terça-feira, 29 de setembro de 2009

Vila Boa nos jornais XIX

o jornal Nova Era, de 03 de agosto de 1916, publicou o seguinte

EDITORIAL


O Governo Municipal fez colocar nas praças Moreira Cezar e 1 de dezembro as placas indicadoras da nova denominação que, em virtude da resolução do conselho, lhe foi dada, de Praça Desembargador João Bonifácio, e Praça Senador Pinheiro Machado, a ultima.
Lembramos a proposito, aos illustres edis a conveniência de uma criteriosa revisão da nomenclatura de nossas ruas e praças públicas.
Povo pobre que somos, e privados de recursos faceis em centros de maior adiantamento, não temos sinão este meio de prestar culto aos nossos grandes homens já fallecidos: - o de dar-lhes os nomes veneraveis ás nossas vias urbanas.
É o pagamento de uma dívida de gratidão e é, ao mesmo tempo, um ensinamento. Um nome inscripto em uma placa recordará, para sempre, ás gerações vindouras que o deverão conhecer e venerar.
Em vez de tanto nome ridiculo que há por ahí chrismando ruas e viellas, demos-lhes nomes illustres de patricios mortos.
Já temos as ruas Bartholomeu Bueno, Coronel Santa Cruz, Dr. Corumbá, Mosenhor Azevedo, Felix de Bulhões, Moretti Foggia, e agora a praça Desembargador João Bonifácio, para só citarmos goyanos, em cujo número incluimos o descobridor e aquelle inolvidavel mantuano que aqui passou quasi toda a sua vida, pertransiit benefaciendo.
Quantos ainda há, que a história registra carinhosamente e que podem refulgir ao sol goyano, como exemplos a seguir, em todas as modalidades da vida humana!
Citemos ao acaso, Xavier Curado, Conde de São João das Duas Barras, gloria das armas brasileiras nos primeiros tempos de nossa nacionalidade; Silveira da Motta, o parlamentar ilustre, do segundo reinado; Comendador Joaquim Alves, comandante de Meya Ponte e fundador da imprensa goyana com a Matutina Meyapontense, periódico em que até o governo de Matto Grosso, onde não havia imprensa, fazia publicar os seus actos; o padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, integralisador do nosso território; José do Patrocinio Marques Tocantins, o implantador entre nós, da imprensa moderna, com o Publicador Goyano; o saudoso cônego José Iria, typo acabado do sacerdote catholico, venerado pelo povo; o senador Caiado, franco e decidido pioneiro do liberalismo; o conselheiro Padua Fleury, presidente de várias Provincias, ministro da Agricultura e director da Faculdade de Direito de São Paulo; D. Manoel de Assis Mascarenhas, diplomata e parlamentar; o Dr. Theodoro Rodrigues de Moraes, fallecido em general e que por vezes administrou a Província; o sabio e modesto philologo Mestre Caiado, honra e gloria do magistério goyano; Raymundo Sardinha, fundador do gabinete litterario, a melhor coisa que possuimos depois do Azylo (ambos de iniciativa particular); e outros, tantos outros.
A ocasião é mais que oportuna para se por em prática a ideia que suggerimos. Ruas novas vão se abrindo nos bairros de nossa urbs, com bonitas construcções modernas: demos-lhes nomes de goyanos mortos. No centro poder-se-a fazer uma revisão não só da nomenclatura como da numeração, hoje inteiramente anarchisada.
Deixemos de lado, de uma vez para sempre, as ruas das violas, as ruas ernestinas, as ruas do canivete, os rententens, denominações inexpressivas, que nada significam, e improprias de um povo pobre, mas culto.

