terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A arte de Elder Rocha Lima

CERRADOS, VEREDAS E GERAIS

               (PINTURA, DESENHOS E GRAVURAS)
  

              
Após receber o título de Doutor Honoris Causa, na PUC-GO, Elder Rocha Lima pensou em fazer uma exposição que fosse quase uma mostra retrospectiva de seu trabalho. No entanto, questões ocorridas no desenvolvimento do processo acabaram por transformar a mostra em uma de suas melhores exposições, mostrando o fôlego, a expressão e a criatividade com que o artista desenvolve o seu trabalho. Também para a galeria Beco das Artes, onde a exposição aconteceu, foi  um momento de real importância, com a apresentação dos trabalhos de um dos mais expressivos artistas goianos.
As peças apresentados nessa mostra, ainda que perdendo a caracterização como uma intenção de retrospectiva tem a função de trazer ao conhecimento daqueles que se interessam por arte em Goiás, a obra de um dos principais artistas goianos cuja produção se concentra na segunda metade do século XX e início do XXI.
De acordo com o próprio artista, representam esses trabalhos “mais um exemplo de temas prediletos e algumas técnicas preferidas que cercam meu trabalho há mais de 40 anos, representando variados tempos individuas de produção”, estando aí presentes as pinturas em tela, as gravuras e alguns desenhos em bico-de-pena, com temática predominantemente “vinculada à paisagens urbanas de nossas cidades goianas do período colonial e vistas do cerrado, campos gerais, veredas e matas de galeria. As cidades representadas são Cidade de Goiás, Pirenópolis e Corumbá de Goiás”.


Nessas paisagens, tanto as urbanas quanto as rurais, o que o artista pretende, sobretudo, é imprimir sua total empatia com o cenário paisagístico goiano, sem marcar nenhuma intenção direta ou indireta de pronunciamento ou de bandeira de defesa ecológica.
O que ele busca com a seleção dos trabalhos aqui expostos é o seu enquadramento no panorama cultural do planalto central, especificamente daquilo que se vem conceituando denominar como cultura cerratense e/ou cultura goiana, entendendo de maneira especial o que se pretende como regional é o melhor caminho que conduz a um universo cultural de maior amplitude.
Constitui-se essa mostra de 13 telas, pinturas trabalhadas com a técnica de têmpera vinílica sobre tela, com as dimensões de 70 x 90cm. As tintas utilizadas são preparadas pelo próprio artista, em seu ateliê, e enquadram-se na classificação genérica de tintas acrílicas.
Quanto ao processo de trabalho, é perceptível a preferência de Elder Rocha Lima pelo gestualismo, onde se apresenta uma expressiva liberdade no ato de pincelar, sem qualquer controle ou pretensão disciplinadora. A soma de gestos é que formata a composição, conferindo à tela ou ao desenho esse aspecto aparentemente caótico, principalmente no que se relaciona aos detalhes, tendo, no entanto que se admitir a existência de efeitos ocasionais de forte expressividade.


Esse aparente caos, de acordo com Elder Rocha Lima, “aproxima-se do cerrado no seu aspecto fractal, ao invés de uma fisionomia próxima a geometria euclidiana. Essas observações não pretendem ‘explicar’ minhas condutas pictóricas, mas sim esclarecer alguns aspectos da minha fatura plástica”.
E é a recente e intensa convivência, com a cidade de Pirenópolis que, provavelmente, determinou o eixo condutor dessa exposição, onde a maioria das telas representa paisagens extraídas de andanças pela Serra dos Pireneus, onde as largas visadas, os amplos horizontes comparecem dentro de todo um conceito artístico e de vivência já experimentados por Elder Rocha Lima.
Embora não negue a influência de certos artistas ditos acadêmicos, a forma como os trabalhos de Elder são desenvolvidos, demonstra uma clara concepção espacial, totalmente livre, indo da perspectiva renascentista à perspectiva paralela dos artistas orientais, ambas utilizadas por ele como fonte inesgotável de pesquisa. Momento em que essa perspectiva paralela pode ser observada com maior intensidade é na produção de naturezas-mortas, em que o artista usa de total liberdade, conseguindo as visadas que tão bem caracterizam seu trabalho.
Utilizando o papel como suporte, encontramos nesta mostra, dez trabalhos onde foram utilizadas as técnicas gráficas de desenho a nanquim (bico-de-pena), monotipia (cópia única), serigravura, fusain e aquarela. Alguns desses trabalhos são declaradamente figurativos como os desenhos de figura humana e as cenas urbanas de caráter regional; outros apresentam intenção plástica mais livre, chegando mesmo ao nível da abstração.



Os trabalhos apresentado nessa exposição são, em sua maioria de cunho figurativo, com certas características intencionalmente documentais, trabalhados, no entanto, com liberdade estilística e, em certos casos, conscientemente contida e limitada por esse determinante.
Para esse mês de dezembro de 2013, Elder Rocha Lima já prepara outra exposição na galeria Beco das Artes, com o título "Experimentações sobre Papel", com desenhos e pinturas e técnica mista , tudo sobre papel, uma das grandes paixões do artista.

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