domingo, 13 de dezembro de 2009

José Amaral Neddermeyer e Sociedade Bíblica Americana

Instalada no Brasil desde o ano de 1877, a Sociedade Bíblica Americana, ao completar cem anos de existência considerou de grande importância para seus trabalhos em território brasileiro, a construção de uma sede própria, que deveria, segundo seus representantes no país, ser construída na capital federal, cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com material publicitário da época, a direção geral da Sociedade autorizou a compra de um terreno, e, para a construção foi organizado um concurso de projetos, sendo escolhido pela comissão julgadora organizada pela Prefeitura do Distrito Federal, aquele apresentado por José Amaral Neddermeyer. Ainda segundo o material publicitário da Sociedade Bíblica,

Por uma circumstancia especial foi adquirido um lote de 19 metros de frente com 17 metros de fundos sito à Rua VII, nos terrenos da Esplanada do Castello. A escriptura da compra foi assignada aos 3 de julho de 1931. realizou-se a cerimônia de abrir a terra para iniciar a obra da construcção do edifício aos 16 de fevereiro de 1932. em 11 de janeiro de 1933 a Companhia constructora entregou o edifício com o respectivo “habite-se” das autoridades municipaes e em 16 de fevereiro, justamente o primeiro anniversário da cerimônia do início da obra, realizou-se a inauguração official.

Apesar de apresentar uma série de referências ecléticas – notadamente vinculadas à decoração neogótica – e da informação do material publicitário dizendo ser um projeto de estilo gótico, são claras as linhas e tendências modernas expressas pelo projeto ganhador do concurso. Começam a surgir nos projetos de Neddermeyer, os elementos arquitetônicos próprios do Art Déco que vão marcar a quase que totalidade de sua produção após sua transferência para a capital de Goiás, já na segunda metade da década de 1930. Tais elementos comparecem nos dois estudos selecionados por ele para o concurso, apesar de só haver apresentado um deles.

o edifíco em construção mostrando seu entorno ainda desocupado.

As linhas retas, o equilíbrio de formas, o escalonamento de volumes e jogo entre cheio e vazio indicam as novas preocupações que começam a instigar o arquiteto no desenvolvimento de sua obra. Não é ainda um projeto desenvolvido dentro dos conceitos próprios dessa modernidade que começa a se impor, mas fica claro o interesse do arquiteto por tais estilemas, principalmente quando se observa a forma como foram elaborados os estudos – não apresentados – para a fachada principal, assim como para os detalhes de vidros, ferragem artística e relevo em massa apostos ao parapeito superior do edifício.

detalhe da fachada, onde ainda se interpõem elementos ecléticos e art déco

modelo de luminária desenvolvido para o hall de entrada

A fachada posterior, organizada em dois blocos, e onde os elementos decorativos são menos explícitos, o caráter moderno se faz ainda mais presente.
Provavelmente, por exigência da Sociedade Bíblica, alguns elementos decorativos de caráter simbólico-religioso foram aplicados na fachada do edifício. De acordo com o material publicitário publicado à época,

Na parte mais alta há um emblema que fica iluminado á noite e póde ser visto de longe. Mais abaixo vê-se um livro aberto, representando os dez mandamentos. Vem depois o sinete, cuja forma redonda representa o globo terrestre; a Bíblia aberta que se vê no meio traz os dizeres: “Examinae as Escripturas”: a lâmpada significa que este livro é a luz do mundo. Vê-se depois os quatro symbolos escolhidos da arte religiosa histórica, que são, da esquerda para a direita: 1°) um homem com a Bíblia aberta na mão, representando o Apostolo São Matheus, 2°) um leão representando o Apóstolo São Marcos, 3°) um touro, representando o Apostolo São Lucas e 4°) uma águia, representando o Apostolo São João,

O que, no geral dá o caráter neogótico com que se apresenta a decoração encontrada na fachada principal do edifício.
O que de percebe diferenciando os dois estudos elaborados por Neddermeyer é o fato de aparecerem no segundo, o que concorreu e ganhou o concurso, a aplicação de elementos decorativos de caráter historicista, com o uso de arco coroando a porta principal de acesso, além da colocação de luminárias de desenho estilizado compondo a moldura dessa mesma porta, o que não aparece no primeiro estudo, de caráter mais moderno.
O vestíbulo apresenta uma série de arcos semi-ogivais com detalhes decorativos reproduzindo elementos utilizados no desenho das luminárias, sendo estas, em conjunto com as encontradas na parte externa do edifício, desenhadas e detalhadas como parte integrante do projeto.

projeto apresentado por Rafael Galvão.
projeto com o qual concorreu o escritório Pena Firme.

projeto apresentado por Edgar Viana.



Participaram também desse concurso os arquitetos Raphael Galvão, Pena Firme e Edgar Viana, apresentando, todos eles, projetos com características bem marcantes da arquitetura déco, sondo o de Galvão desenvolvido todo em linhas retas, com grandes aberturas horizontais, equilibradas por um conjunto de volumes retilíneos na vertical, eliminando qualquer decorativismo supérfluo.
Aparece também o projeto de Penna Firme desenvolvendo um conjunto de volumes extremamente movimentado e o de Edgar Viana empregando sacadas com linhas curvas elementos decorativos em relevo, tendendo para o que passou a ser conhecido como arquitetura marajoara, de intenso uso na década de 1930, principalmente no Rio de Janeiro.

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