quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vila Boa de Alois Feichtenberger


Em sua produção fotográfica sobre Vila Boa, Alois Feichtenberger registrou situações de grande interesse para a história da cidade, como

a casa de força, que existiu no terreno imediatamente atrás do chafariz da Carioca, quando a produção de energia elétrica que abastecia a cidade era produzida no insipiente Poço do Bispo;

assim como o momento em que a nova igreja de N. S. do Rosário se encontrava em processo de construção, com a torre apenas no arcabouço, visto aqui da parte baixa do largo do Palácio;


ainda desse largo, temos as fotos de numero três, com o coreto ao centro e a igreja de Santa Bárbara ao fundo;


o edifício da Real Fazenda na de número quatro e,



Palácio e igreja da Boa Morte na de numero cinco.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

iconografia vilaboense XVII

Casas da Pólvra de Goyaz

Apesar de ser referência constante nos relatórios de governo da segunda metade do século XIX, não existe qualquer indicação quanto ao momento em que, saindo das dependências do Quartel, essa atividade foi ocupar o edifício que foi sempre conhecido como suas instalações.
Um dos mais antigos documentos relacionados à Casa de Pólvora, é o relatório de Francisco Januário da Gama Cerqueira, que diz que

A casa da polvora é um acanhado edifício situado nos arrabaldes da capital, e que, tendo sido destinado primitivamente para uma pequena capella, não tem senão dous repartimentos, um maior onde está situado a pólvora, e outro menor, que era a sachristia, e serve hoje de quartel para as praças que ali existem destacadas. É de urgente necessidade mandar retelhar, rebocar e caiar todo o edificio.
Em 1872, foi construído, a uma certa distância do edifício, o que os relatórios denominam pequeno quartel, para abrigar o pessoal responsável pelo depósito, com maior segurança, composto de um único cômodo, bem arejado e ventilado, como pode ser visto na documentação iconográfica existente. Teria essa nova construção 30 palmos de frente, 32 de fundo e 20 de altura, utilizando cobertura de telha e paredes de pau-a-pique. As aberturas seriam 3 janelas e duas portas elaboradas em madeira da melhor qualidade. O relatório de Antero Cícero de Assis, de 1873, diz sobre essa nova construção que

Na proximidade do mesmo edifício levantou-se um quartel para os vigias, ou guardas da casa, que apresenta optimo aspecto e contem as accommodações necessárias, obra que era indispensável para prevenir um desastre qualquer n’um grande depósito de pólvora, como é aquelle, e entretanto, até então, os guardas moravão no mesmo edificio e ali fazião fogo e tinhão luz.

Nesse mesmo documento existe a informação de outra obra considerada de fundamental importância nesse edifício. Foi feito na sala menor – anteriormente utilizada como alojamento da guarda –, um cofre subterrâneo, revestido com alvenaria de pedra, para maior segurança, com capacidade para armazenar 500 palmos cúbicos de pólvora.
Sendo um edifício de pequenas dimensões e originalmente utilizado como capela, é possível observar sua organização característica de planta, onde se apresentam algumas particularidades interessantes. A primeira delas é o fato de apresentar contrafortes, como aqueles encontrados na Capela de Santa Bárbara, elemento que, de uso corriqueiro na arquitetura própria do período colonial, teve número reduzidíssimo de exemplares no estado de Goiás. A segunda refere-se mais à maneira como a documentação descreve o edifício, denominando de sacristia o compartimento que a primeira vista seria identificado como capela-mór. Provavelmente o erro tenha sido da descrição feita pelo engenheiro, já que, pelo tamanho do edifício e disposição de seus cômodos, dificilmente a sacristia ficaria nessa posição, sendo mais lógico que ali estivesse a capela-mór, já que nas construções religiosas de menor porte, dispensavam-se o uso de sacristia.
No geral, a presença desse edifício – o menor dos edifícios militares da antiga Vila Boa – nos relatórios de governo do século XIX está ligada diretamente às informações sobre grandes necessidades e pequenos reparos, além da constante falta de recursos para que tais reparos pudessem ser levados a efeito.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

arquitetura da mineração em Goiás

Publicado pela editora Trilhas Urbanas na coleção SALA DE AULA, o livro ARQUITETURA DA MINERAÇÃO EM GOIÁS, já em segunda edição (a primeira foi feita em 1996 pela UCG), apresenta o desenvolvimento da arquitetura produzida no decorrer do século XVIII na então Capitania de Goiás.
Com o objetivo de dar suporte à disciplina de História da Arquitetura, no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Goiás, o livro aborda questões relacionadas ao período histórico, caracterizando a arquitetura oficial, residencial, religiosa e a estruturação do espaço urbano setecentista. Discute ainda as técnicas construtivas utilizadas, os materiais e faz uma relação com a produção arquitetônica de outras regiões.
É uma das poucas publicações sobre o assunto em Goiás e a única voltada para a sala de aula, com um caráter estritamente didático.