domingo, 27 de setembro de 2009

patrimônio destruído II

O patrimônio ferroviário do estado de Goiás é composto por um conjunto de edifícios onde se encontram estações, galpões de depósitos, uma oficina, residências, e uma ponte metálica construída no ano de 1922, sobre o rio Corumbá. Duas outras, uma sobre o Paranaíba e outra sobre o Veríssimo, foram desmontadas e vendidas como sucata, na década de 1980, quando a linha foi desativada.
Entre os edifícios representativos das estações, podemos encontrar uma série de modelos, sendo que alguns deles aparecem reproduzidos em várias localidades. Um desses modelos, repetido em vários pontos de parada nas proximidades de Goiânia, aparece em Bonfinópolis, Mestre Nogueira, Senador Canêdo e Santa Marta, além de outras já desaparecidas como Honestino Guimarães e Senador Paranhos, sendo que o único protegido por lei de tombamento é o de Bonfinópolis, garantido pela legislação municipal.
Relegada ao total abandono, a estação de Santa Marta podia ser vista, em 2005 como aparece na imagem, e totalmente demolida dois anos depois.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

iconografia vilaboense XV

Quartel dos Dragões de Vila Boa

A documentação existente a cerca do Quartel dos Dragões de Vila Boa, demonstra desde a sua origem, na década de 1740, através da compra e adaptação de algumas casas junto ao Largo da Cadeia, até sua conclusão, alcançando a forma com que se apresenta nos dias de hoje, com as últimas grandes obras aí realizadas na segunda metade do século XIX, a preocupação que tiveram os governantes com a manutenção dessa edificação, de vital importância para a capital goiana. Praticamente todos os relatórios de governo elaborados ao longo do século, fazem referência a obras no Quartel, relacionando desenhos e projetos, como também apresentando orçamentos detalhados para as referidas obras.

parte do que hoje é o Quartel, já aparecia em desenho em 1751

A partir de 1858 incorporam-se às preocupações com a conservação do quartel, uma outra, que é a situação precária em que se encontrava a enfermaria militar, edifício de pequenas proporções, contíguo àquele e, pelas suas péssimas qualidades construtivas, apresentavam mais problemas que soluções.
Em relatório da época, Gama Cerqueira diz que, por ordem do Ministério da Guerra, já ordenou ao engenheiro militar a elaboração de um plano e orçamentos para a melhoria do edifício, levantando inclusive a possibilidade de aquisição de algumas casas contíguas para, demolidas, cederem terreno para que melhor possa se estabelecer uma nova enfermaria.
Em relatório datado de 1864, o presidente da Província, Couto de Magalhães informa que estão previstas algumas obras consideradas indispensáveis, para o quartel. Quanto à enfermaria, diz Couto de Magalhães que naquele momento se encontrava sediada na casa pertencente aos herdeiros do Bispo D. Francisco Ferreira de Azevedo, que possuía acomodações suficientes. Informa ainda haver sugerido a compra desse edifício, deixando o terreno contíguo ao quartel, onde está prevista a construção da nova enfermaria, para que se proceda ampliação àquele, insuficiente, como já se informou.
Três anos depois, em 1867, diz Gomes de Siqueira, ao entregar o cargo que, as obras estariam paralisadas por falta de recursos.
De grande valor documental, o projeto elaborado por Ernesto Vallée e redimensionado por Oliveira Lobo torna-se mais enriquecido pelo fato de existir, mesmo que em separado, o relatório do segundo engenheiro justificando e orçando as obras, tanto de reforma do quartel quanto de construção da nova enfermaria.
Temos com isso, a informação da existência de dois projetos para a enfermaria militar, a ser construída no local onde já existia uma outra, que, para tal deveria ser demolida, como realmente foi. É apresentada também a informação da realização de um projeto para a recuperação do quartel, que o engenheiro considera já bastante arruinado e que, qualquer obra aí realizada resultaria em nenhum proveito. No entanto o projeto foi elaborado e, segundo seu autor, acompanhando as características da nova enfermaria militar.
Seria bom observar que, pela descrição das intervenções realizadas no projeto, com o intuito de diminuir os custos da obra e pelas características do desenho existente, o projeto do engenheiro Ernesto Vallée deveria apresentar um melhor padrão arquitetônico. Infelizmente não se conhece o paradeiro desse primeiro desenho.

