Pelo que se tem notícia, através da documentação oficial produzida em Goiás, durante os séculos XVIII e XIX, muito pouco se investiu na elaboração de projetos para a construção de edifícios oficiais, em especial na capital, Vila boa, onde era de se esperar, tal procedimento acontecesse com maior freqüência.
Alguns já desaparecidos, ou pelo menos ainda não localizados, como os dois levados a efeito para a Igreja Matriz, um paulista e outro lisboeta. Outros, conhecidos e executados, mesmo que com algumas modificações, como é o caso da Casa de Câmara e Cadeia, atual Museu das Bandeiras e mesmo aqueles, elaborados, de paradeiro conhecido, mas não executados, como os que foram desenvolvidos para a construção de uma nova enfermaria e reforma do quartel dos dragões, e o outro, do mesmo autor, para ampliação do quartel, datados respectivamente de 1862 e 1874, ou ainda o da Escola de Aprendizes Militares, de 1882.
Casa de Câmara e Cadeia, projeto original do Arquivo Ultramarino, em Lisboa
Interessantes projetos de reforma podem também ser encontrados, como o da Casa de Fundição que passa a sediar o Depósito de Artigos Bélicos e o de uma pequena capela nos arredores da cidade para a Casa da Pólvora.
Nos projetos elaborados na segunda metade do século XIX é possível perceber a preocupação de seus autores em situar Goiás dentro de um contexto geral do Império, imprimindo ao edifício a ser construído, as características gerais da arquitetura neoclássica, representativa do período, mesmo que preservando, para o edifício tradicional, do quartel, as características tradicionais da arquitetura portuguesa do Brasil colônia.
projeto para a enfermaria militar, anexa ao Quartel do XX
Demonstra, o projeto para a enfermaria, também a preocupação quanto à setorização das atividades, estruturadas seguindo uma hierarquia, em que as salas destinadas à burocracia ficam em primeiro plano, no bloco correspondente à fachada principal; as relacionadas à atividade específica a que se destina a edificação, em um plano intermediário, e, as de serviço, na porção posterior do edifício. Preocupações também expressas nesse projeto são aquelas relacionadas ao abastecimento de água e rede de esgoto, com a implantação no pátio, de um poço, no mesmo alinhamento do já existente para abastecimento do quartel e a representação da canalização de escoamento, passando pela Rua das Flores, citada nos textos como Rua da Boa Morte, atual Rua Felix de Bulhões.
Nesse período, aparece também a informação de projetos para reformas, como é o caso do Depósito de Artigos Bélicos, elaborado pelo mesmo Oliveira Lobo, e orçada a obra em 5:655$125 réis, e das casas que provisoriamente sediavam a enfermaria; construção de um novo açougue e mercado, referenciados nos vários relatórios de governo, elaborados durante o decorrer do século XIX.
Entretanto, quer pela representação arquitetônica, quer pela importância como edifício público ou preservação enquanto documentos, são só projetos da Casa de Câmara e Cadeia e da Enfermaria Militar, acompanhado este último da reforma do Quartel dos Dragões, as mais importantes representações gráficas e arquitetônicas de Goiás, no oitocentos.
projeto de ampliação do Quartel, com características neoclássicas
Interessante documento que mostra a preocupação dos governos provinciais com as melhorias urbanas é a planta da cidade levantada e organizada pelo engenheiro Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim em 1883/84. Tal documento indica a localização de todos esses edifícios projetados, tanto os construídos, quanto aqueles que, por falta de recursos, jamais saíram do papel, mostrando inclusive aqueles que, em seus endereços provisórios, esperavam pela construção definitiva que nunca viria a ser executada.
Por essa época, os códigos de posturas já eram uma preocupação constante em praticamente todos os núcleos urbanos no interior de Goiás. Entretanto, nem os códigos, nem os projetos e nem os levantamentos urbanos que resultaram nos mapas de 1863 e 1864 podem ser vistos como tentativa de planejamento para a capital goiana no decorrer do século XIX, já que por essa época esse núcleo se encontrava estabelecido e consolidado. Vila Boa foi, assim, um núcleo implantado no calor da exploração mineradora, para o que concorreram o conhecimento tradicional da população aí estabelecida, a determinação real, através da carta de 11 de fevereiro de 1736 e algumas tentativas pontuais de ordenação e orientação do crescimento urbano da vila capital.
Projetos para edifícios religiosos, apenas se tem notícias daqueles dois elaborados para a Matriz, mesmo que se possa observar grande qualidade construtiva nas igrejas da Boa Morte, Abadia e Carmo. Para edifícios oficiais, projetos foram elaborados apenas para a Casa de Câmara e Cadeia, Quartel de Aprendizes Militares e Enfermaria Militar, sendo o primeiro do século XVIII e os demais já da segunda metade do século XIX, não estando nenhum deles vinculado a um plano global de planejamento.
planta da cidade de Goiás, a partir de levantamento feito pelo eng. Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim
No entanto, nenhuma dessas intervenções pode ser entendida no sentido de incluir Vila Boa no conjunto de vilas planejadas do período colonial. Foi sim, um núcleo de formação espontânea, decorrente das necessidades imediatas dos mineradores que, a partir do momento em que teve a Vila demarcada em suas redondezas, sem projeto, percebeu seu crescimento definido pela completa ocupação do núcleo original que, com o tempo abarcou o território definido para a Vila, da mesma forma natural e orgânica com que sempre se apresentou.