domingo, 25 de outubro de 2009

patrimônio histórico X

Estação ferroviária de Catalão

Inaugurada em 18 de novembro de 1912, a estação ferroviária de Catalão passou por várias modificações e reformas até apresentar a atual conformação, com sua fachada dentro dos conceitos do art déco. Forma, juntamente com a central de Goiânia, a de Campinas e a segunda construída em Goiandira, o conjunto de estações com essas características arquitetônicas, no estado de Goiás.

a estação ferroviária de Catalão em fotografia da década de 1920

Seus elementos decorativos se desenvolvem principalmente na platibanda, através de uma composição escalonada na qual o nome da cidade se encontra grafado em relevo. A cobertura da plataforma, diferenciada das demais estações, é elaborada em laje plana de concreto, em oposição às tradicionais coberturas em telha francesa sustentadas por estruturas de madeira e ferro. Convém observar que essas são as características atuais desse edifício, após ter passado por várias modificações. Originalmente existia ali um edifício com características tradicionais e com cobertura em placas de ardósia, como acontece com a estação primitiva de Goiandira.
a estação na década de 1990, com fachada art déco

Como a Estrada de Ferro Goiás desenvolvia sua linha-tronco a partir da estação de Goiandira, fazendo ligação, na cidade de Araguari (MG), com o Triângulo Mineiro e com o estado de São Paulo, a estação de Catalão passou a representar um ramal, ligando essa linha inicial com uma outra, proveniente da cidade de Belo Horizonte. Pressupõe-se que, pelas negociações inicialmente ocorridas no século XIX, essa linha deveria ser a principal.
Construída na parte alta da cidade, essa estação não representou, como em outras localidades, uma barreira ao desenvolvimento urbano, passando a integrar perfeitamente as duas partes da cidade divididas pelos trilhos.
Como é usual nesse tipo de edifício, há, em sua parte fronteira, uma pequena praça, que, no caso específico de Catalão, se resume ao aproveitamento do recuo da estação em relação ao alinhamento dos demais edifícios. Isto faz com que essa praça – outrora local de estacionamento das charretes que transportavam os passageiros para o centro da cidade – se apresente de forma extremamente reduzida.
Hoje já não existem mais os galpões de depósito, nem as casas de funcionários; nos meses iniciais de 2002, foi demolida a construção utilizada como almoxarifado, além dos anexos existentes, para conferir uma melhor visualização e clareza ao edifício. A proteção desse monumento é feita

na esfera municipal:
através do Decreto n° 320, de 18 de junho de 2001.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vila Boa nos jornais XX

o jornal A Imprensa, de 02 de maio de 1914, publicou o seguinte:

AVENIDA BEIRA RIO

Devido a iniciativa do Exmo. Sr. Presidente do Estado e depois de previo acordo com o operoso Intendente Municipal, começaram-se os concertos, que tanto eram precisos, no velho caminho que da ponte do “Manoel Gomes” vai até a “Carioca”.
Sob a competente direcção do Sr. Secretario de Obras Publicas, os trabalhos tem caminhado acceleradamente e em breve as distinctas familias goyanas, terão uma larga e arborizada avenida para passeiar nas tardes calmosas e nas limpidas e suaves noites de maio, o poetico mez do luar e do amor.
É mais um melhoramento que o digno Dr. Olegario H. da Silveira Pinto proporciona aos seus patricios.

sábado, 17 de outubro de 2009

patrimônio abandonado II

Estação ferroviária de Ponte Funda

Ao encerrar as atividades do que restou da antiga Estrada de Ferro Goyaz, a RFFSA iniciou a destruição de uma série de edifícios (estações, galpões e residências de funcionários) e estruturas de apoio à atividade ferroviária no estado que, até aos olhos dos menos entendidos, deveriam ser preservados como parte da memória histórica e econômica da região sudeste de Goiás.

As pontes metálicas sobre os rios Paranaíba e Veríssimo, foram desmontadas e vendidas como sucata, estações, como as de Senador Paranhos, Honestino Guimarães, Tapiocanga e Inajá, foram totalmente demolidas.