projeto da Enfermaria em anexa ao Quartel

Aqui, a obra de construção de uma nova enfermaria militar para Vila Boa, anexa ao Quartel dos Dragões, encontra o destino de praticamente todas as grandes obras iniciadas em Goiás, em seus dois primeiros séculos de existência: a paralisação por falta de recursos. É o que também diz Gomes de Siqueira, em 1867 – cinco anos depois –, sobre as mesmas obras militares.
Temos com isso, a descrição dos projetos tanto para ampliação do quartel quanto o de remodelação do já existente para a construção da enfermaria militar. Esse projeto apresenta o quartel praticamente na forma como se encontra hoje, com pequenas alterações. Nele não aparecem as varandas dos corpos laterais, existindo apenas as do corpo frontal e posterior. Aparecem em planta, duas salas para prisão contra o existente atual que é de apenas uma. Algumas divisões internas não correspondem ao atual, o que, no entanto, não compromete a estrutura do edifício. Apesar das informações do engenheiro, de que o estado do edifício era de extrema precariedade, não valendo a pena sua conservação, é muito difícil acreditar, por suas dimensões e monumentalidade, além da constante falta de recursos para as obras, expressos através da documentação existente, que tivesse sido demolido para em seu lugar se construir outro. A reforma teria sido assim, a única saída viável e, pelo que tem resistido até hoje, não foi de má qualidade.
Pelo relatório, o que se depreende é a elaboração de um projeto em que estivessem os dois edifícios elaborados de forma a não se perceber diferenças construtivas ou mesmo de estilo ou caracterização arquitetônica. No entanto, pelo desenho, percebe-se duas coisas completamente diferentes, com o quartel preservando suas características de arquitetura portuguesa colonial, utilizando o beiral encachorrado e a enfermaria, utilizando platibanda, buscando as referências neoclássicas já em uso, principalmente no Rio de Janeiro, de onde veio o engenheiro Oliveira Lobo, desde algumas décadas, com a vinda da Missão Francesa. Apesar de unidos parede-meia, as diferenças de estilo colocam os dois edifícios em situação diametralmente oposta ao proposto, ou mesmo indicado no relatório.
Em planta, a enfermaria apresenta a mesma forma de organização do quartel, desenvolvendo-se em torno de um pátio central, se bem que utilizando apenas três de seus lados, deixando cega a parede que faz divisa com o quartel. Sua organização interna é feita por setores, estando a parte fronteira ocupada pela administração - sala de entrada, arrecadação e farmácia –, a lateral pelas enfermarias – enfermaria de oficiais, de soldados e de inferiores – e a posterior pelos serviços gerais – aposentos de enfermeiros e de serventes, cozinha, depósitos e latrina. No centro um pátio com praticamente a metade das dimensões do pátio do quartel e neste, um poço, também com dimensões inferiores ao daquele.
Em 1873, Oliveira Lobo ainda se manifestava através de relatórios e ofícios contra a morosidade do governo em resolver as questões de liberação de verbas para as obras militares.
A fachada principal, em dois pavimentos, apresenta frontão triangular associado a platibanda, com o brasão do império no centro e aberturas em perfeito equilíbrio, tanto na horizontal quanto na vertical, como bem caracterizavam as edificações neoclássicas à época. Já a fachada lateral, voltada para o beco, não apresenta nada que a identifique com sua época, a não ser o volume do segundo pavimento. No restante é um edifício tradicional com cobertura simples e pequenas janelas, altas, aparentemente gradeadas.

