldo Coelho no Prosa e Verso

Diário de tropeiro

Completando cinco décadas de carreira literária, o poeta Geraldo Coelho Vaz, publica como convidado pela coleção Goiânia em Prosa e Verso, o livro Diário de tropeiro, já em quarta edição (a primeira foi em 1999). Geraldo, de quem já falamos na Casa Abalcoada, em decorrência do lançamento da edição comemorativa dos cinqüenta anos do seu primeiro livro Vultos catalanos, é filho de Glicério Coelho (ver a postagem anterior) e um dos escritores de maior destaque na literatura goiana, tendo sido presidente da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores – seção Goiás, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, além de Secretário de Cultura do Estado.

Coelho Vaz, como é conhecido, possui vasta obra publicada, com vários livros de poesia, ensaios, crônicas e pesquisas históricas.

sábado, 20 de março de 2010

Glicério Coelho no Prosa e Verso

Memórias de um peão de boiadeiro
Quando da primeira edição de Memórias de um peão de boiadeiro (Kelps, 1994), seu autor, Glicério Coelho contava 97 anos de idade. O livro, escrito entre 1982 e 1985 conta passagens de sua vida e de seu trabalho, mostrando a região sudeste de Goiás no decorrer da primeira metade do século XX, região de desenvolvimento diferenciado, em decorrência da implantação da rede ferroviária.
A segunda edição de Memórias de um peão de boiadeiro traz algumas modificações em relação à primeira, com o acréscimo de alguns fatos que, não se sabe por qual motivo, não aparecem naquela. Também a programação foi melhorada, dando maior facilidade à leitura.
Glicério Coelho faleceu em 1997, quando faltavam seis meses para completar cem anos de idade.

terça-feira, 16 de março de 2010

prosa e verso

A Secretaria Municipal de Cultura, de Goiânia, em parceria com a Editora Kelps e a PUC-GO, lançam na próxima quinta-feira, dia 18 de março, os 136 livros que compõem a terceira edição da coleção Goiânia em Prosa e Verso.
O evento acontece no Flamboyant Shopping Center, às 19:30 horas.
A primeira versão do evento, acontecida em 2007, publicou menos de 50 títulos, passando para 100 na segunda versão, em 2008, chegando aos 136 títulos desta terceira versão, o que provocou um atraso de cinco meses no lançamento dos livros que, originalmente estava previsto para outubro de 2009, por ocasião do aniversário da cidade.
A coleção apresenta uma padronização no desenho das capas dos livros, obedecendo a um projeto de Laerte Araújo Pereira, a partir de trabalhos do artista plástico Amaury Menezes, recentemente homenageado pela PUC-GO com uma exposição retrospectiva de sua obra.

domingo, 14 de março de 2010

patrimônio abandonado IV

O aeroporto de Ipameri

Construído e inaugurado em 1938, o aeroporto da cidade de Ipameri, serviu não só a essa cidade, mas a toda a região em seu entorno, durante vários anos. Próprio para o uso por aeronaves de pequeno porte, com o tempo foi perdendo sua capacidade, já que as pequenas aeronaves começaram a ser substituídas por outras de maior porte, exigindo pistas cada vez mais especializadas.
Hoje totalmente abandonado, o aeroporto de Ipameri encontra-se preservado em decorrência da manutenção feita pela família do ultimo funcionário que ali permaneceu. O edifício, a pista (já tomada pelo mato rasteiro), a calçada que levava os passageiros do edifício-sede até à pista de embarque, a biruta e mesmo a placa de bronze que registra a inauguração.

placa colocada ao lado da pista, registrando a inauguração

detalhe do piso em ladrilho hidráulico em uma das salas e na varanda

detalhe do piso da sala de espera, em ladrilho hidráulico com desenho déco

o lúdico alegórico: avião feito de latas, garrafas pet e rolha

quarta-feira, 10 de março de 2010

arquitetura rural de Goiás IV

fazenda Anta Gorda, na região do rio São Marcos

Dos edifícios de construção mais recente na região, a sede da fazenda Anta Gorda apresenta elementos próprios da arquitetura desenvolvida no sudeste goiano, em meados do século XX, com a utilização de alvenaria de tijolo tanto na estrutura dos cunhais quanto na elaboração das paredes, piso de cimento queimado em alguns cômodos, madeira na ala dos quartos, e ladrilho hidráulico nos compartimentos considerados nobres, além do uso de telha francesa apoiada em estrutura de madeira do tipo tesoura.

piso de ladrilho hidráulico encontrado no alpendre da casa

Na fachada principal, aparece um estreito alpendre que ocupa toda a largura do edifício, apoiado em pilares, onde se percebe alterações radicais, já que, segundo informações do proprietário, existia uma arcada com elementos decorativos fazendo coroamento.
Único edifício na região em estudo a apresentar planta em U e, em decorrência da declividade do terreno, aproveitamento para implantação de um porão sob a ala dos quartos.

vista posterior mostrando a implantação e divisão em blocos

A parte do corpo principal do edifício apresenta organização padrão, com sala e quarto de hospedes, em um primeiro momento, e uma grande varanda a seguir, para onde se abrem dois outros quartos. Dessa varanda abrem-se também as portas para a ala de serviços, onde se encontram cozinha, banheiro e depósito, e para a ala dos quartos. O fato de estarem os quartos no mesmo nível da parte principal da casa, permite a implantação de um porão sob os mesmos, o que já não acontece, com a ala de serviços, já que, até por uma questão de tradição, esta se encontra com um desnível de 65 cm em relação ao restante do edifício.

vista do edifício com as cercas de madeira

Apresenta vários modelos de janelas, sendo as da fachada principal em veneziana, as demais do corpo principal em madeira cega e as da ala dos quartos, em metal, tipo vitrô basculante.
À frente, separado da casa pelo tradicional jardim, de pequenas dimensões, encontra-se um amplo pasto que, em outras regiões é utilizado como curral, aqui, situado a certa distancia, à direita do edifício sede.

terça-feira, 9 de março de 2010

Vila Boa nos jornais XXIX

o jornal Nova Era, de 27 de novembro de 1919, publicou a seguinte matéria:

O MERCADO


O Exmo. Sr. Presidente do Estado tem ido diversas veses vizitar o nosso mercado, tomando assim conhecimento da maneira por que vão sendo executadas as medidas postas em prática por S. E.
Senti satisfação immensa quando há dias dias o vi entrar nesse pardieiro archaico que nos causa nojo e vergonha porque, embora S. E. tenha nascido e vivido aqui muitos annos, embora saiba o que é o edifício que nós chamamos mercado, julgo, e é muito provável, algum tempo de distancia da nossa capital o tenha feito esquecer o que é a hygiene e commodidade dessa instalação.
Agora fiquei sabendo que o Sr. Presidente gosta de conhecer as nossas necessidades, e que quanto a esse ponto elle as conhece de visu, o que é uma grande vantagem.
Já há tempos me vem martelando o espirito o dezejo de dizer umas tantas cousas sobre esse velho casarão e... francamente me via constrangido.
Não aprendi ainda a Ter o ar cathedratico, doutrinal e dogmatico que convém ao caso e me julgo ainda muito moço para dar conselhos a quem quer que seja, eu que sou avesso a recebe-los; mas, no terreno do interesse geral, quando se trata apenas de lembrar uma ideia, quando temos na administração quem se preocupa com o nosso progresso, devemos todos Ter ao menos franqueza de dizer o que pensamos já que nada podemos fazer.
A meu ver, o velho mercado deve ser desapropriado, abrindo-se alli uma rua em continuação á rua do Commercio, e, aproveitando-se o terreno do páteo, se construirá alli um ou mais edificios que não faltem em projectos (correios e telegraphos, palacio da justiça, etc.)
Para suprir a falta das ruinas demolidas seriam construidos pequenos mercados nas diversas entradas da cidade (Santa Barbara, Carioca, Moreira, João Francisco).
Parece-me que não seriam poucas nem pequenas as vantagens decorrentes dessa mudança; desde já vejo as seguintes:
-1. Embellezamento e arejamento da cidade com a rua do Commercio prolongada até a ponte do Dr. Neto, o que concorreria para melhor correspondência entre os habitantes da margem direita e esquerda do rio Vermelho.
-2. A descoberta do local para a construcção de diversos que agora todos perguntam para onde irão.
-3. Um melhor apparelhamento hygienico ao nosso abastecimento de viveres, ou antes algum apparelhamento pois que alli não existe nenhum.
-4. Maior facilidade para o publico que, em vez correr a um mercado central único iria ao mercado de Canastra, Santa Rita, da Aldeia ou do Registro.
-5. Melhor arrecadação das rendas que serão assim collectadas nas estradas forçadas, evitando o seu desvio.
-6. Com esta nova organização nunca mais seriam ouvidas queixas contra os commerciantes de generos que deixariam de estar nucleares.
Objectar-se-ia talvez o augmento de despezas, mas tal objecção seria nulla diante de uma pequena reforma que caberia muito bem em mercados pequenos; bastava que em cada um dos novos mercados existissem em vez de collectores e escrivães um collector e dous fiscaes.
Ora, acredito que só estas vantagens que agora me ocorrem, sem fallar naquellas que espiritos mais argutos possam descobrir, são sufficientes para nos encorajar na propaganda de similhante ideia.

segunda-feira, 8 de março de 2010

poesia

sinto
meu olho observador
buscando
formas, sons, ligações

sinto, meu olho,
observador
não vive de intenções.

observatório - Gustavo Neiva Coelho
ilustração: colagem - Fernando Costa Filho

domingo, 7 de março de 2010

patrimônio histórico XVIII

Casa Setecentista da cidade de Pilar de Goiás

O esgotamento das lavras de ouro na cidade de Pilar provocou, como na maioria dos aglomerados surgidos em função das descobertas auríferas, uma diminuição considerável no número de habitantes, levando-a quase à extinção. Desapareceram seus antigos sobrados, demoliram suas igrejas, quase nada restando da antiga opulência, da fartura e da riqueza antes existente.
Um dos edifícios remanescentes desse período, capaz de atestar em seus detalhes construtivos a imponência e o poder de seus antigos proprietários, é a chamada Casa Setecentista, situada na Rua da Cadeia. As rótulas de suas janelas são mantidas ainda hoje em um quase perfeito estado de conservação. Construída em adobe e pedra, essa edificação, apesar da conformação tradicional das residências do século XVIII em Goiás, com o corpo principal utilizando toda a largura do terreno e com um puxado destinado à área de serviços, dispõe, no entanto, de uma organização interna bastante diferenciada.