No município de Vianópolis, a estação de Ponte Funda estava sendo demolida, quando os funcionários tiveram seu trabalho interrompido pela pronta ação de moradores que conseguiram mobilizar a Câmara dos Vereadores, para, através do tombamento, preservar o que restou do edifício. Das residências de funcionários, restaram as árvores frutíferas dos quintais. Da estação, sobrou a ruína semi-destruída e agora abandonada, já que nenhum projeto de aproveitamento foi elaborado desde então.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Amaury Menezes: 50 anos de pintura

Comemorando os 50 anos de atividade do artista plástico Amaury Menezes, a Universidade Católica de Goiás promoveu, no salão de eventos da “Área 3”, uma exposição retrospectiva, apresentando desenhos, aquarelas e pinturas em acrílico sobre tela, reunindo grande parte da produção do artista, nos últimos cinqüenta anos.



capa do catálogo, elaborado por Laerte Araújo Pereira

Complementa a exposição, um catálogo elaborado por outro artista de peso (Laerte Araújo), apresentando as obras expostas e textos elaborados por pessoas que, ao longo do tempo, acompanharam a carreira do homenageado.



Amaury Menezes ao lado de Elder Rocha Lima

Amaury Menezes, um dos mais respeitados artistas do estado de Goiás, foi, por muito tempo, professor da Escola Goiana de Belas Artes e o primeiro diretor da Escola de Arquitetura da Universidade Católica quando da criação dessa escola junto à estrutura daquela outra. Juntamente com frei Confaloni e D.J. Oliveira, Amaury Menezes foi um dos esteios de desenvolvimento das artes plásticas em Goiás, no que pode ser considerado o momento de maior criatividade artística, na segunda metade do século XX.


Amaury Menezes e o reitor da Universidade Católica de Goiás

Oportuna e justa a homenagem feita pela Universidade Católica aos 50 anos de carreira artística de Amaury Menezes.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ainda Alois Feichtenberger em Vila Boa


Do mesmo arquivo ao qual pertencem as fotos apresentadas anteriormente, Alois Feichtenberger documenta ainda a antiga capital goiana, mostrando alguns de seus principais monumentos:

o Mercado Municipal em sua conformação original, com uma tropa de carga na praça sem calçamento e, destacando ao fundo a igreja Matriz ainda inconclusa;



dois diferentes ângulos do Chafariz da Boa Morte em quase total abandono;


a igreja de N. S. da Boa Morte, atual Museu de Arte Sacra, com janelas envidraçadas e mostrando em seu interior a já desaparecida porta para-vento ;


e a Cruz do Anhanguera com a casa da escritora Cora Coralina ao fundo. São formas diferentes de visão desses monumentos que ainda hoje são expressivas representações de Vila Boa documentados em um momento particularmente sensível para a cidade que, naquele momento perdia a condição de capital para a recém fundada Goiânia.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

iconografia vilabonese XVI

Deposito de Artigos Bélicos

Desde a década de 1840, o Deposito de Artigos Bélicos, sediado em um compartimento impróprio, nas dependências do Quartel do XX comparece como preocupação nos relatórios de governo, que cobravam verbas para sua transferência para local mais adequado. Em 1858 chegou-se a sugerir o aluguel de residências particulares para acomodação do armamento e demais equipamentos militares, sendo que, pelos relatórios da época é possivel observar, não foram encontrados edifícios com acomodações suficientes. Passando posteriormente a utilizar o edifício da antiga Casa de Fundição do Ouro, inaugurada em 1750 e desativada em 1822, o referido depósito deveria, em princípio estar aí em caráter provisório passando, como tempo, a incorporar essa edificação praticamente de forma permanente.





Em seu relatório de 1859, Gama Cerqueira já localiza o Depósito de Artigos Bélicos no edifício, segundo ele denominado casa da fundição, situado na rua do mesmo nome que considerou de espaço suficiente, necessitando apenas de alguns reparos para o que já estava tomando as devidas providências.
Em 1862, Alencastre já informava que

As obras precisas no edifício que serve de depósito dos artigos bélicos forão avaliadas pelo engenheiro Ernesto Vallée em 7:965$432 réis; mas não existindo na secretaria nem planta nem relatório d’esta obra, não podendoPor isso conhecer precisa e detalhadamente o que se tem a fazer, ordenei de novo que o engenheiro Dr. Oliveira Lobo procedesse a um exame em todo o edifício, e levantasse a planta das altrações que são n’elle precisas, dando também o competente relatório, para d’este modo ter lugar os melhoramentos exigidos,

o que já demonstrava a intenção de permanência, não havendo referência a construção ou mesmo transferência para outro edifício, provavelmente pelo fato de ser o edifício da Fundição pertencente ao governo provincial.
No ano seguinte, 1863, Couto de Magalhães reclamava da demora na execução das obras, creditando tal demora à falta de mão-de-obra competente. E, ao passar o governo para João Bonifácio Gomes de Siqueira, em 1864, diz Magalhães em seu relatório que

Está concertada parte d’este edificio, concluídos os novos cômodos que mandei construir nos fundos do mesmo edifício; e forão collocadas prateleiras para ficarem bem accondicionados os objectos alli arrecadados. Falta ainda conclui-se a frente do edificio.