o Quartel com a proposta de ampliação

O quartel apresenta a mesma conformação referenciada no projeto de 1862 acrescido apenas da parte correspondente à residência demolida do lado oposto ao que é ocupado pela enfermaria, que, ou ficou apenas no projeto, ou foi novamente demolida para em seu lugar reedificar residência, que é a forma como se encontra hoje o conjunto.
É possível, inclusive, se perceber hoje, na planta do quartel, sem uso, o espaço que deveria servir de corredor de ligação entre o edifício e a ampliação proposta.
Em 1882, o engenheiro Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, que substituiu Oliveira Lobo na direção das obras militares em Goiás, na tentativa de resolver os problemas de espaço físico para as atividades militares na Província, propõe utilizar os alicerces da enfermaria para ampliação do quartel.
Para tanto, Moraes Jardim organiza e refaz os desenhos do projeto elaborado por Ernesto Vallée e modificado por Oliveira Lobo – basta observar a descrição das modificações feitas no relatório deste último –, o que vem justificar o fato de o projeto da enfermaria apresentar tanto a data de 1883, quanto o nome de Moraes Jardim como organizador. Também a pobreza estética do primeiro – enfermaria redesenhada com data de 1883 – em relação ao segundo – quartel datado de 1874 – explicado no relatório de Oliveira Lobo como decorrente da necessidade de redução de custos da obra.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ângelo Arruda e a arquitetura do Mato Grosso do Sul

Com lançamento marcado para o dia 23 de outubro, o livro A História da Arquitetura de Mato Grosso do Sul: origens e trajetórias (Alvorada, 2009) de Ângelo M. V. Arruda, integra as comemorações dos 30 anos de instalação do estado do Mato Grosso do Sul.
Resultado de uma pesquisa desenvolvida ao longo de vários anos, o livro de Ângelo Arruda busca um aprofundamento do conhecimento, da realidade e da história da arquitetura produzida no estado a partir do estudo da evolução histórica e da identificação de uma série de edifícios existentes nas mais antigas cidades de Mato Grosso do Sul, estando organizado em quatro capítulos:

1 - A CONQUISTA DO TERRITÓRIO
2 - A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO REGIONAL
3 - A ABERTURA DE NOVOS CENÁRIOS
4 - TERRITÓRIO E ARQUITETURA DO ESTADO

Com prefácio é do Prof. Dr. Nestor Goulart Reis Filho, este é mais um trabalho de fôlego na seqüência de publicações como Arquitetura em Campo Grande (Uniderp, 1999) e Campo Grande: arquitetura e urbanismo na década de 30 (Uniderp, 2000), que Arruda vem desenvolvendo sobre a produção urbana e arquitetônica do Mato Grosso do Sul.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cora Coralina no Museu da Língua Portuguesa

O Museu da Língua Portuguesa abrirá no dia 28 de setembro às 19 horas, a exposição Cora Coralina Coração do Brasil, que se estenderá até o dia 13 de dezembro. O evento, que tem o apoio dos governos paulista e goiano e de várias instituições culturais, integra as comemorações relativas aos 120 anos da escritora goiana.
Convém observar que a abertura da exposição havia sido divulgada anteriormente nos jornais com a data errada de 28 de agosto, fazendo com que várias pessoas comparecessem ao local, não conseguindo sequer informação sobre a data correta. Mas, enfim...
Na ocasião será lançado do livro inédito de Cora: Doceira e poeta.

sábado, 12 de setembro de 2009

vamos dar um tempo

durante a próxima semana (13 a 19), as atividades da CasaAbalcoada estarão suspensas, por motivo de força melhor. No dia vinte, voltaremos às anotações normais. LIÚ BLIÚ.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

texto de Edimilson Vieira sobre o déco nordestino


Durante muito tempo, no Brasil, a arquitetura Déco foi vista como uma linha da modernidade, sendo diferenciada do modernismo corbusiano, pelo subtítulo “francês”. Existiam, para as revistas de arquitetura publicadas no país, dois modernismos: o francês (decorado e burguês), e o alemão (limpo de elementos decorativos e com um caráter socialista).
Pois bem, o termo Art Déco, aparece em 1966 e o estilo que recebia esse nome, no Brasil foi, até 1994, pouco referenciado. Era a arquitetura dos grandes monumentos do Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas, aparecendo em edifícios como o Ministério da Guerra e a estação Central do Brasil no Rio de Janeiro, nas agências dos Correios e Telégrafos, escolas públicas e demais edifícios de caráter oficial.
Detalhe da torre e relógio da estação Central do Brasil

