sexta-feira, 29 de maio de 2009

Leone Ceva e o dèco em Ipameri

Waldemar Leone Ceva no início de sua carreira

Dos vários profissionais residentes em Ipameri, que trabalharam na elaboração de projetos arquitetônicos, o único a desenvolver propostas com características déco foi Waldemar Leone Ceva, que tendo atuado na década de 1920, com vasta produção eclética, chegou às décadas de 1950 e 1960 trabalhando também dentro dos conceitos do modernismo. Dono de uma versatilidade considerável, além de desenvolver seus projetos sempre em consonância com o momento, atuou também na elaboração de projetos de loteamentos, ordenamento urbano, e foi o responsável pelo levantamento cadastral da cidade, produzindo, na década de 1940, o melhor documento urbano da cidade.

planta cadastral da cidade, elaborada na década de 1940

Alguns projetos de Leone Ceva, com as características déco, já aparecem na década de 1930, como os desenvolvidos para as residências de Gustavo Leyzer, e de José Bernardo, ou os edifícios comerciais para José Antônio Mady e para Ana Tomé. São edifícios onde os elementos decorativos com características déco aparecem nas platibandas, de forma escalonada tanto no sentido vertical quanto horizontal, além de frisos sobre portas e janelas.
fachada da residência de Gustavo Leyzer

hotel pertencente a Ana Tomé

Ainda na década de 1930, um dos mais antigos projetos de Leone Ceva é o que foi elaborado como proposta de reforma para a residência de João de Brito, na Rua Padre Pezzutti, em 1936. Sendo o edifício original de características ecléticas, foram respeitadas sua volumetria e aberturas e acrescidos uma platibanda, elementos decorativos em relevo sobre as janelas e um alpendre lateral, com cobertura de laje plana e guarda-corpo vazado. Percebe-se nesse projeto a intenção do autor em promover mudanças no desenvolvimento de seu trabalho, sendo que ainda persistem as influências do que se exercitou durante praticamente uma década e meia.

proposta de reforma para a residência de João de Brito

No que se relaciona aos elementos decorativos próprios do déco, podemos ver esse modelo arquitetônico se organizando, de acordo com Margenat (1994, p.18), segundo três vertentes, em que em um primeiro momento temos o padrão construtivo vinculado à tradição histórica, utilizando elementos figurativos tradicionais; uma segunda corrente, em que predominam os elementos mais geométricos ou abstratos e uma terceira, em que predominam desenhos com linhas mais aerodinâmicas que buscam, de certa forma, um vínculo com a velocidade, que nesse momento da história representa todo um contexto de modernidade e visão futurista.
No caso da produção arquitetônica desenvolvida na cidade de Ipameri, com as características já mencionadas, vai ser a segunda dessas vertentes a que melhor ilustrará as edificações ali encontradas. Não são vistos nessa cidade edifícios déco que utilizem em sua decoração nem os elementos figurativos tradicionais nem as linhas aerodinâmicas, sendo que com tendência mais movimentada, só será visto um dos projetos participantes do concurso para a sede da Prefeitura Municipal e Fórum, da década de 1930. No restante são, no mais das vezes, linhas geométricas, retas, com ângulos acentuados e relevos que podem tanto se apresentar na decoração de portas e janelas quanto nas platibandas.

elementos decorativos na fachada do edifício pertencente a José Bernardino

Bem característico da arquitetura ipamerina é o uso de elemento decorativo funcionando como fiel de balança, marcando o eixo de simetria do edifício, que aparece sempre na forma de um escudo estilizado elaborado em ranhuras ou como um elemento vertical escalonado que, mesmo aparecendo de forma repetida – sempre com número ímpar – o volume colocado no centro da composição terá um destaque maior que os demais. Quando tais elementos são colocados em número par, sua função deixa de ser a de marcar o eixo e passa a dar apoio a outro qualquer elemento – porta principal, balcão, volume de marquise, etc – que se destaca como marcador do eixo de simetria.
Também no que se relaciona à pintura e ao acabamento de uma forma geral, a produção arquitetônica da cidade de Ipameri não fica a dever, bastando observar a quantidade de edifícios que apresentam, ainda hoje, resquícios da pintura em pó-de-pedra, característica daquele período. No caso específico desse processo de pintura, a própria areia encontrada no município e utilizada para tal fim, apresenta uma quantidade considerável de malacacheta, o que proporciona ao resultado final um brilho maior do que aquele normalmente encontrado nas pinturas do período. Grande foi também a produção de ladrilhos hidráulicos empregados nessas edificações, destacando-se os da Fundição Goiás e os do salão de espera do aeroporto de Ipameri.
obs: as imagens utilizadas nesse blog sobre a cidade de Ipameri, pertencem ao Instituto Simão Edreira, daquela cidade.

Um comentário:

  1. Cheguei nessa página do seu blog pesquisando sobre essa pessoa, Waldemar Ceva, pois consta na revista de Radio Amadorismo QTC nr 1 , de 1934 sendo o único radioamador daquela época de Goiás.

    Está na página 76 da revista, disponivel em :

    http://www.mediafire.com/download/9j4ui8kpkq3g9eb/QTCA001_Set1934.pdf

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