Essa é uma informação importante para se compreender a organização da planta do edifício, pois, se Couto de Magalhães mandou que se construíssem o bloco situado na parte posterior do conjunto, o edifício da Casa da Fundição era representado então apenas pelo bloco ao nível da rua, composto de cinco compartimentos. O que então se construiu, com três cômodos, representa hoje o bloco utilizado como auditório, copa e sanitários, havendo sido uma das salas menores transformada em palco para apresentações. Convém observar no entanto que, em 1867, o encarregado das obras militares, Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim, informava ao presidente da Província, Augusto Ferreira França, que

Esse edifício construído de adobas verdes e em máo tempo na administração do antecessor de V. Ex., o Sr. Dr. Couto de Magalhães, felizmente para mim durante a minha ausência, por ter ido à Corte em deligência do serviçopúblico, estava em meio de reparação, quando V. Ex. assumiu a presidência: foi acabada e ninguém diria que o Estado ainda tivesse de com elle dispender. - As últimas chuvas, porém, causarão-lhe tão grandes estragos que V. Ex. dignou-se de ordenar-me que o mandasse reparar com urgência - foi-me necessário, para cumprir as ordens de V. Ex. , empregar parte da quantia destinada para os reparos da casa da polvora. - Ficarão concluídos no dia 23 do mez passado; mas não asseguro a V. Ex. que sejão os últimos.

Recuperado por Moraes Jardim, o edifício foi por esse oficial considerado a única construcção n’esta Capital, que pela fachada e distribuição de commodos representa um edifício público.
Em 1874 já era solicitada reforma no sentido de se fazer um piso de madeira para todo o edifício, que, segundo o responsável pelo Depósito, evitaria a umidade que tanto arruinava o material aí armazenado. Tal obra só aparecerá em relatório, como concluída, em 1883, quando da passagem de governo, de Theodoro Rodrigues de Moraes para Antonio Gomes Pereira Junior.
Provavelmente, em decorrência da necessidade de um projeto, ou mesmo de orçamento para que tais obras fossem executadas, em 1880, o mesmo engenheiro Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim promoveu o levantamento e organização de desenhos do edifício da antiga Casa de Fundição, agora destinada ao uso definitivo dos artigos bélicos.
Tal levantamento, como pode ser visto em documentação existente no Centro de Documentação do Exército, em Brasília, mostra a fachada do edifício, já apresentando uma platibanda neoclássica apoiada em cimalha, com um frontão triangular central, próprios dos edifícios oficiais do século XIX. O edifício conserva, no entanto o número de aberturas assim como o ritmo, as proporções e o equilíbrio entre cheios e vazios, característicos das construções coloniais. As aberturas - três janelas e uma porta na extremidade direita da fachada - apresentam folhas almofadadas e sobrevergas retas em relevo. A platibanda se encontra apoiada em duas falsas colunas situadas nas extremidades da fachada. Tais colunas apresentam base mais larga e um capitel de linhas retas na junção com a platibanda
A planta do edifício encontra-se - em 1880 - tal como pode ser observada hoje, com mínimas alterações, como a inclusão de um pequeno cômodo na pátio interno - que já não mais existe - e uma parede separando em dois compartimentos o espaço que hoje se conhece como sendo o auditório, composto de platéia e palco. No restante é o mesmo número de salas, com as mesmas dimensões, inclusive com a separação em dois blocos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Alois Feichtenberger em Vila Boa


Do arquivo fotográfico da família do arquiteto José Amaral Neddermeyer, conseguimos algumas fotografias de Vila Boa, feitas pelo fotografo Alois Feichtenberger, no decorrer da década de 1930. Em um primeiro momento, temos um conjunto de fotos que utilizam o rio Vermelho como tema:


sendo as duas primeiras mostrando o ponto em que o córrego Manoel Gomes deságua no rio, próximo à sede da administração municipal;

a terceira, documentando a ponte da Casa de Cora com estrutura completamente diferente do que se pode ver hoje em dia;



e as duas últimas, em que aparece o rio nas proximidades do mercado, com uma ponte rústica que, em décadas passadas foi substituída por outra de concreto, e uma boiada matando a sede nas águas do rio.
Essas são fotos elaboradas por um dos melhores fotógrafos que, nas décadas iniciais do século XX, documentaram a vida e as cidades goianas, em especial a antiga e a nova capital. Grande parte do seu acervo pode ser encontrado hoje no Museu da Imagem e do Som, da AGEPEL.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

patrimônio abandonado I

antigo palacete do Barão do Rio Pardo, na cidade de São Paulo

Com o título de São Paulo Abandonada, o fotógrafo Douglas Nascimento e a historiadora Gláucia Garcia de Carvalho estão desenvolvendo um trabalho de documentação e denuncia na Internet http://saopauloabandonada.com.br/ de um aspecto da cidade de São Paulo pouco visto na mídia e que o poder público pouco tem feito para modificar. São casas, galpões de antigas indústrias, edifícios comerciais e residenciais, palacetes de fins do século XIX e início do XX e fábricas, que, como conseqüência da condição de abandono em que se encontram, correm o risco de desaparecer ou em decorrência de desabamento ou mesmo de demolição.
Trabalho importante que deve receber o total apoio de todos os que se empenham na preservação e defesa do nosso patrimônio construído.

domingo, 11 de outubro de 2009

estação de Goiandira

A primeira estação implantada após a travessia do Rio Paranaíba, foi a de Goyandira, no município de Catalão, e que recebeu este nome em homenagem à filha do engenheiro responsável por sua construção. Sendo a ligação imediata de escoamento dos produtos goianos para o Triângulo Mineiro e Estado de São Paulo, esta estação promoveu o adensamento rápido de seu entorno, com o surgimento de galpões para armazenamento de produtos, além de um comércio de apoio que logo se transformou em um vilarejo que, mesmo não sendo planejado, estabeleceu-se de forma organizada, demonstrando desde o seu início, um certo grau de modernidade em relação aos demais núcleos já existentes no Estado.

Tanto este primeiro como todos os demais edifícios de estação construídos em Goiás, seguem um padrão que Küln (1998, p. 59) considera como canônico, que é a forma retangular disposta com o lado maior paralelo à linha, possuindo ainda a plataforma coberta, sendo o embarque e desembarque de passageiros feitos de um mesmo lado do edifício.
Interessante observar que, em decorrência do local escolhido para implantação da estação, a cidade de Goiandira está atualmente estabelecida voltada para a plataforma de embarque, em oposição à fachada principal da estação, como seria o correto e o que aconteceu em todos os outros núcleos surgidos em decorrência da ferrovia, e, como em todas os outros, é a estação o foco principal de atenção de toda a comunidade. Como não existe referência a mudanças no traçado da linha, em relação ao edifício, fica difícil saber se esta foi uma situação provocada ou se realmente a cidade assim se estabeleceu.

Construída em alvenaria de tijolo, constitui-se na maior estação implantada em Goiás, nesse primeiro período do desenvolvimento ferroviário no Estado. Apresenta a plataforma bem mais baixa do que o encontrado nas demais, além de possuir a cobertura, tanto da plataforma quanto do alpendre da fachada, elaborada em placas de ardósia, material utilizado também na antiga estação de Catalão, posteriormente reformada para implantação das características déco com que se apresenta ainda hoje. Também a planta, se organiza com uma complexidade bem maior, apresentando grande número de compartimentos com acessos pela plataforma de embarque, pelo alpendre principal e pelo salão de espera.
Após a construção deste primeiro edifício, os demais se implantam seguindo padrões estabelecidos, criando grupos que se identificam pela implantação, organização de planta e composição de fachada.

Posteriormente uma segunda estação foi construída na cidade, com características déco, objetivando substituir a primeira que, mesmo não sendo protegida por lei de tombamento, tem sua integridade garantida pela população e pela administração municipal.

sábado, 10 de outubro de 2009

a arte de Selma Parreira

Entre as 290 propostas concorrentes à seleção do edital Arte Patrimônio 2009, a artista goiana Selma Parreira foi selecionada, ficando entre os dez primeiros escolhidos.
Seu trabalho, que será desenvolvido em várias etapas, teve a primeira delas montada e apresentada no último dia 28, na cidade de Goiás, tendo como tema e referência, a já extinta atividade das lavadeiras do rio Vermelho, utilizando para tanto, fotografias antigas, e a memória – através de entrevistas – de várias pessoas da cidade.

convite para o evento Arte Patrimônio

Essa primeira etapa constou da montagem de instalação ao longo do rio Vermelho, utilizando como suporte as pontes e ilhas formadas na parte mais central e de melhor visualização do rio em seu trecho urbano, na cidade de Goiás.

foto de autor não identificado mostrando as lavadeiras no rio Vermelho

Diz a artista que:
Tenho trabalhado o universo das lavadeiras de roupas, visualidades, poética, memória e mitologia desde 2002. uso de várias linguagens para apresentar esse assunto, a instalação, fotografia e agora a intervenção urbana e o vídeo serão também incorporados à produção. Até o mês de fevereiro de 2010 estaremos realizando pesquisas, encontros e ações envolvendo as mulheres lavadeiras de roupas das margens do rio Vermelho na cidade de Goiás. Suas histórias, memórias e relatos serão nossa matéria prima de trabalho.

o trabalho de Selma Parreira junto à ponte da Casa de Cora

A foto da instalação é de Vicente Sampaio.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

patrimônio histórico IX

Chafariz da Boa Morte da cidade de Goiás

Em 1778, foi construído o Chafariz de Cauda da Boa Morte, com a finalidade de dividir o abastecimento de água da cidade com o já existente Chafariz da Carioca, localizado do outro lado do rio. O termo “chafariz de cauda” é usado em virtude do o aqueduto que o abastece se assemelhar a uma enorme cauda, em sua parte posterior, já “Boa Morte” se refere à capela de mesmo nome, pertencente à Confraria dos Homens Pardos que existiu no local onde está hoje implantado o chafariz.

Por muito tempo, também o largo foi conhecido pelo nome da capela.
Construído em alvenaria de pedra, com detalhes em pedra-sabão, o chafariz possui, em seu corpo central, as bicas que forneciam água à população, além de dois tanques laterais e exteriores, dedicados aos animais.
Detalhes importantes em sua decoração são os pináculos que se apresentam com desenhos diferenciados em função da localização no monumento, além de volutas e mais elementos bem ao gosto rococó. Em sua parte superior encontra-se ainda um escudo entalhado em pedra-sabão, onde se pode ler:

MANDADA FAZER PELA CÂMARA DESTA VILA, SENDO GOVERNADOR E CAPITÃO GENERAL O ILUSTRÍSSIMO JOSÉ DE ALMEIDA VASCONCELOS SOVERAL E CARVALHO E OVD. GERAL O DESEMBARGADOR ANTONIO JOSÉ DE ALMEIDA. ANO DE 1778.

A estrutura geral do chafariz é organizada no sentido de criar um grande pátio de formato hexagonal irregular, circundado por bancos de pedras, com o objetivo provável de proporcionar conforto aos usuários das bicas. A proteção desse monumento é feita
na esfera federal:
através do processo 345-T-42, com
inscrição 393 no Livro das Belas Artes, às folhas 77,
com data de 3 de maio de 1951;
na esfera estadual:
é protegido pela Lei nº 8.915, de 13 de outubro de 1980.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

um novo ângulo

No decorrer da primeira metade do século XX, repetindo o acontecido no século anterior com os viajantes europeus, vários fotógrafos passaram pela antiga capital de Goiás, deixando preciosos registros de seus trabalhos.
Um desses fotógrafos, Alois Feichtenberger, conseguiu um ângulo inédito da casa abalcoada, registrando o bloco original do edifício, antes dos acréscimos que quase dobraram seu volume construido.
Essa foto pertence ao arquivo da família do arquiteto José Amaral Neddermeyer.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cora Coralina: doceira e poeta

Na abertura da exposição sobre Cora Coralina, no Museu da Língua Portuguesa, como já foi aqui anunciado, foi feito o lançamento do livro Cora Coralina: doceira e poeta (Global, 2009).
Organizado a partir das receitas utilizadas por Cora Coralina, o livro apresenta farta ilustração, com fotos da cidade de Goiás e mesmo com a reprodução das folhas do caderno da doceira poeta. Vale a pena conferir.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mercedes Sosa

foto: Express


Morreu Mercedes
calou-se o canto
calou-se o encanto
calou-se a voz.
Morreu Mercedes
luz da esperança
canção que brilha
por todos nós.
Morreu Mercedes
calou-se o canto
calou-se o encanto
calou-se a voz.
Morreu...

domingo, 4 de outubro de 2009

Chácara do Moinho em Vila Boa


Entre os documentos existentes no Arquivo Histórico do Estado de Goiás, pode-se encontrar um que fala sobre a questão das chácaras que, no final do século XVIII, já no governo de Cunha Menezes, representavam um entrave ao desenvolvimento da vila capital. O documento fala em especial da Chácara do Moinho, situada à época no local onde hoje se encontra a Chácara do Bispo, na região norte de Vila Boa.
Diz o documento:

O escrivão da câmara passa por certidão.................... o teor do requerimento que fez o procurador deste senado a mando dos oficiais da câmara na vereança de 12 de junho do presente ano.
Vila Boa em câmara 22 de julho de 1779.
Oliveira Bueno Ribeiro

Joaquim Manoel de Passos, escrivão da câmara por provisão trienal do Ilmo. Exmo. Sr. Luiz da Cunha Menezes Gov. & Cap. General desta Capitania.

Certifico, e posto por fé que revendo o livro que atualmente serve de se escrever os termos de vereança nesta Câmara, dele consta a folhas 140 verso, o termo de vereança feito em 12 de junho do presente ano, no qual se acha lançado o requerimento do procurador atual deste senado Luiz Antonio Ribeiro, a mandato dos oficiais da câmara, dos quais o seu teor e forma é o seguinte:

Como também requereu o procurador deste senado que fazendo-se populosa essa câmara em vários arraiais, mandou Sua Majestade criar uma Vila que é a que atualmente existe, dando-lhe patrimônio de quatro léguas de terra em quadra para logradouro, para os moradores fazerem casas, delineando-lhe o prospecto e recomendando-lhe a sua formosura nas ruas e nos edifícios. Demarcou-se a dita, e posto o pelourinho se assentou que o logradouro fosse de ¼ de légua, em cujo âmbito ficaram compreendidas várias chácaras, que fizeram os primeiros povoadores não tendo mais títulos que as posses naturais, de que se valeram para suas construções, sendo uma delas intitulada do Moinho, em que se fez casas e cercas de pedra, passando assim para Antonio da Costa de Oliveira, que pediu a esta câmara a retificação da posse, e concessão de cento e tantas braças, o que assim aconteceu. Porem com a reserva de não impedir as ruas, becos e servidões públicas. Não tratou este impetrante de cercar as terras concedidas e só conservou as que se achavam com muros de pedra, deixando a mais terra inculta e sem benefício, e desta forma fez delas venda a Domingos ........ Neves, e por sua morte passaram a Antonio Teixeira Pinto, como seu testamenteiro ou a seus filhos por legado. Sem obstáculo se conservou o dito Teixeira na posse das referidas terras e chácara até que crescendo os moradores e sendo preciso abrir-se mais uma rua para formosura da Vila em o ano de 1775 mandou a câmara abrir a qual da ponte da Cambaúba por detrás da Capela de N. S. do Rosário para a de Santa Bárbara, cuja rua entrou pelas terras, que estavam incultas, e fora dos muros da chácara, sem que o dito Teixeira se opusesse e protestasse pela posse e domínio das mesmas. Aberta a rua não faltaram pretendentes, que requereram terras para casas, que se lhes concederam, e não se aproveitaram dos títulos em razão da oposição forte, que fez o dito Teixeira. Na cauza de força que intentou contra João Antonio Botelho, que foi o primeiro em tomar posse das que se lhe conferiram, enquanto os mais no justo receio de não quererem ter demandas, e ficarem sem efeito aquelas concessões. Por este modo se acha a intenção do soberano sem efeito, e a câmara sem a regalia e supressa por não poder conferir terras a quem faça casas, quando é certo que contra a republica não há posse nem título quando se interessa o bem público, ainda quando naquela concessão houve reserva, que totalmente a desvanece. Nem parece se deva consentir, que hajam pessoas que estejam possuindo terras para poder vender e façam monopólio, como praticou o dito Teixeira, Ana da Costa Lobo, viúva de Domingos da Costa Vaz e de Manoel José Guimarães, recebendo utilidade de uma concessão graciosa de terras, que lhe foram dadas para as aproveitar, e ter com benefício, como se acham outras nessa Vila. o que é contra a intenção do soberano e regalia desta câmara, e provimento .................... passada na forma quando o Ilmo. Exmo. General nas instruções que remeteu ao desembargador e corregedor da Comarca. Também se faz preciso socorrer aos socavões e buracos, que se acham no largo da Capela da Irmandade da Boa Morte, que fizeram os moradores para levantar taipa nas casas, e muros que fazem frente a rua que vai para a cadeia, e como se não impediram em tempo, parece se lhe deve dar a precisa providencia para se continuar no aterro do passeio público. Igualmente parece se deve desmanchar um alto escombro que se acha no beco detrás da matriz que vai desembocar na Rua Direita do Jogo da Bola devendo ficar com rua para comodidade pública, sendo obrigados os moradores ou donos das casas alevantar ou rebaixar seus portões conforme a altura em que ficar a mesma, e de consertarem as suas testadas. E sendo ouvidos por todos este requerimento, se achou não só ser justo, mas que de necessário se devia aplicar o remédio por evitar a fraude com que se estavam vendendo terras em prejuízo das regalias desta câmara e suscitando infinitas demandas, causa por que não havia quem quisesse edificar casas principalmente pela parte do Rosário sendo o melhor acento que por fora há contíguo a essa Vila para o dito efeito. E mandaram que o mesmo procurador aconselhando-se com os melhores letrados obrigasse a Antonio Teixeira Pinto a desistir da chamada posse a que se quer tramar pela ação que for mais competente. E que todas as despesas, que fizer a esse respeito lhe serão satisfeitas pelos bens do conselho em razão de ser para benefício público e conservar a autoridade desta câmara que por esse modo se acha suprimida e diminuída e que em quanto ao mais na vereança seguinte se definiria passa o referido na verdade como consta do termo deste livro e folha citados a que me reporto em fé do que passei a presente em observância do mandato dos oficiais da câmara posto no alto desta Vila Boa de Goiás, vinte e quatro de julho de mil setecentos e setenta e nove.
Joaquim Manoel Passos, escrivão da câmara.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Estrada de Ferro Goyaz: detalhes construtivos