Detalhe do edifício do Banespa, na cidade de São Paulo

Mas não só. Também a arquitetura residencial e mesmo comercial apresentou ótimos exemplares construídos dentro desse estilo.
Provavelmente, a ligação do estilo arquitetônico com uma ditadura tenha sido o motivo para que o mesmo fosse deixado à margem nos estudos sobre a arquitetura nacional.
No decorrer da década de 1990, vários estudos começaram a aparecer, tendo o Art Déco como foco, o que levou à realização do I Seminário Internacional Art Déco na América Latina, acontecido na cidade do Rio de Janeiro, em abril de 1996. Vários livros, muitos artigos, retomada de antigas publicações e até o tombamento do centro da cidade de Goiânia, pelo IPHAN, em decorrência do acervo Art Déco aí existente.


Capela do colégio Ateneu Dom Bosco, em Goiânia

Trampolim do Lago das Rosas, em Goiânia


um artigo do artista plástico pernambucano Edmilson Vieira intitulado Flagrantes do Art Déco Nordestino, datado de outubro de 2008, que é uma preciosidade sobre o assunto. Além de alguns poucos artigos já publicados em revistas como AU e Projeto, pouco se sabe sobre o Déco nordestino que, dentro de uma linha universal amplamente conhecida, apresenta suas particularidades e especificidades de criação.

Residência na cidade de Garanhuns, apresentada no artigo

Rádio Jornal de Garanhuns, também apresentada no artigo

Artigo pra se ler e arquivar na pasta dos preferidos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Vila Boa nos jornais XVIII

o jornal Voz do Povo, de 08 de maio de 1931, publicou a seguinte nota:

JARDIM PÚBLICO

A actual administração municipal tem dado mostra de querer melhorar o aspecto da nossa cidade, tapando a buraqueira que por ahí existia e reconstruindo as pontes perigosas que ameaçavam de banho inesperado os desprevenidos transeuntes. Até os respeitaveis bancos de pedra piçarra, onde os nossos avós costumavam, em noites de luar, contar as suas aventuras picarescas, tem merecido a preciosa attenção do Sr. Intendente.
Isso é um bom symptoma, e nesta terra, onde a gente paga imposto porque troca de camisa, porque limpa o nariz, porque toma banho, etc. já é consolo saber-se que o producto dos impostos é applicado em benefícios publicos.
Aproveitando essa boa vontade, lembremos a S. Ex. um passeio de vez em quando pelo nosso único jardim publico afim de verificar pessoalmente pequenos abusos prejudiciaes á administração, e de máo effeito para os estranhos que allí vão passar as noites de calor.
Habitualmente allí ingressam muitos meninos e até rapazotes, descalços e mal trajados, que se divertem em fazer correrias por entre as pessoas presentes, quando não preferem tombar os bancos, saltar os canteiros, impurrar os companheiros por cima dos esguichos e das torneiras, não sendo impossivel que ocorra um desastre motivado por essa estúpida brincadeira. Por causa das taes correrias, as caixas dos registros estão com as tampas quebradas, servindo de armadilha aos distrahidos.
Os compradores de flores, depois de fechados os portões do jardim, fazem a escalada do cercado e adquirem reforçados ramalhetes com que vão ornamentar suas casas; até meninas fazem dessas compras.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Coelho Vaz e os Vultos Catalanos

Como havia sido anunciado, aconteceu hoje, na Fundação Jaime Câmara, a noite de autógrafos do livro Vultos Catalanos, de autoria do escritor Geraldo Coelho Vaz. Publicado em terceira edição, o livro é um documentário da produção literária de escritores nascidos ou que viveram na cidade de Catalão.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Goiânia e a Lar Nacional

A Construtora Lar Nacional S.A., de São Paulo, atuou de forma intensa em Goiânia, no decorrer da década de 1930, construindo uma série de edifícios residenciais no centro da cidade. Das obras coordenadas pelo arquiteto José Amaral Neddermeyer, apresentamos aqui algumas fotos de residências ainda em fase de construção na parte central da cidade. Todas as fotos apresentam no verso a data 17 - 06 - 1936.

