projetos de arquitetura na cidade de Catalão

No interior do estado de Goiás poucas são as prefeituras que apresentam preocupação com a preservação de arquivos de projetos arquitetônicos. Mesmo que alguns documentos possam ser encontrados, no geral, uma tradição impera: a de as prefeituras se desfazerem de seus arquivos para liberar espaço em suas salas e prateleiras. Um fato é digno de registro: como Catalão foi uma das cidades que mais se beneficiaram com a chegada da ferrovia a Goiás, em princípios do século XX, era de se esperar que apresentasse um rico arquivo de projetos (como acontece com Ipameri), tendo em vista a qualidade da arquitetura ali produzida, com edifícios considerados como referência para a história da arquitetura goiana. No entanto, o que a prefeitura daquela cidade conseguiu preservar foi apenas uma pasta, com um número irrisório de projetos, todos eles relativos ao ano de 1962.

Projeto de Antônio Coelho Vaz para edifício comercial em Catalão, em 1962.

detalhe do mesmo projeto

Se, por um lado, não se tem uma representatividade da produção arquitetônica da cidade em arquivo, por outro, dentro do que existe, é possível:
(1) ver o padrão construtivo ali empregado durante aquele ano em especial;
(2) verificar onde predominam as edificações residenciais para atendimento de uma determinada classe socioeconômica;
(3) analisar a tendência à apresentação de referências modernas, como o uso de telhas de cimento amianto, de elementos vazados, como decoração, e de pilares de tubo, pintados em cores fortes, na sustentação da cobertura do alpendre, que é representada apenas por uma laje plana de concreto. Muito daquilo que se divulgava como extremamente moderno, nas revistas especializadas da época, deixa, no entanto, de expressar tal modernidade na definição da planta, haja vista a inexistência da setorização, tão característica dos projetos representativos da arquitetura moderna.
Contrastando com esses projetos residenciais, aparecem ainda, nesse mesmo arquivo, alguns desenhos elaborados para edificações comerciais e mesmo mistas, em que a fachada apresenta elementos de composição próprios da arquitetura art déco, com platibanda escalonada e frisos verticais coloridos. Se se levar em conta que, em Goiânia, os últimos edifícios com tais características não ultrapassaram os meados da década de 1950, o fato de encontrar edificações com esses elementos decorativos, em 1962, em Catalão, é assaz interessante para o estudo da arquitetura dessa região do estado, que sempre se caracterizou por um relativo avanço em relação às demais.

Projeto de edifício residencial com características modernas na cidade de Catalão, em 1962.

detalhe do projeto mostrando a composição da fachada


Projeto de edifício misto (comercial e residencial), com elementos déco na fachada, na cidade de Catalão, em 1962.

detalhe do projeto apresentando os detalhes da fachada

Quanto ao arquivo da Prefeitura de Catalão, é interessante observar que, para uma cidade que apresenta edifícios de extremo requinte projetual, desde aqueles com características ecléticas até os com elementos do art déco e os modernistas, não existir referência documental que embase tal produção é, no mínimo, uma situação de incoerência.

Obs: os originais dos projetos aqui apresentados, pertencem ao arquivo do Centro Cultural Maria das Dores Campos, da cidade de Catalão.