terça-feira, 9 de março de 2010

Vila Boa nos jornais XXIX

o jornal Nova Era, de 27 de novembro de 1919, publicou a seguinte matéria:

O MERCADO


O Exmo. Sr. Presidente do Estado tem ido diversas veses vizitar o nosso mercado, tomando assim conhecimento da maneira por que vão sendo executadas as medidas postas em prática por S. E.
Senti satisfação immensa quando há dias dias o vi entrar nesse pardieiro archaico que nos causa nojo e vergonha porque, embora S. E. tenha nascido e vivido aqui muitos annos, embora saiba o que é o edifício que nós chamamos mercado, julgo, e é muito provável, algum tempo de distancia da nossa capital o tenha feito esquecer o que é a hygiene e commodidade dessa instalação.
Agora fiquei sabendo que o Sr. Presidente gosta de conhecer as nossas necessidades, e que quanto a esse ponto elle as conhece de visu, o que é uma grande vantagem.
Já há tempos me vem martelando o espirito o dezejo de dizer umas tantas cousas sobre esse velho casarão e... francamente me via constrangido.
Não aprendi ainda a Ter o ar cathedratico, doutrinal e dogmatico que convém ao caso e me julgo ainda muito moço para dar conselhos a quem quer que seja, eu que sou avesso a recebe-los; mas, no terreno do interesse geral, quando se trata apenas de lembrar uma ideia, quando temos na administração quem se preocupa com o nosso progresso, devemos todos Ter ao menos franqueza de dizer o que pensamos já que nada podemos fazer.
A meu ver, o velho mercado deve ser desapropriado, abrindo-se alli uma rua em continuação á rua do Commercio, e, aproveitando-se o terreno do páteo, se construirá alli um ou mais edificios que não faltem em projectos (correios e telegraphos, palacio da justiça, etc.)
Para suprir a falta das ruinas demolidas seriam construidos pequenos mercados nas diversas entradas da cidade (Santa Barbara, Carioca, Moreira, João Francisco).
Parece-me que não seriam poucas nem pequenas as vantagens decorrentes dessa mudança; desde já vejo as seguintes:
-1. Embellezamento e arejamento da cidade com a rua do Commercio prolongada até a ponte do Dr. Neto, o que concorreria para melhor correspondência entre os habitantes da margem direita e esquerda do rio Vermelho.
-2. A descoberta do local para a construcção de diversos que agora todos perguntam para onde irão.
-3. Um melhor apparelhamento hygienico ao nosso abastecimento de viveres, ou antes algum apparelhamento pois que alli não existe nenhum.
-4. Maior facilidade para o publico que, em vez correr a um mercado central único iria ao mercado de Canastra, Santa Rita, da Aldeia ou do Registro.
-5. Melhor arrecadação das rendas que serão assim collectadas nas estradas forçadas, evitando o seu desvio.
-6. Com esta nova organização nunca mais seriam ouvidas queixas contra os commerciantes de generos que deixariam de estar nucleares.
Objectar-se-ia talvez o augmento de despezas, mas tal objecção seria nulla diante de uma pequena reforma que caberia muito bem em mercados pequenos; bastava que em cada um dos novos mercados existissem em vez de collectores e escrivães um collector e dous fiscaes.
Ora, acredito que só estas vantagens que agora me ocorrem, sem fallar naquellas que espiritos mais argutos possam descobrir, são sufficientes para nos encorajar na propaganda de similhante ideia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário