sábado, 27 de março de 2010

arquitetura rural de Goiás V

fazenda Olaria, na região do rio Corumbá

Provavelmente a construção mais antiga encontrada na área de estudo, a sede da fazenda Olaria se apresenta completamente fora dos padrões conhecidos no que se relaciona a arquitetura rural no estado de Goiás.
Edifício de grandes dimensões, demonstra haver sido essa propriedade, elemento de considerável influência na região. Tem sua implantação seguindo a tradição, com o curral estabelecido à sua frente, utilizando, no entanto, um muro de pedras de junta seca seguindo o eixo longitudinal da edificação, separando o curral do quintal, o que é complementado por um corte que aproveita a declividade acentuada do terreno.

fachada anterior vista de dentro do curral

Toda estruturada em madeira lavrada, com demonstração de grande preocupação quanto ao alinhamento dos esteios, apresenta a cobertura apoiada em pontaletes que, no entanto, não estão estruturados – como seria de se esperar – sobre a viga longitudinal que se apóia na principal divisão do edifício. Isso faz com que a cumeeira não se encontre situada no eixo do edifício e, mesmo que a cobertura seja em quatro águas, aquela que se volta para a parte posterior da edificação se apresenta com maiores dimensões, o que faz com que o pé direito junto à fachada principal seja maior que o da fachada posterior.

vista posterior do edifício, mostrando o desnível do terreno

Provavelmente, em decorrência de não se encontrar mais em uso, como demonstra haver sido utilizada em outros tempos, não apresenta mais em seu entorno as construções complementares de engenho, monjolo e mesmo os locais de cria e engorda de animais de pequeno porte. É claro o seu estado de abandono. Ao lado da casa, um pequeno paiol, construído em madeira se encontra em estado adiantado de deterioração. Restos de estruturas do que teriam sido outras edificações, podem ainda ser observados em seu entorno.

Organização interna

Diferente de tudo o que se conhece em arquitetura vernacular em Goiás, quer urbana quer rural, a sede da fazenda Olaria apresenta um grande número de cômodos, estabelecidos de forma modular, apresentando larguras muito próximas umas das outras, sendo que os comprimentos apresentam variação de cerca de mais de um metro, fazendo assim com que a parede que seria o eixo longitudinal do edifício se apresente deslocado em relação ao eixo de simetria. Com isso, os cômodos voltados para a parte frontal da casa apesar de apresentar largura igual aos dos demais, possuem comprimento maior do que os que se voltam para os fundos.
Construída toda em adobe e pau-a-pique, apresenta alguns cômodos com piso em tabuado corrido e outros em que a madeira já foi substituída por cimento queimado.
Apesar de estabelecido de forma diferente, o programa não foge ao tradicional, com sala de visitas, varanda e cozinha, desnível (28 cm) que, nesse caso, se apresenta acompanhando a parede central longitudinal, estando assim, não só a parte de serviços em um plano mais baixo, mas todo um lado da casa notadamente e no sentido longitudinal, toda a parte voltada para os fundos.
Outra questão que diferencia esse edifício de todos os demais encontrados no estado é o fato de que, no sentido longitudinal, existem dois eixos de comunicação, em que todos os cômodos ficam interligados, eliminando qualquer possibilidade de privacidade. Tais eixos se apresentam de forma a colocar todas as portas alinhadas e com as mesmas medidas, variando, quando muito, em dois centímetros no máximo. Com isso, a edificação deixa de apresentar, de forma visível e de fácil identificação, o que poderia ser entendido como o quarto de hóspedes.

detalhe da estrutura de sustentação da cobertura

Além da substituição do piso de alguns dos cômodos por cimento queimado, é possível perceber outras alterações ocorridas ao longo do tempo, como alargamento de vão, subdivisão de cômodo com a instalação de um pequeno banheiro e o emparedamento de uma janela que originalmente ligava dois cômodos, internamente. Tudo isso feito com material moderno, como tijolo furado e esquadria de metal.
Dos três acessos principais ao interior da edificação, um, o principal, é feito pela sala de visitas, através do curral e os demais, ligando o interior ao quintal, são feitos através da varanda, ficando, nesse caso, a cozinha isolada e com um mínimo de ventilação e iluminação, feitos por duas pequenas janelas, sendo que uma delas se abre sobre parte do fogão caipira.
Em decorrência do desnível do terreno, o nível interno da edificação se encontra cerca de 20 cm acima do terreno na parte anterior e cerca de 140 cm na parte posterior.
Atualmente o quarto situado à direita da sala de visitas se encontra dividido em dois, em decorrência da colocação aí, de uma divisória de madeirite, estando meio quarto voltado para a sala de visitas e a outra parte para a varanda. E, no extremo oposto, o último quarto, no alinhamento da sala, apresenta porta para o exterior, na lateral e atualmente é utilizado com quarto de arreios.

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