CERRADOS, VEREDAS E GERAIS
(PINTURA, DESENHOS E GRAVURAS)
Após receber o título de Doutor Honoris
Causa, na PUC-GO, Elder Rocha Lima pensou em fazer uma exposição que fosse
quase uma mostra retrospectiva de seu trabalho. No entanto, questões ocorridas
no desenvolvimento do processo acabaram por transformar a mostra em uma de suas
melhores exposições, mostrando o fôlego, a expressão e a criatividade com que o
artista desenvolve o seu trabalho. Também para a galeria Beco das Artes, onde a exposição aconteceu, foi um momento de real importância, com a apresentação dos trabalhos de um dos mais expressivos artistas goianos.
As peças apresentados nessa mostra,
ainda que perdendo a caracterização como uma intenção de retrospectiva tem a
função de trazer ao conhecimento daqueles que se interessam por arte em Goiás,
a obra de um dos principais artistas goianos cuja produção se concentra na
segunda metade do século XX e início do XXI.
De
acordo com o próprio artista, representam esses trabalhos “mais um exemplo de
temas prediletos e algumas técnicas preferidas que cercam meu trabalho há mais
de 40 anos, representando variados tempos individuas de produção”, estando aí
presentes as pinturas em tela, as gravuras e alguns desenhos em bico-de-pena,
com temática predominantemente “vinculada à paisagens urbanas de nossas cidades
goianas do período colonial e vistas do cerrado, campos gerais, veredas e matas
de galeria. As cidades representadas são Cidade de Goiás, Pirenópolis e Corumbá
de Goiás”.
Nessas paisagens, tanto as urbanas quanto
as rurais, o que o artista pretende, sobretudo, é imprimir sua total empatia
com o cenário paisagístico goiano, sem marcar nenhuma intenção direta ou
indireta de pronunciamento ou de bandeira de defesa ecológica.
O que ele busca com a seleção dos
trabalhos aqui expostos é o seu enquadramento no panorama cultural do planalto
central, especificamente daquilo que se vem conceituando denominar como cultura
cerratense e/ou cultura goiana, entendendo de maneira especial o que se
pretende como regional é o melhor caminho que conduz a um universo cultural de maior
amplitude.
Constitui-se essa mostra de 13 telas,
pinturas trabalhadas com a técnica de têmpera vinílica sobre tela, com as
dimensões de 70 x 90cm. As tintas utilizadas são preparadas pelo próprio artista,
em seu ateliê, e enquadram-se na classificação genérica de tintas acrílicas.
Quanto ao processo de trabalho, é
perceptível a preferência de Elder Rocha Lima pelo gestualismo, onde se
apresenta uma expressiva liberdade no ato de pincelar, sem qualquer controle ou
pretensão disciplinadora. A soma de gestos é que formata a composição,
conferindo à tela ou ao desenho esse aspecto aparentemente caótico,
principalmente no que se relaciona aos detalhes, tendo, no entanto que se
admitir a existência de efeitos ocasionais de forte expressividade.
Esse aparente caos, de acordo com Elder
Rocha Lima, “aproxima-se do cerrado no seu aspecto fractal, ao invés de
uma fisionomia próxima a geometria euclidiana. Essas observações não pretendem
‘explicar’ minhas condutas pictóricas, mas sim esclarecer alguns aspectos da
minha fatura plástica”.
E é a recente e intensa convivência, com
a cidade de Pirenópolis que, provavelmente, determinou o eixo condutor dessa
exposição, onde a maioria das telas representa paisagens extraídas de andanças
pela Serra dos Pireneus, onde as largas visadas, os amplos horizontes
comparecem dentro de todo um conceito artístico e de vivência já experimentados
por Elder Rocha Lima.
Embora não negue a influência de certos
artistas ditos acadêmicos, a forma como os trabalhos de Elder são
desenvolvidos, demonstra uma clara concepção espacial, totalmente livre, indo
da perspectiva renascentista à perspectiva paralela dos artistas orientais,
ambas utilizadas por ele como fonte inesgotável de pesquisa. Momento em que
essa perspectiva paralela pode ser observada com maior intensidade é na
produção de naturezas-mortas, em que o artista usa de total liberdade,
conseguindo as visadas que tão bem caracterizam seu trabalho.
Utilizando o papel como suporte,
encontramos nesta mostra, dez trabalhos onde foram utilizadas as técnicas
gráficas de desenho a nanquim (bico-de-pena), monotipia (cópia única),
serigravura, fusain e aquarela. Alguns desses trabalhos são
declaradamente figurativos como os desenhos de figura humana e as cenas urbanas
de caráter regional; outros apresentam intenção plástica mais livre, chegando mesmo
ao nível da abstração.
Os
trabalhos apresentado nessa exposição são, em sua maioria de cunho figurativo, com certas
características intencionalmente documentais, trabalhados, no entanto, com
liberdade estilística e, em certos casos, conscientemente contida e limitada
por esse determinante.
Para esse mês de dezembro de 2013, Elder Rocha Lima já prepara outra exposição na galeria Beco das Artes, com o título "Experimentações sobre Papel", com desenhos e pinturas e técnica mista , tudo sobre papel, uma das grandes paixões do artista.
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