janelas de rótula, na casa setencista da cidade de Pilar de Goiás

Há na fachada duas portas e três janelas, sendo as portas com sobreverga de madeira trabalhada e as janelas cobertas com rótulas de treliça, de acabamento primoroso.
Os três cômodos que compõem a fachada são salas; duas delas apresentam forro em gamela, decorado com pinturas. Há inclusive em uma delas decoração também na parte interna das portas. Quartos e alcovas abrem-se para a varanda, que é a área da casa mais bem-iluminada e ventilada, em decorrência das três amplas janelas que dão para o quintal. A parte social liga-se com a varanda através de um pequeno vestíbulo, que, ao que parece, deve ter possuído o mesmo requinte de acabamento que as salas.

vista lateral das janelas de rótula

Na parte de serviços, um amplo depósito para mantimentos, dois cômodos servindo de cozinha e mais um quarto ligam-se com o restante da edificação através de um corredor, aberto também para o quintal, o que de certa forma facilita tanto a ventilação quanto a iluminação dessa parte da residência. O piso é feito em tabuado largo na parte principal da casa e em mezanela na parte de serviços, com uma estreita calçada de pedras, na parte do quintal, acompanhando as paredes do edifício.
Tombado, adquirido e restaurado pelo Patrimônio Histórico Nacional, esse edifício sedia hoje o Museu da Casa Setecentista, com acervo ligado à história da região. A proteção desse monumento é feita

na esfera federal:
Processo 427-T-50
Inscrição 414, Livro das Belas Artes, fls. 79
Inscrição 302, Livro Histórico, fls. 51
Com data de 20 de março de 1954

na esfera estadual:
Pela Lei 8.915, de 13 de outubro de 1980

quarta-feira, 3 de março de 2010

seminário sobre a ferrovia: arquitetura e história

No ano em que se comemorou os 150 anos de implantação da ferrovia no Brasil (2004), como resultado de um Seminário organizado na Escola de Arquitetura Edgar Graeff, da Universidade Católica de Goiás, foi publicado o livro Ferrovia: 150 anos de arquitetura e história (Trilhas Urbanas, 2004), reproduzindo a totalidade dos trabalhos aí apresentados.
Congregando arquitetos e historiadores, o Seminário apresentou trabalhos relacionados à ferrovia em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, envolvendo professores de quatro universidades. Participando do livro, estão os seguintes trabalhos, com os respectivos autores:

- A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Mato Grosso do Sul
- Os edifícios ferroviários da Noroeste do Brasil em Campo Grande, MS: documentação preliminar
Ângelo Marcos Vieira de Arruda

- Arquitetura de Ipameri: resgate de uma memória
Aroldo Márcio Ferreira

- A Estrada de Ferro Goiás: uma análise histórica
Barsanufo Gomide Borges

- Estação ferroviária de Araguari: um ícone de transformação no modus vivendis de um povo através do tempo
Cristina Baesse

- Arquitetura da ferrovia em Goiás
Gustavo Neiva Coelho

- A cidade e a ferrovia
Karla Guedes

- O processo de transformação da paisagem urbana em Goiás: das cidades coloniais do século XVIII às cidades ferroviárias do século XX
Massila Lopes Dias de Mendonça
- Estudo sobre o tempo: as estações da Luz e da Sorocabana
Nádia Mendes Moura

- Ferrovia no estado de São Paulo: um contexto histórico
Silvia Traldi

terça-feira, 2 de março de 2010

a arte de Selma Parreira


A artista Selma Parreira, de quem já falamos aqui, em função de seu trabalho “lençóis esquecidos no rio Vermelho”, é uma das mais conceituadas artistas goianas e uma das principais gravuristas do estado.
Nascida na cidade goiana de Buriti Alegre, Selma Parreira licenciou-se em Desenho e Plástica, em 1980, pela Universidade Federal de Goiás, onde leciona desde 1993, na Faculdade de Artes Visuais. Posteriormente especializou-se em gravura, na cidade de Guanajuato, no México.
Ao longo de sua carreira realizou exposições individuais e tem participado de coletivas em Goiânia, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris, Tókio, entre outras localidades, apresentando trabalhos em acrílico sobre tela, desenhos, gravuras em metal e serigrafias. Alguns trabalhos seus podem ser encontrados em várias galerias de Goiânia, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Selma Parreira ao lado do gravurista e professor da FAV, ZéCésar, quando da exposição de seus trabalhos na galeria Beco das Artes.

galinha - gravura em metal com cor - 38 x 48

sem título - cáustica sobre papel artesanal - 50 x 35

sem título - acrílico sobre tela - 130 x 90