Residência já demolida, na esquina da rua 15 com 19

Residência ainda existente na esquina da rua 20 com 22


Construções identificadas apenas como “casas 5 e 6”


Casas 10 e 11

domingo, 6 de setembro de 2009

iconografia vilaboense XIV


Casa de Câmara e Cadeia

Correspondente nacional das “Casas de Concelho” portuguesas, as Casas de Câmara e Cadeia, representaram até princípios do século XX a sede da administração e da justiça, até mesmo nos mais distantes ajuntamentos populacionais do interior brasileiro. Ocupando lugar de destaque na principal praça do núcleo, apresentava geralmente um programa constituído de salas para reuniões, cadeias, salas para o corpo da guarda, capelas e, invariavelmente uma torre para o “sino de correr”, elemento fundamental de identificação desse edifício.

No caso de Vila Boa, o local para construção da Casa de Câmara e Cadeia foi determinado por Luiz de Mascarenhas, o Conde D’Alva, quando da demarcação do espaço para a fundação da Vila em 1739. Em seu lugar existe o registro, em 1751, de uma pequena edificação de apenas um pavimento, acanhado em relação aos demais de seu entorno.
Situa-se na parte mais alta do Largo do Chafariz, atual Praça Dr. Brasil Caiado, em posição privilegiada e de certo impacto à visualização, levando-se em conta o fato de ser esse largo, à época, acessado pela rua da Fundição, estar em posição consideravelmente mais alta, em decorrência da declividade do terreno.
Inaugurada em 1766, o segundo edifício para tal fim, levado a efeito em Vila Boa, passou a representar não só parcela do poder, junto à comunidade mineradora, mas o poder agora escudado na monumentalidade de um edifício de grandes proporções, rivalizando em tamanho, apenas com a Igreja Matriz de Sant’Anna.
Apresenta características que Paulo Tedim Barreto (1997, p. 429) define como sendo um barroco da fase renascentista, desenvolvido sob inspiração clássica, de severa simetria. Tendendo mais para o maneirismo, esse edifício tem sua composição trabalhada com simetria e proporção, onde o uso da taipa-de-pilão contribui no sentido de promover uma certa predominância de cheio sobre vazio, o que contribui ainda mais para a sensação de severidade com que o edifício se apresenta.
O que se pretende, em princípio, com o uso e a impressão, no edifício, de tais características, é a obtenção de uma visualidade que imponha ao espectador o cenário próprio da teatralização do poder.
No geral, algumas particularidades são representativas da própria instituição que o edifício representa, como a separação radical a respeito do que é o espaço da Câmara e o que é destinado à cadeia. No prospecto de 1751, podemos ver claramente, no primitivo edifício, os acessos sendo realizados obedecendo a orientações diferenciadas, quase que em situação diametralmente oposta.
Nesse novo edifício temos ainda o acesso único, realizado por uma porta de dimensões excepcionais, centralizada, com uso de sobreverga reta, situada no eixo de simetria do edifício, alinhada inclusive com a mesma largura da torre sineira, mantendo entre elas, na altura do segundo pavimento, o escudo real, colocado entre as duas janelas do saguão superior.
Como o desenho da fachada é apresentado de forma perspectivada, algumas incorreções gráficas podem acontecer, sendo às vezes identificadas como alterações quando comparadas ao existente no edifício construído. Exemplo disso é a torre sineira, que se apresenta no projeto, bem mais alta do que o existente no local, sugerindo inclusive certa desproporcionalidade em relação ao conjunto do desenho.


