Processo
artístico em que Confaloni esteve envolvido por praticamente toda a sua vida
como pintor, não podemos deixar de mencionar, foi o afresco. Trata-se de uma
técnica de pintura mural, cujo nome provém do italiano fresco, consistindo na pintura executada, geralmente sobre uma base
preparada com gesso ou mesmo com uma nata de cal ainda úmida, onde o artista
trabalha utilizando pigmentos puros diluídos em água. Em decorrência dessa
maneira de aplicação da tinta sobre a base especificada, as cores penetram no
revestimento e, ao secarem, integram-se ao suporte em profundidade, deixando de
ser uma simples pintura, passando a integrar a superfície na qual foram
aplicadas. Nesse caso, o suporte para esse tipo de pintura pode ser uma parede,
um muro ou mesmo o teto de uma edificação, sendo que a durabilidade do trabalho
será tanto maior quanto mais seco for o clima da região, pois, em regiões de
clima úmido a possibilidade de rachaduras nos suportes – parede, muros ou tetos
– com prejuízo para a pintura é muito maior.
Segundo
Tirello (2001, p. 72), o afresco
é a pintura executada com
pigmentos destemperados, simplesmente com água pura sobre, sobre uma argamassa
ainda fresca. O processo do afresco usufrui a propriedade da cal de formar –
com a areia, a água e as cores – uma estrutura cristalina, resistente e
impermeável após a secagem.
Demanda,
esse processo, o uso de uma paleta de cores predominantemente minerais quase
(no dizer de Tirello) constantes e previsíveis. Já no século I, em seu Tratado
de Arquitetura, Vitrúvio (2006, p. 268), ao falar sobre os revestimentos em um
edifício diz que, no caso do afresco
as cores, quando são aplicadas
diligentemente com o revestimento húmido, não desaparecem, mas, por isso mesmo,
permanecem para sempre, porque a cal, ao ser cozida nos fornos, esvaída de água
e com porosidades, obrigada pela secura, apodera-se de tudo o que nela por
acaso toca; e, ao tornar-se sólida, congrega partículas ou elementos nas
misturas caracterizadas por várias propriedades, sendo formada por todas essas
partes do todo, de tal maneira que, ao secar, surge revelando as qualidades que
lhe são próprias.
Observa-se
ainda que não basta ao artista muralista o conhecimento da técnica e do
processo de preparo das cores. Esse tipo de trabalho requer ainda um bom
entendimento de composição e uso racional do espaço disponível, tendo em vista
a distribuição harmônica de planos e ângulos de visada.
E
foi exatamente o reconhecimento quanto ao valor do trabalho desenvolvido por
Confaloni no uso dessa técnica que despertou no bispo de Goiás o interesse por
ver afrescos de sua autoria expostos nas paredes da igreja do convento
dominicano da antiga Vila Boa. Observa-se ainda que, mesmo não sendo avaliado
previamente, o clima de Goiás era um fator que contribuía grandemente para o
desenvolvimento de tal processo artístico.
Afrescos da igreja do Rosário, em Goiás.
De
acordo com Silveira (1991, p. 24),
É no afresco “Jesus Cristo
Crucificado”, realizado três anos depois, durante a ocupação alemã, que vemos
manifestados os primeiros avanços do que seria o seu estilo característico
(...). É principalmente nas faces das figuras, nos pés de Cristo e no
tratamento do segundo plano que vemos pela primeira vez o nascente estilo do
artista, marcas de sua personalidade impressas na arte da pintura sacra.
No
entanto, apesar de já aparecerem nesse afresco as características que marcariam
para sempre sua produção, foi em um outro trabalho realizado cerca de dezesseis
anos mais tarde, para a mesma capela de São Pedro Apóstolo, que, ainda segundo
Silveira (1991, p. 24), Confaloni
dá mostras do vigor da técnica e
do avanço do enfoque, agora permitindo um tratamento mais solto. Nele, vemos
surgir, ainda que timidamente, o estilo que iria arrebatá-lo cada vez mais
(...). É, em tudo, um trabalho onde surpreendemos o artista antevendo sua
verdadeira arte, trilhando decididamente o caminho que o levaria longe.
Antes
de embarcar para o Brasil, frei Confaloni, na seqüência do processo de
desenvolvimento de sua formação como artista já havia participado de algumas
exposições na Itália, destacando-se entre elas, o Salão Minerva de 1948, em
Roma e de uma Coletiva em Milão, no ano seguinte.
pintura mural na capela particular dos padres Dominicanos em Goiás
Seu
primeiro trabalho artístico no Brasil, como estava previsto, constituiu-se da
execução de quinze painéis em afresco, representando a via sacra e a coroação
da Virgem, no interior da igreja de N. S. do Rosário, ligada ao convento
dominicano da cidade de Goiás. Trabalho já amadurecido em seus conceitos
estéticos e ligado às tendências do modernismo europeu que, diga-se de
passagem, foi totalmente incompreendido pela população vilaboense que chegou
mesmo a hostilizar o artista. Mas também, como não hostilizar,
se já não bastasse um padre
pintor e que, às vezes, andava em público sem batina – excentricidade máxima
para os devotos daqueles tempos – como não se chocar com aquelas “figuras
grotescas”, cujas anatomias “distorcem os ângulos de visão dos observadores?”
(Silveira, 1991, p. 31),
numa pintura que
apresentava o Cristo com uma expressão pouco usual, representava Nossa Senhora
no momento da anunciação, insinuando sua gravidez, tudo isso em meio a figuras
fantasmagóricas que mais assustavam que convenciam dos fatos religiosos ali
retratados.
painel sobre os desbravadores na estação ferroviária de Goiânia
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