Em decorrência do período em que foram construídas, as estações ferroviárias implantadas no Sudeste goiano representam a modernização tecnológica da arquitetura no Estado, tirando Goiás da dormência técnica em que se encontrava, nivelando sua arquitetura com o que já era encontrado em outras regiões desde finais do século XIX. A arquitetura conhecida em Goiás, das décadas iniciais do século XVIII até esse momento,

não apresenta praticamente qualquer sinal de alteração, quer com relação ao programa, quer com relação às técnicas e à seleção de materiais construtivos utilizados. São praticamente duzentos anos de uma produção arquitetônica em que, além do uso dos mesmos materiais e técnicas, é repetido à exaustão um programa conhecido não só em Goiás, mas em praticamente todo o Brasil colonial (Coelho, 1998, p. 51).

Assim, o uso da alvenaria de tijolo em substituição ao adobe, taipa e pau-a-pique, a telha francesa, em oposição à capa-e-bica, o cimento queimado e o ladrilho hidráulico no piso e estruturas metálicas para sustentação de coberturas, em substituição à madeira, passam a ser vistos como a representação máxima da modernidade que, em muito pouco tempo, passam a determinar alterações profundas na arquitetura residencial e comercial do Estado.
piso em ladrilho hidráulico na estação de Anápolis

Convém observar que essa modernidade, mesmo enaltecida por sua importância, no sentido de levar Goiás a um patamar de igualdade com outras regiões do país, não significou a implantação de edifícios elaborados com a sofisticação encontrada em localidades como Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo ou Minas Gerais. São edifícios que, apesar de modificarem por completo os conceitos construtivos no território goiano, não alcançam o grau de complexidade de estações como aquelas encontradas tanto na capital quanto no interior dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, ou mesmo a de Araguari, última construída antes da linha cruzar o Paranaíba.

estrura de cobertura na estação de Bonfinópolis



pilar metálico na estação de Silvânia

A maior parte das estações goianas apresenta, como é o caso das de Caraíba e Ipameri, parte da cobertura da plataforma independente da do restante do edifício e sustentada por estruturas de ferro parafusadas em pilaretes de alvenaria. Algumas, como as de Bonfinópolis, Mestre Nogueira, Urutaí e Três Ranchos, já se estruturam de forma diferenciada, apresentando a cobertura da plataforma como uma extensão da do corpo principal do edifício, sustentada por estruturas de madeira do tipo mão francesa, de grandes dimensões, criando, no entanto uma sensação de leveza incompatível com seu volume.



bilheteria da estação central de Goiânia


bilheteria da estação de Anápolis

Com relação aos elementos decorativos, a maioria dos edifícios implantados pela ferrovia, tanto as estações como as residências de funcionários, apresentam escadas, contornos de portas e janelas, esquadrias, quadros de avisos e bilheterias caracterizados dentro dos conceitos próprios do ecletismo, estilo arquitetônico em uso à época, em praticamente todo o país.