No que se refere à planta, o pavimento térreo apresenta duas grandes enxovias, o saguão de entrada com a escada que leva ao segundo pavimento e mais três salas de pequenas dimensões. As enxovias, além de apresentarem todas as janelas com grade dupla, apresentam ainda um revestimento interno feito com pranchas de aroeira, dando mais segurança às já robustas paredes de taipa e pedra.


O pavimento superior se apresenta hoje da mesma forma como se pode ver no projeto original. Sem alterações, tanto no que se refere à distribuição quanto à graficação das paredes indicando o que seria taipa e o que provavelmente seria adobe ou pau-a-pique.

sábado, 5 de setembro de 2009

Coelho Vaz na Fundação Jaime Câmara

No decorrer das últimas décadas, Goiás tem assistido uma crescente preocupação quanto ao registro da produção artística e cultural desenvolvida no estado, envolvendo tanto escritores e artistas locais, quanto aqueles que, por um motivo ou outro, para cá se transferiram, fazendo de Goiás sua base de produção.
José Mendonça Teles publicou (já em segunda edição) o Dicionário do Escritor Goiano (Kelps, 2006), onde, em trabalho de fôlego, registrou, em ordem alfabética, todos aqueles que, nascidos ou não em Goiás, desenvolveram trabalhos literários no estado.
Nas artes plásticas, destaca-se, entre outros, a pesquisa elaborada por Amaury Meneses: Da caverna ao museu: dicionário das artes plásticas em Goiás (Grafopel, 1998).
Dentro dessa linha de trabalho, comemorando cinqüenta anos da publicação de sua primeira edição (Zebu, 1959) e já em terceira edição (Kelps, 2009), temos o livro de Geraldo Coelho Vaz: Vultos Catalanos, que se não foi o primeiro, está, sem dúvida alguma, entre os primeiros a se preocupar com essa forma de registro em Goiás.
Nessa terceira edição, o livro de Coelho Vaz vem acrescido de um capítulo dedicado às efemérides de Catalão e de índice onomástico, o que o enriquece consideravelmente, como fonte de pesquisa sobre a cultura, a história e a vida política da cidade.
Vultos Catalanos teve uma noite de autógrafos, dentro da programação do sesquicentenário da cidade de Catalão, na segunda quinzena de agosto, e tem marcado para o dia 09 de setembro (quarta-feira) às 20h, sua apresentação à população goianiense, no espaço de eventos da Fundação Jaime Câmara.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o futurismo de Sant'Elia

Nascido na cidade de Como (Itália) em 1888, Antonio Sant’Elia foi o principal representante do futurismo – que, de acordo com Pevsner (1981, p. 191), foi um dos “movimentos constituintes da revolução que estabeleceu o século XX, em termos de pensamento estético, na pintura e na arquitetura” –, Sant’Elia desenvolveu interessantes projetos com essa marca de modernidade, além de importantes propostas teóricas e manifestos justificativos de seu trabalho. Infelizmente, esse trabalho foi interrompido prematuramente, com sua morte na primeira guerra mundial, com apenas 26 anos. Dois anos antes, em um texto denominado “A arquitetura futurista”, Sant’Elia afirmava:

Perdemos o sentido do monumental, do pesado do estático, enriquecemos a nossa sensibilidade com o gosto pelo leve, pelo prático, pelo efêmero, pelo veloz. Sentimos que não somos mais os homens das catedrais, dos palácios e dos púlpitos; mas dos grandes hotéis, das estações ferroviárias, das imensas estradas, das portas colossais, dos mercados abertos, das galerias luminosas, das auto-estradas, das demolições saudáveis. (Bernardini, 1980, p. 157)

Com considerável antecedência, expunham-se as preocupações que passariam a comandar os conceitos arquitetônicos das décadas seguintes: a velocidade expressa pela auto-estrada e pela ferrovia, a luminosidade dos mercados abertos e galerias luminosas, a leveza, a praticidade e o efêmero como oposição ao academicismo da arquitetura européia em geral, além das críticas feitas ao art nouveau, por seus excessos decorativos, mesmo sendo esse a base e o caminho aberto para toda a modernidade que o futurismo pregava. E, é bom não esquecer que o Futurismo se constituiu no primeiro movimento de vanguarda a imprimir em todos os aspectos da arte e da arquitetura, uma visão ampla de modernidade, sendo uma das principais bases de apoio ao desenvolvimento do Art Déco.

