segunda-feira, 13 de abril de 2009

iconografia vilaboense V

Prospecto de Villa Boa tomada da parte do Sul para o Norte no anno de 1751

Tomado em posição contrária ao primeiro desenho, o que se vê nesse segundo prospecto é, em primeiro plano a Rua dos Mercadores, facilmente identificável pelo fato de todas as casas só apresentarem portas, finalizada no adro da Igreja de N. S. da Lapa, número 10 da legenda, pertencente à Irmandade dos ocupantes dessa mesma rua. Com uma única torre, apresenta o cruzeiro deslocado, sugerindo a existência de um pequeno largo lateral, e não frontal, como aparece normalmente nas plantas da cidade.
Também aqui, a grande massa de concentração de edifícios se encontra no lado do arraial, podendo ser visto o largo da Vila ao fundo, ainda rarefeito de construções.
Ao contrário do anterior, não apresenta em sua legenda, nomes de moradores ilustres, ou indicação da residência de políticos ou funcionários de importância para o local. As referências feitas, prendem-se aos edifícios relevantes, como as recém inauguradas Cazas da rezidencia do General, atual Palácio Conde dos Arcos, mostrando desde essa época sua composição com três faces, o portão lateral e a casa da guarda, voltada para o beco que separa esse conjunto da Igreja Matriz. Aparece ainda, do lado do Arraial, a monumental Igreja Matriz de Nossa Senhora Sant’Anna, que, segundo a documentação existente, teria sido iniciada em 1734, quando o Ouvidor Geral de Goiás, Manoel Antunes da Fonseca,

Resolveu demolir a antiga capela de mesma invocação construída pelos fundadores do Arraial, em 1727, e em seu lugar edificar outra com dimensões mais adequadas às necessidades impostas pelo crescente número de habitantes dessa região mineradora (Coelho, 1999, p.53).

Causa uma certa estranheza perceber um edifício de tão grandes proporções, que se bem observadas, correspondem a praticamente o que existe hoje no local, haver sido edificado em tão pouco tempo. Provavelmente venha daí a precariedade de suas estruturas, que, ao longo do tempo, fizeram com que esse edifício permanecesse em tempo integral na relação das obras públicas da Capitania e da Província, com reformas e reconstruções.

Ao fundo, na região demarcada para instalação da Vila, o número 8, representando a casa da Real Intendência, um sobrado, aliás, convém mencionar, um dos raríssimos sobrados setecentistas de Vila Boa, situado ao lado do Quartel dos Dragões; a primitiva Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, edificada no centro do Largo e construída seguindo um padrão tradicional da colônia, com a fachada representada por uma ampla porta de acesso, duas janelas na altura do coro e uma modesta estrutura de madeira, ao lado, sustentando o sino. Logo a seu lado, as instalações, em local demarcado pelo Conde D’Alva, da Casa de Câmara e Cadeia, edifício de um único pavimento com cobertura em três águas - o atual só seria concluído quinze anos depois - onde, não só pela forma de numeração, mas pela representação das aberturas, é possível perceber a separação de funções definida pela independência dos acessos.
Complementa a relação de edificações legendadas, a pequena capela de passo, que já não existe mais, localizada, no canto do terreno hoje pertencente ao Colégio Santana, das Irmãs Dominicanas, na esquina do Beco São Cristóvão, à época denominado Travessa Amena.
Aparece ainda, na legenda, provavelmente por sua importância junto à população, os consistórios das irmandades do Santíssimo e do Senhor dos Passos, sediadas do lado da Epístola da Matriz. Convém observar que nos dias de hoje, a Irmandade do Senhor dos Passos é a única que ainda existe na cidade, estando seu consistório sediado, desde a segunda metade do século XIX, a pequena Igreja de São Francisco de Paula.
Existe ainda, no entorno e mesmo entremeando as construções, um expressivo número de árvores de porte considerável, inclusive junto à Rua Direita, que nesse desenho aparece com ocupação apenas de um lado, como se fosse um Largo e não a rua estreita que conhecemos hoje e que aparece tão bem representada nas plantas elaboradas ainda no decorrer do século XVIII. Observa-se a presença dessa vegetação não só no espaço privado, que seria representado pelos quintais, mas também no espaço público, junto ao Largo da Matriz e mesmo no centro do Largo da Cadeia, ao lado da Igreja da Boa Morte e entre a Câmara e a Capela de Passo.
Apesar de não ser a perspectiva um dos atributos do autor dos desenhos, é possível identificar, pela posição das casas, a já iniciada a ocupação da Rua do Horto, que aparece na documentação setecentista como Rua do Médico.

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