quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vila Boa nos jornais XXXI

O Jornal de Goyaz, de 13 de fevereiro de 1921, publicou a seguinte matéria:

ESCOLAS


Um dos expoentes mais significativos do grau de civilização de um povo é a escola, comprehendido nesse termo o conjuncto de methodos de ensino, material e edifícios.
O estado de São Paulo installa as suas escolas em verdadeiros palacios. Os outros estados da União esforçam-se para seguirem-lhe o exemplo; provam-n’o as photographias de edifícios escolares a miudo publicadas nas revistas ilustradas do Rio. Os que assim precedem comprehendem que o futuro da nacionalidade elabora-se na escola.
E Goyaz? Ouçamos o que diz o Sr. Dr. Intendente Municipal da capital, em mensagem apresentada ao conselho em 22 de novembro último: “O ensino entre nós ainda está na sua forma primitiva”; mais adiante: “Outra questão de maximo interesse é a dos edifícios onde funccionam as escolas; acanhados, sem ar, sem luz, é um verdadeiro crime deixar que alí, aglomeradas, periclite a saude dessas creanças que frequentam as novas escolas”.
É um verdadeiro crime, diz o Governador da cidade, que é também médico, e não há outro qualificativo mais enérgico.
Conversando a respeito, há pouco tempo, com illustre sacerdote que tem dado immensas provas de amor a nossa terra, ouvi delle conceitos altamente honrosos para as devotadas professoras e a condemnação mais formal dos edifícios e material escolar que lhes são fornecidos e que havia tido occasião de observar, como membro de bancas examinadoras no ultimo ano escolar.
Que poderemos esperar da geração de goyanos que passa por taes escolas? Não estará nas escolas primárias a causa mater dos maus fados que perseguem o nosso estado e de que já se queixava o Presidente Couto de Magalhães?
O destino de cada povo, assim como o destino de cada homem, é o resultado de sua capacidade para a comprehensão e aplicação das leis moraes que regem toda a creação. Toda queixa contra o destino redunda em confissão de incapacidde.
Regularizado o trafego de automóveis entre a capital e Roncador, é provavel que a nossa capital, como está acontecendo com a de Matto Grosso, seja visitada por homens de destaque social, curiosos de conhecer a capital mais central do mais central estado do Brazil. Lá estão em companhia do General Rondon, o Dr. Altino Arantes, ex-Presidente de São Paulo e o Senador Botelho, ex-secretario da Agricultura do mesmo estado. Entre as homenagens prestadas pelo presidente Dr. Aquino aos illustres visitantes, noticia a imprensa um banquete no palacio da Instrucção. A instrucção tem pois em Cuyabá um palacio digno de ser mostrado aos antigos membros do governo do estado que desenvolve com maior carinho o ensino e educação do povo.
Quando recebermos visitas semelhantes, e estas desejarem conhecer nossas escolas, mostrar-lhes-emos o que ahí está?
Se o fizermos deixaremos de ser apenas victimas dos motejos que nos perseguem, e sel-ohemos tambem das mais severas e justas recriminações.
Ainda é tempo para o actual (...) suas vistas para este problema. O Sr. Desor. Alves de Castro, que dotou o ensino primario com um regulamento modelado nos modernos e adeantados princípios pedagógicos, poderia, si quizesse, completar sua obra, lançando as bases para a construcção de um modesto, mas amplo e hygienico edifício no centro da cidade que possa ser mostrado aos estranhos e em que fossem reunidas as escolas primarias da capital. Completaria assim Sua Exia., a obra encetada na sua passagem pela secretaria da instrucção.
Nenhuma applicação melhor poderá ser dada à parte do saldo existente nos cofres do estado e mesmo que não existisse, nenhum emprestimo mais justo se poderia efectuar do que o que fosse applicado em beneficiar a futura geração.
O exemplo estimularia a edificação de outros edifícios semelhantes nas cidades goyanas e que poderiam ser ornados, como se faz em São Paulo e Minas, com os nomes dos goyanos beneméritos, credores dessa homenagem, que outras como hermas, estatuas a nossa pobreza não permitte erigir.
Ahí fica mais uma ideia que, como as outras que tenho apresentado, servirá apenas para provocar um bocejo no leitor descrente. Terei ainda assim prestado um minusculo seviço: o bocejo, dizem os phisiologistas, é util ao organismo.

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