Um dos desenhos mais conhecidos de Sant’Elia, que ilustra o Manifesto Futurista, apresentando os elementos que caracterizam seu conceito de uma nova cidade.


Um dos edifícios que ilustram a idéia de Cidade Nova, de Sant’Elia

Edifício monumental, também relativo à Cidade Nova

Projeto de um quiosque, onde ainda aparecem resquícios de elementos Nouveau.


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Vila Boa nos jornais XVII

O jornal Voz do Povo, de 28 de novembro de 1930, publicou o seguinte convite:


Convite

Para a harmonia dos interesses de patrões e camaradas e como corollario de sua portaria n 63 – o secretario da segurança convida os patrões a se reunirem ás 10 horas e os camaradas ás 15 horas do dia 7 de dezembro proximo (Domingo), no edifício do Governo Municipal afim de se trocarem idéas sobre:
a) salários minimos;
b) cadernetas de contas;
c) assistencia medica e accidentes no trabalho;
d) outros assumptos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

a grande diversão

Antes da era Shopping Center e das grandes concentrações de bares e restaurantes em zonas específicas da cidade, um dos grandes divertimentos da população goianiense era assistir ao movimento de aeronaves, junto à pista do aeroporto de Goiânia. e essa turma aí, não perdeu tempo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

patrimônio histórico VIII


Casa de Câmara e Cadeia de Vila Boa

Construída em 1761, no reinado de D. José I, a Casa de Câmara e Cadeia de Vila Boa obedeceu a um projeto mandado da Corte especialmente para tal fim. Esse projeto que se encontra atualmente no Arquivo Histórico Ultramarino, tem uma cópia exposta no saguão do Museu das Bandeiras, juntamente com outros painéis explicativos da história não só dessa construção, mas de toda a vila e também da Capitania.

desenho existente no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa

Seguindo padrões já conhecidos, esse edifício é um dos mais imponentes da antiga Vila Boa, além de ser o maior com essa finalidade em toda a Capitania. Encontra-se situado estrategicamente na parte mais alta de uma das principais praças da cidade, o que, associado a suas características construtivas, empresta-lhe uma monumentalidade única.
Também no que se refere à organização interna, a Casa de Câmara e Cadeia segue algumas normas próprias desse tipo de edificação: no pavimento térreo encontra-se a cadeia e no pavimento superior, alcançado através de uma escada de madeira com guarda-corpo de balaústre torneado, estão os amplos salões destinados ã câmara e ao judiciário.

desenho feito pelo naturalista inglês Willian J. Burchell, em 1828

A fachada de elementos marcadamente maneiristas apresenta, na parte inferior, uma porta central de grandes proporções e sobreverga reta, ladeada pelas janelas gradeadas das enxovias. Na parte superior, janelas de balcão entalado, vergas e sobrevergas trabalhadas em linhas retas compõem o conjunto onde há a predominância de cheio sobre o vazio, uma característica dos edifícios construídos em taipa-de-pilão. Marcando o eixo de simetria do edifício, é possível ainda perceber a colocação de uma pequena torre que abriga o sino de correr, elemento indispensável a esse tipo de edifício.
Na década de 1950, as atividades originais foram desativadas e o edifício passou a sediar o Museu das Bandeiras, sofrendo algumas modificações para maior facilidade de acesso para os visitantes. A proteção desse monumento é feita

na esfera federal:
através do processo 345-T-42, com
inscrição 395 no Livro das Belas Artes, às folhas 77,
com data de 3 de maio de 1951;

na esfera estadual:
é protegido pela Lei nº 8.915, de 13 de outubro de 1980